Mulheres e Deep Techs: Construindo um futuro melhor e mais inovador

28/3/24
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Publicado por 
Redação Start

Por Ana Calçado, CEO e presidente da Wylinka

Foto: Unsplash
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Apesar de acreditar que esse tema não deva ser limitado apenas a essa data, o Dia Internacional da Mulher, que aconteceu no último dia 08 de março, é uma oportunidade para refletirmos sobre a presença feminina nos mais diversos âmbitos da sociedade, inclusive no empreendedorismo. Sabemos que a desigualdade de gênero torna a jornada empreendedora mais difícil, a começar na mesa de investimento, com divergência na abordagem e perguntas que acabam influenciando o financiamento.

Mesmo com as dificuldades, felizmente, podemos observar uma crescente no número de empreendimentos femininos. O Global Gender Gap Report 2022, ranking de igualdade de gênero publicado pelo Fórum Econômico Mundial, apontou que os negócios liderados por mulheres cresceram 41%, enquanto os geridos por homens aumentaram 22%. Apesar desse dado positivo, quando entramos no ecossistema das deep techs, com suas inovações e tecnologias complexas, nos deparamos com um cenário ainda mais desafiador, graças à predominância masculina nesse ambiente e aos vieses enraizados que se perpetuam no segmento.

Na minha perspectiva, não apenas como mulher, mas também como empreendedora, é frustrante observar a persistência dessa desigualdade, especialmente em cargos de liderança, mesmo quando existem evidências que apontam os benefícios de ter a presença feminina nesses ambientes e ocupando tais posições. Um estudo da Boston Consulting Group (BCG), por exemplo, indicou que as mulheres performam melhor, tendo em vista que, para cada dólar de investimento arrecadado, startups lideradas por mulheres geraram 78 centavos de receita, enquanto startups lideradas por homens geraram apenas 31 centavos. Ou seja, mesmo com menores valores investidos, conseguimos trazer melhores resultados, ressaltando a urgência de superar as barreiras que perpetuam a desigualdade de gênero.

Além disso, outro ponto que entendo como positivo, especialmente quando falamos de deep techs, que buscam causar impacto social, é que as mulheres são menos motivadas pelo retorno financeiro. Uma pesquisa feita pela Illuminate Ventures, mostra que 15% dos empreendedores do gênero masculino são motivados a iniciar empresas visando ganhos financeiros, em comparação com apenas 2% das empreendedoras do gênero feminino. Isso demonstra que as mulheres costumam levar mais em conta o propósito do negócio e crescer gradativamente.

Muitas mulheres têm desempenhado papéis importantes como empreendedoras e líderes na indústria da tecnologia e inovação, e mesmo com empecilhos, já provaram suas capacidades. Aliado a isso, outro dado relevante nesse cenário é que, de acordo com o BCG, a promoção da igualdade de gênero em altos cargos executivos poderia aumentar o PIB global entre US$ 2,5 trilhões e US$ 5 trilhões.

Contar com mulheres em posições de liderança traz inúmeros benefícios, mas afinal, como podemos incentivar essa presença? A meu ver, uma das principais formas para promover isso e romper o ciclo de desigualdade de gênero é por meio da educação superior.  Isso porque ações específicas nesse contexto são capazes de fortalecer a carreira dessas mulheres, garantindo liberdade financeira e em outros aspectos, e também transformando-as em grandes líderes. Porém, para que isso se concretize, é necessário incentivo das instituições e de outros atores ao redor, dispostos a solucionar o problema.

Por fim, hoje, ocupando uma posição de liderança, compreendo o papel que temos no estímulo da presença de mais mulheres no campo na inovação, principalmente em cargos de destaque, predominantemente ocupados por homens. Entendo também que temos a responsabilidade de reconhecer e incentivar iniciativas de investimento direcionadas às deep techs lideradas por mulheres. Assim, por meio dessas ações, podemos criar um ambiente equilibrado e também garantir que os talentos femininos sejam devidamente reconhecidos, contribuindo para um futuro mais inclusivo e diversificado na área da tecnologia e inovação.

*Ana Calçado é CEO e presidente da Wylinka, organização sem fins lucrativos que transforma o conhecimento científico em soluções e negócios que melhoram o dia a dia das pessoas e fomentam o desenvolvimento econômico, social e sustentável do Brasil. Pós graduada em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, com estudos de pós graduação em Inovação pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT – professional education), mestre em Ciências de Alimentos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduada em Bioquímica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ana também é doutoranda pela USP em Administração e pesquisadora em Inovação e Gestão Tecnológica.

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