O poder de compra dos brasileiros diminuiu?

19/2/24
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Publicado por 
Redação Start

Especialistas apontam as razões que influenciam na diminuição do poder de compra em comparação há algumas décadas

Foto: Unsplash
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Se formos pensar em consumo e poder de compra e compararmos com o cenário de aproximadamente 30 anos atrás, podemos observar que os nossos pais e avós, apesar das dificuldades comuns, tinham muito mais liberdade financeira quando o assunto é consumo nos mercados ou até mesmo a compra de imóvel. Esse cenário, apesar de parecer hipotético, é uma realidade que atinge principalmente os mais jovens, que sentem na pele a redução no poder de compra.

Para falar sobre o tema, a equipe da redação Start conversou com economistas que fazem uma análise e esclarecem o assunto para que consigamos entender o porquê dessa discrepância de consumo entre épocas. Diariamente nos deparamos com notícias que falam sobre o aumento de itens da cesta básica, como feijão, arroz, tomates, e tantos outros produtos. Apesar desse aumento expressivo no preço dos produtos, o salário médio dos brasileiros acaba por ter um aumento insignificante diante da porcentagem de preço das coisas.

Nesse contexto, o economista Gabriel Dutra compartilha que o principal causador da discrepância entre o aumento de itens básicos frente ao aumento de salários é o método utilizado para o cálculo da inflação, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Ele explica que o índice considera diversos serviços e itens de consumo do nosso cotidiano, com ponderação diferente para cada tipo de item e, mesmo a categoria de alimentos sendo a com maior peso no cálculo, a seleção de produtos é muito ampla. A partir disso, enquanto alguns itens sofrem grande aumento de preço, a grande maioria dos demais fica dentro da normalidade, mascarando o resultado final do índice.

Com base em dados, Gabriel destaca que a cesta básica teve um aumento médio de cerca de 10% nas capitais brasileiras. No mesmo período, o IPCA, calculado pelo IBGE, foi de 5,79%. Sendo assim, como o dissídio de salários é dado conforme a inflação, dificilmente o aumento de salário compensará o aumento da cesta básica.

O economista Mateus Vian complementa que a inflação é sem dúvidas um fator chave para essa diferença, pois quando os preços sobem de forma geral na economia, o poder de compra do salário diminui. Além disso, custos de produção, como energia e matéria-prima, afetam diretamente os preços dos produtos, que acabam sofrendo com os reajustes. Já os salários acabam sendo os últimos a receberem aumentos, o que reflete na percepção de que eles não acompanham adequadamente o aumento de custo dos produtos básicos.

Gabriel afirma que, seguindo na mesma linha de raciocínio, destaca-se como possível solução a separação dos itens mais básicos do cotidiano dentro do IPCA e uma maior ponderação destes ítens dentro do cálculo do índice. Ele ressalta ainda que todos os aumentos de preços na nossa economia são causados diretamente pela inflação e pelos índices que a medem. Já a inflação, por exemplo, pode sofrer a influência de choques econômicos que interferem no modo e condições a qual as negociações acontecem, como por exemplo a pandemia de Covid-19 ou até mesmo a Guerra na Ucrânia. 

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“Mantendo este ritmo, dentro dos próximos anos, enxergo o Brasil com altos índices de precariedade e insegurança alimentar como os que já começam a se evidenciar hoje e, em consequência disso, o brasileiro médio com a saúde debilitada a longo prazo. Tendo isso em vista, o correto seria percebermos um aumento de salário à mesma proporção a qual aumentam os preços, mas, como já identificado anteriormente, o índice utilizado e método do mesmo inviabiliza que isto ocorra”, comenta Gabriel.

E Mateus aponta que para lidar com a disparidade entre aumento de salários e custo de vida, políticas econômicas que visem controlar a inflação e promover crescimento sustentável são essenciais. “Investir em programas de capacitação profissional pode melhorar a empregabilidade e os salários. Além disso, é crucial examinar e reformar políticas fiscais para garantir uma distribuição mais justa da carga tributária”, acrescenta.

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Além disso, ele destaca que nas últimas décadas, o Brasil sofreu uma inflação considerável, principalmente entre os anos 80 e 90, que tornou a moeda brasileira instável. Esse acontecimento deu início ao Plano Real, responsável pelo controle da inflação e estabilidade da economia brasileira. Apesar disso, Mateus destaca que os eventos, como crises financeiras globais e instabilidade política brasileira, afetaram a economia, levando a flutuações cambiais e aumentos de preços em diversos setores.

Em comparação com a economia estadunidense, ambos os especialistas afirmam que existe uma diferença no sistema econômico, o que acaba refletindo no poder de consumo dos cidadãos. O primeiro citado por Gabriel é a força que o dólar americano tem internacionalmente. Esse fator torna muito mais estável e menos suscetível aos choques econômicos de inflação. Além disso, ele aponta que a tributação excessiva no consumo do brasileiro torna totalmente inviável que o poder de compra no Brasil possa ser comparado ao dos Estados Unidos.

“Existem várias diferenças fundamentais entre a economia brasileira e a estadunidense que contribuem para discrepâncias no poder de compra dos cidadãos. A economia dos Estados Unidos é caracterizada por uma alta produtividade, infraestrutura desenvolvida, setor tecnológico robusto e instituições financeiras sólidas. Além disso, são detentores de uma moeda de reserva global, o que confere estabilidade ao dólar”, compara Mateus.

Além disso, ele afirma que as desigualdades sociais e distribuição de renda desafiadoras presentes no Brasil afetam diretamente o poder de compra dos cidadãos, além do país ser fortemente apoiado ao setor primário, algo que não possui tanto valor agregado quanto um setor tecnológico.

Mateus aponta ainda que, apesar do salário médio ideal depender de fatores como regiões, estilo de vida, custos educacionais e necessidades individuais de cada família, para uma família de quatro pessoas possuir uma vida confortável, é estimado que o salário médio seja entre R$8.000 a R$15.000 mensais. Segundo ele, esse valor considera gastos com moradia, educação, saúde, alimentação e outros custos comuns. Essa é uma estimativa e os valores podem variar significativamente.

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