O poder da mídia para a visibilidade cultural e gastronômica de regiões brasileiras

6/2/24
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Publicado por 
Redação Start

Com base na participação de nortistas em programas de televisão, é possível observar a importância da representatividade e discussões sobre a valorização da diversidade cultural

Foto: @maurojorgefotografia - @isabellenogueira | Foto: Pablo Albarenga - @leomodestoz5
Foto: @maurojorgefotografia - @isabellenogueira | Foto: Pablo Albarenga - @leomodestoz5

As mídias têm desempenhado um papel fundamental na disseminação de informação e conhecimento há anos. Os manuscritos informativos, por exemplo, existem há pelo menos 500 anos depois de Cristo, o que representa a necessidade que o ser humano tem de se comunicar e perpetuar informações para os demais. Já a televisão, considerada um meio de comunicação mais recente, é uma das responsáveis pela democratização da informação, assim como a internet que tem estado presente no dia a dia das pessoas há quase trinta anos.

No cenário cultural, as mídias são uma forma de comunicar à sociedade elementos que fazem parte da formação cultural de regiões que não conhecemos, trazendo além de informações, despertando curiosidade e interesse em coisas que até então não conhecíamos. Além disso, a mídia tem o poder de dar visibilidade a questões importantes para a sociedade. 

Como exemplo, podemos falar sobre o programa de televisão Big Brother Brasil, que há alguns anos vem abrindo espaço para discussões sobre xenofobia, diversidade cultural, intolerancia religiosa, misoginia e outros diversos temas sociológicos. Além do reality show, podemos citar os programas de culinária produzidos pelas emissoras brasileiras, que abrem espaço para que chefs de cozinha possam, por meio de pratos especiais, demonstrar suas raízes culturais.

Nas últimas semanas, a participante do reality show BBB, Isabelle Nogueira, que é natural da cidade de Manaus, tem despertado curiosidade a respeito da sua profissão e modo de vida, que é ser dançarina e cunhã-poranga do Boi Garantido, algo que representa a identidade cultural do Estado do Amazonas. Em um conteúdo publicado pela revista Cenarium, a presença de uma pessoa do Amazonas em um programa de televisão é aspecto que traz representatividade aos povos indígenas do Norte, já que a própria participante sempre foi muito engajada em questões culturais da região.

Em entrevista, a educadora e amiga de Isabelle, Djane Senna, afirma que a participação dela no programa tem sido uma experiência espetacular e que a forma de interação com o público nas redes sociais da participante é baseada em usar as mesmas figuras de linguagem, o “amazonês”, para interagir com a torcida, além de usar fotos e vídeos de apresentações da Isabelle na arena do bumbódromo em Parintins.

“A participação da Isabelle no BBB reacendeu a chama bovina antes mesmo da temporada ser oficialmente iniciada, o que costuma ocorrer no mês de março. No primeiro ensaio da batucada do Boi Garantido no último 20 de janeiro, o público compareceu em peso”, comenta Djane. 

Ela afirma ainda que, além da visibilidade, o setor turístico tem estado a todo vapor para a 57° edição do festival, que acontecerá entre os dias 28, 29 e 30 de junho de 2024. Segundo Djane, no último final de semana, os eventos bovinos também tiveram lotação máxima, e a procura por ingressos e hospedagem em Parintins estão a todo vapor. 

“Alguns locais já anunciam lotação máxima. Acreditamos que tudo isso vai deixar nossa Isa muito feliz, porque a divulgação do Festival sempre foi algo que ela fez com muito amor e dedicação. A prova disso foi que o Ministério do Turismo e o Governo do Estado têm feito recortes do programa com as falas da Isabelle para divulgar suas ações de marketing voltadas para o turismo no Amazonas, temos acompanhado os compartilhamentos e números de likes e a forma como o público tem recebido esse tipo de conteúdo”, aponta Djane.

Djane compartilha que, para o trabalho de assessoria e divulgação de conteúdos relacionados à participante, são necessários um total de 35 pessoas. Ela afirma que a equipe se mostra engajada para realizar essa interação, fazendo recortes das lendas amazônicas que ela orgulhosamente conta na TV, das gírias utilizadas e sempre linkando isso com os momentos apresentados na arena. 

“Recentemente, começamos a usar imagens do Boi Caprichoso também, pois a Isabelle hoje representa as duas nações, como ela mesma falou: “É meu povo”. Inclusive muitas empresas daqui vendem com entrega para todo Brasil e muitos comerciantes compram para revender. A medicina da floresta é algo que nós amazonenses usamos bastante, e a Isabelle com certeza ainda irá falar muito disso, porque além de usar, o próprio Boi Garantido usa muito essa figura típica regional”, finaliza Djane.

Gastronomia e ancestralidade

Foto: Jeff Cardoso

Do ponto de vista gastronômico, a equipe da redação Start conversou com o ex-participante do programa Mestre do Sabor, Léo Modesto, que esteve presente na edição de 2021 do programa exibido pela rede Globo. Léo, que é natural do Pará, afirma que sempre buscou fazer a sua identidade na cozinha por meio da sua própria vivência, fazendo releituras de pratos com técnicas da cozinha sofisticada com a ancestralidade regional, que tem como base a cultura indígena.

Como um dos pratos apresentados no programa, Léo destaca a poqueca, técnica de origem indígena, cujo nome deriva de moquém, assado envolto em folha e feito sobre a brasa. A partir disso, Léo passou a investir em pratos que tivessem como base alimentos comuns das comunidades indígenas do norte do país, como taioba, tucupi e mandioca. Além do programa, Léo foi participante de diversos concursos de gastronomia, sempre exaltando a culinária de raiz amazônica, com elementos não só da cozinha paraense, mas abrangendo a culinária de todos os estados da região norte.

“Consegui passar um pouco dessa cozinha de raiz amazônica, da minha identidade. Não só da minha identidade de povo, mas da minha ancestralidade. Digo que a mídia veio dar essa visibilidade para essa cultura alimentar que vai muito além da tradicional cozinha. Eu vejo que a minha participação, não só minha, mas de todos os paraenses e nortistas que já participaram de programas de culinária, trazem uma visibilidade e uma valorização da nossa região, abrindo espaço para que os estereótipos sejam quebrados”, compartilha.

Segundo ele, os programas de televisão são uma oportunidade para mostrar para todo o Brasil a verdadeira identidade das regiões, seja ela Norte, Nordeste, Sul, Sudeste ou Centro-Oeste, cada uma com a sua própria identidade e valorizando elementos que fazem parte da construção cultural brasileira. Léo compartilha ainda que essa valorização cultural por meio da gastronomia já é um trabalho que vem sendo desenvolvido há muito tempo, por meio de chefs renomados, como o chef Paulo Martins, cozinheiro e arquiteto brasileiro, natural de Belém/PA, considerado um dos responsáveis, junto com os chefs franceses Claude Troisgros e Laurent Suaudeau, e o brasileiro Alex Atala, pelo movimento de valorização da cozinha brasileira.

“Vejo que qualquer pessoa que participe de qualquer programa traz essa visibilidade para os seus respectivos Estados, para as suas cidades e regiões. Eu vejo que agora cada vez mais as pessoas, além do estado, estão explorando outros municípios, outros territórios. Não é à toa que hoje, por exemplo, o Marajó e Santarém são um dos destinos mais buscados da região, a nível nacional, porque representa um pouco da identidade do que é ser paraense e do que é ser nortista”, reflete Léo.

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