Quais os motivos e as consequências da onda de demissões em startups?

29/11/22
|
Publicado por 
Redação Start

Especialistas esclarecem dúvidas sobre o assunto que tem tomado conta do mercado

Após uma onda de demissões em massa em uma das maiores indústrias do mundo, o Meta Platforms, que controla o Facebook, Instagram e Whatsapp, o mercado de big techs se mostra instável e gera questionamentos no mercado. A plataforma desligou cerca de 11 mil funcionários no dia 09 de novembro, e marca um dos cortes mais significativos da empresa.

Outra empresa de grande porte que anunciou desligamentos em massa foi a Amazon.  Segundo uma matéria da CNN, a empresa confirmou a demissão de 10 mil funcionários na última quarta-feira, 16. De acordo com o memorando divulgado por Dave Limp, vice-presidente sênior dos dispositivos e serviços da Amazon, os cortes terão reflexos nas funções da equipe.

Essa realidade de demissões também atingiu startups. Mais de 137 mil funcionários de startups de todo o mundo foram demitidos neste ano, comparado com cerca de 81 mil em 2020, segundo dados do Layoffs.fyi (projeto que mapeia exonerações). Conforme reportagem publicada pela CNN, o 'boom' do período pandêmico, que estimulou o crescimento de empresas tecnológicas, acabou se transformando negativamente para o faturamento dos negócios.

Os cortes em startups atingiram também o mercado brasileiro, como é o caso da Warren, uma plataforma de investimentos que busca facilitar e acompanhar a jornada do investidor, com o melhor para cada cliente. A Warren, que em 2020 contava com apenas 100 colaboradores, deu um salto para quase 800 pessoas em 2022, porém neste ano cortou cerca de 8% do time da empresa.

Segundo Tito Gusmão, CEO da Warren, o período pandêmico não tem influência sobre essa onda. A empresa cresceu durante a pandemia, com um salto de 500 milhões para 25 bilhões sob gestão. O time da startup também acompanhou esse crescimento, o que torna natural fazer uma reestruturação para seguir com a cultura da empresa.

“Muitas pessoas fazem a mesma coisa, o que acontece muito quando existem m&as (fusões e aquisições). Então focamos em buscar eficiência e leveza. Executamos 6 m&as. Saímos de 100 pessoas em 2020 para quase 800 em 2022. Então é normal surgirem posições com sobreposição”, afirma Tito.

Ele conta ainda que os desligamentos impactam positivamente os clientes da Warren. “Precisamos sempre entregar para os clientes o melhor produto, o melhor serviço, a melhor performance. Para ter tudo isso, precisamos ter o melhor time, jogando junto, com a cultura certa, todo mundo em sua melhor versão”, finaliza o empresário. A Warren também segue contratando em áreas em que existem gaps e pretende continuar fazendo novas contratações em 2023. 

O economista Charles Mendlowicz afirma que o período com juros baixos fez com que o capital procurasse investimentos mais rentáveis e mais arriscados, como os investimentos em startups e os SPACs (Special Purpose Acquisition Company). Mas, com a chegada do novo período de inflação e juros altos, o mercado atraiu o capital que foge de projetos arriscados.

A partir disso, o mercado de startups, em 2022, passa por dois desafios, entre crescer em um mercado instável e perder o alto fluxo de dinheiro que estava ocorrendo nos últimos anos. Boa parte das empresas aproveitam esse momento de incertezas para analisar e reestruturar as funções dentro do universo corporativo, em busca de eficiência para cada processo. 

Com a entrada do bilionário Elon Musk no Twitter, a empresa cortou cerca de 75% dos seus colaboradores, entre diversos benefícios considerados desnecessários. Podemos citar também a Disney como exemplo de reestruturação quando trocou o CEO da empresa em busca de eficiência.  

“Muitas empresas acabaram se acostumando com esses recursos quase ilimitados e se comportavam como se tudo estivesse bem, esse provavelmente foi o caso do Twitter e de milhares de empresas que agora precisam reavaliar os seus quadros, aumentar a carga de trabalho e encarar o lucro como um amigo, e não como um inimigo”, diz Charles.

Para o economista e professor titular da Universidade do Estado do Amazonas, Roderick Castello Branco, as demissões em massa são um péssimo sinal para o cenário econômico. Porém, à medida que a vida volta à normalidade, é natural que as pessoas passem a consumir fora do ambiente virtual. Durante o período de reclusão, as empresas de tecnologia acabaram investindo muito bem nisso, com muitas contratações e remunerações significativas, o que acabou gerando um efeito rebote. 

“As demissões emitem um sinal dúbio: a) podem significar uma simples readequação de um cenário de crescimento sem precedentes (pandemia) para a realidade atual, visando manter os indicadores financeiros do negócio adequados às expectativas dos acionistas; ou b) podem indicar que a empresa passa por problemas. O primeiro caso parece ser a realidade de empresas de maior porte ou de startups em estágios mais avançados de maturidade. O segundo se encaixa mais à realidade das pequenas startups”, fala Roderick.

Ele afirma ainda que, no Brasil, os efeitos ainda não são tão claros e os impactos são indiretos, sinalizando um vigor que é observado no crescimento do setor tempos atrás. Como novas startups são altamente dependentes de investidores e o momento é de instabilidade, como inflação e alta de juros no mundo inteiro e no Brasil, acaba gerando investimentos mais conservadores e menos arriscados.

“No Brasil, este ano, o crescimento do PIB deve alcançar aumento de 2,8% em relação ao ano passado, o que pode ser creditado em parte aos programas de transferência de renda. Mas, no Brasil, espera-se de 2023 mais um ano de crescimento baixo ou nulo (1%), mantendo-se dessa forma em 2024. O Banco Central projeta taxas de juros ainda altas para 2023, com potencial efeito sobre o nível de investimentos de maior risco - caso das startups”, finaliza o economista.

O investidor Orlando Cintra reforça que um dos motivos que levaram empresas a reverem os cenários futuros foi a alta de juros e inflação, e confirma que o momento agora é de cautela. O cenário instável pode não durar por muito tempo, e a previsão é que esses motivos sejam contidos, principalmente as questões externas como a guerra entre Rússia e Ucrânia. 

“Melhor que 2022, o ano seguinte já busca sinais de melhora no futuro, agora com expectativa mais racional sobre valuations e futuro das startups. Os VCs e todo ecossistema continuam com dinheiro para investir, startups boas existem, e empreendedores fantásticos continuam motivados. A nova safra de startups que vem por aí é forte, resiliente e sustentável. Tem tudo para ser uma safra excepcional”, conclui Orlando. 

A dica para pequenas e novas startups é controlar o caixa e as despesas, para conseguir desenvolver o negócio, além de ter um plano estratégico eficiente. Os investimentos continuam, e no médio prazo, o cenário se apresenta como um bom momento de se preparar para o crescimento.

Sendo assim, o mercado pode esperar uma economia contraída que opera dentro das necessidades essenciais. Porém, é importante lembrar que a crise de 2008 gerou grandes oportunidades, como o Uber e o Airbnb, que pode ser avaliado também como um momento para inovar.

Confira mais posts do Start