Carnaval sustentável: instituições públicas, empresas privadas e foliões estão cada vez mais preocupados com o meio ambiente

9/2/24
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Publicado por 
Redação Start

Conheça ações que têm direcionado seus esforços para manter a folia mais sustentável

Foto: Unsplash
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Está chegando uma das épocas mais festivas brasileiras, o Carnaval, quando acontecem inúmeras celebrações espalhadas pelas cidades do país, entre blocos de rua e apresentações das escolas de samba nas avenidas. Apesar de ser um período festivo e animado para muitas pessoas, para o meio ambiente, não é tão amigável assim, visto que é um período onde há um descarte excessivo de resíduos nas ruas e o uso de produtos altamente poluentes.

Apesar dessa realidade, diversas empresas privadas e instituições públicas passaram a desenvolver soluções de resolução para esse gargalo. Mesmo sendo uma ação ainda tímida para boa parte dos foliões, muitos têm buscado se adaptar a essa alternativa sustentável de se divertir, sem agredir o meio ambiente.

Nesse sentido, a equipe da redação Start conversou com quem entende do assunto e busca desenvolver essas soluções, por meio de ações inovadoras. Esse é o caso da Pura Bioglitter, empresa responsável por desenvolver uma purpurina biodegradável, a partir de agar, uma gelatina vegetal, mica moída, um mineral brilhoso, corante alimentício e água.

A empresa surgiu quando a fundadora, Francês Sansão, soube do impacto dos microplásticos do glitter comum. Luciana Duarte, sócia-diretora da empresa, compartilha que a partir desse momento, a empreendedora decidiu que não poderia mais colaborar com essa contaminação, mas também não poderia abrir mão do brilho. Sendo assim, ela passou a testar várias receitas até chegar na composição atual. Ela explica que a purpurina não passa de microplásticos altamente poluentes, que acabam chegando ao meio ambiente e demorando milhares de anos para se decompor.

“Os microplásticos vão parar nos rios e mares porque, em virtude do tamanho reduzido, não são filtrados pelas estações de tratamento. Existem dados, pesquisas e reportagens de confiança que geram esse tipo de conteúdo, apresentando os níveis de poluentes desses resíduos. Os animais aquáticos comem e nós, comendo eles, também ingerimos plásticos”, comenta Luciana.

Ela acrescenta ainda que é notável que o consumo e a busca por soluções, serviços e produtos preocupados com o meio ambiente vem aumentando a cada ano e, como consequência, as vendas acabam aumentando também.

Jorge Tonnera, biólogo especialista em gestão ambiental, compartilha que o Carnaval é uma festa de caráter público, sendo assim resíduos gerados são classificados como lixo público, no entanto, os organizadores de eventos em tais espaços têm responsabilidade em relação aos resíduos gerados, assim como eles, os fabricantes de produtos. Nesse contexto, não somente o poder público mas os responsáveis pela iniciativa privada têm a missão de agregar projetos e parcerias que envolvem o gerenciamento de resíduos. 

Segundo ele, no Carnaval são gerados resíduos recicláveis, resíduos orgânicos, além de rejeitos. Essa última categoria se refere aos resíduos que tecnicamente ou economicamente são inviáveis de serem aproveitados. É nesse momento que a coleta de lixo deve ter mais atenção, para gerenciar de forma adequada cada tipo de resíduo, desde a coleta, transporte, transbordo, manejo, tratamento e destinação, e disposição final no caso dos rejeitos. 

“Nesse sentido os festejos e blocos podem engajar os foliões, já que estão interagindo diretamente com seu próprio público. Lembrando que a educação ambiental não é algo pontual, mas uma ação contínua. Além disso, as pessoas precisam saber que há toda uma cadeia de sustentabilidade envolvida na festa. A festa do Carnaval também pode ser uma festa inclusiva no sentido de envolver a economia solidária. Em termos operacionais, as lixeiras e banheiros precisam estar sempre adequados ao trânsito e mobilidade de brincantes com uma logística que privilegie um tratamento correto”, enfatiza Jorge.

Vinícius Andrietta, biólogo marinho, afirma que o descarte impróprio de resíduos durante o Carnaval, como purpurina e confetes tradicionais, podem se decompor em microplásticos, causando poluição em ecossistemas aquáticos e terrestres. Ele destaca que o acúmulo de plásticos nas ruas contribui para a poluição impactando negativamente a estética urbana e a qualidade dos ambientes naturais. Além disso, o famoso 'xixi na rua', algo que acontece com frequência nesse período, causa preocupações sanitárias, uma vez que contribui para a contaminação do solo e da água, representando riscos à saúde pública.

Outro fator preocupante que o excesso de resíduos orgânicos traz para o meio ambiente é uma possível sobrecarga aos sistemas de saneamento, prejudicando a qualidade da água.

Em termos práticos, a obstrução de sistemas de drenagem por resíduos sólidos, como plásticos, pode resultar em inundações, impactando negativamente a infraestrutura urbana. Assim, a gestão inadequada dos resíduos durante o Carnaval tem implicações ambientais, sociais e de saúde que vão além da simples aparência suja nas ruas.

“Um dos piores resíduos encontrados no Carnaval ao chegar aos mares são os microplásticos, pois eles se acumulam na cadeia trófica. Por exemplo, os seres da base da cadeia alimentar consomem uma quantidade X de microplásticos presentes no meio ambiente (por meio de filtração, por exemplo). Posteriormente esse ser será consumido por um predador que vai acumular estes mesmos resíduos, e assim por diante, resultando numa acumulação gigantesca desse material nos indivíduos no topo da cadeia alimentar”, compartilha Vinícius.

Ele aponta que o lixo gerado durante o Carnaval pode persistir no meio ambiente por períodos muito extensos, dependendo do tipo de resíduo. Por esse motivo, a escolha inadequada de materiais e o descarte impróprio podem prolongar os efeitos negativos do Carnaval no meio ambiente, e o manejo consciente e a promoção da reciclagem são cruciais para minimizar esses impactos.

“Em bioeconomia circular trabalhamos a ideia de criar biopolímeros por meio de cascas de frutas ou algas, por exemplo. No entanto, não basta ter um produto melhor no sentido de como foi produzido, mas ainda assim precisa ter a devida destinação final, que nesse caso podem ser compostados ou passar por processo de biometanização para geração de gás. Da mesma forma não basta encaminhar para reciclagem uma determinada embalagem. A distância de onde esse produto será efetivamente reciclado pode inviabilizar o benefício ambiental, além de diminuir o benefício econômico e social da cadeia da reciclagem de uma determinada cidade”, conclui Jorge.

Foi pensando nesses níveis de poluentes e soluções para transformar esse cenário que a startup baiana SOLOS, em parceria com a Ambev, irá movimentar mais de R$800 mil em reciclagem no Carnaval da Bahia. Em um release divulgado pela equipe da startup, haverá uma força-tarefa que conta com oito centros de reciclagem durante os dias de evento na capital baiana. Nos pontos de coleta, os catadores poderão entregar os resíduos coletados, fazer a pesagem do material e receber o pagamento pelos resíduos retirados das ruas durante esse período.

“Esses números são impressionantes e revelam como a economia criativa pode impulsionar a economia circular. Fruto do trabalho consistente que temos feito há alguns anos e sempre em conjunto com as cooperativas, temos já visto resultados que transpõem o Carnaval e trazem maior profissionalização para o mercado e os catadores”, finaliza Saville Alves, sócia-fundadora da startup SOLOS. 

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