Relações Públicas e o ChatGPT: profissionais da área destacam como se aliar à plataforma
Apesar da IA ser uma grande aliada dos novos profissionais, é importante lembrar que as capacidades humanas de criar conexões e gerenciar de crises são fundamentais para a construção e reputação de marcas

A tecnologia tem estado presente no dia a dia das pessoas há anos e tem se intensificado com a chegada de novas soluções e funcionalidades trazidas pelas empresas voltadas para esse mercado. Esse novo cenário, apesar de ser considerado novo, ainda causa uma certa estranheza na vida de alguns profissionais, que acabam se sentindo ameaçados quando se trata de ‘perder suas funções para um robô’.
No mercado da comunicação, esse medo se torna ainda maior, visto que o ChatGPT pode desempenhar um papel que até então seria exclusivamente desses profissionais, como redigir textos, criar posicionamentos escritos, discursos para os assessorados e até mesmo um texto de gestão de crise. Mas, segundo especialistas, os profissionais não devem ser inimigos do ChatGPT, e sim, aliados da plataforma para otimizar o trabalho.
Ariane Feijó, relações públicas, pesquisadora e CEO da Otimifica, agência de comunicação que atua com base na consultoria de estratégia de marketing e reputação digital, afirma que o uso do ChatGPT por profissionais de relações públicas representa uma evolução, não uma ameaça. Segundo ela, a ascensão da IA abre um leque de possibilidades para os profissionais de RP, que, ao invés de trazer vulnerabilidade, abre espaço para ampliar as capacidades e a eficiência do profissional.

“Eu costumo dizer que precisamos aprender a co-criar com a inteligência artificial, e não nos proteger dela. O ChatGPT pode ser um aliado valioso na automação de tarefas rotineiras e na geração de insights a partir de grandes volumes de dados, permitindo que os profissionais de RP se concentrem em aspectos mais estratégicos e criativos da profissão. Por exemplo, na criação de conteúdo ele pode oferecer sugestões inovadoras e ajudar na elaboração de mensagens mais eficazes, conforme o público que queremos atingir, enquanto os profissionais podem aplicar seu conhecimento e sensibilidade para ajustar e personalizar essas sugestões”, comenta Ariane.
Além disso, ela destaca que a ferramenta pode ser poderosa para análise de tendências e sentimentos, fornecendo informações valiosas que podem guiar estratégias de comunicação e relacionamento com os públicos. Em resumo, a pesquisadora explica que a IA não substitui o toque humano essencial em RP, mas o complementa, permitindo que os profissionais sejam mais ágeis, inovadores e eficazes em suas funções.
Stefani Paraíso, relações públicas da Smiles, programa de fidelidade da GOL, acredita que, assim como utilizamos a tecnologia como recurso, o ChatGPT, bem como outros recursos relacionados à inteligência artificial, podem ser utilizados como ferramentas de apoio para profissionais da área de relações públicas e da área de comunicação no geral. No entanto, ela destaca que é preciso utilizar com cautela, considerando questões como ética, autenticidade e arquétipo das marcas e o viés do algoritmo, uma vez que esse algoritmo também pode reproduzir conteúdos tendenciosos ou carregar algum tipo de preconceito.

“A tecnologia é usada como meio e não como fim. Por isso, é importante utilizar a ferramenta com parcimônia, conforme mencionado anteriormente, considerando os pontos positivos do uso dessa tecnologia, mas também os pontos em discussão - como questões éticas e de segurança da informação. Um profissional que apoia toda a sua construção em cima de uma ferramenta sem utilizar sua expertise para filtrar o necessário, pode prejudicar a sua credibilidade - e sabemos bem sobre os desafios de construir uma reputação e relações de confiança”, explica Stefani.
Ambas as especialistas compartilham que o uso da plataforma pode potencializar a criatividade do profissional, contribuir com a análise de dados e a eficiência operacional em RP. Ariane afirma ainda que o verdadeiro valor do profissional de RP reside na sua capacidade de entender contextos complexos, gerenciar relacionamentos e criar estratégias de comunicação que ressoem com o público, e a plataforma se caracteriza apenas como um auxiliador de processos, mas não pode substituir o julgamento humano, a sensibilidade ética e a compreensão profunda das nuances das relações humanas que são essenciais em RP.
Além disso, a inteligência artificial não é capaz de gerar opinião, conexão humana, contexto, ponto de vista e narrativas, o que torna o ser humano fundamental para exercer tal função. O uso inteligente da IA demonstra inovação e adaptabilidade, qualidades cruciais em um mercado que evolui todos os dias e, para profissionais que abraçam essas novas tecnologias, se torna um diferencial saber como utilizar a ferramenta, mostrando que estão preparados para enfrentar os desafios do futuro e liderar a transformação no campo das Relações Públicas.
Em dicas práticas, Ariane explica que é crucial abraçar a inovação e integrá-la às habilidades tradicionais de RP, e mais do que nunca, se preparar para serem os melhores profissionais que puderem ser. Ela destaca alguns caminhos que podem facilitar essa caminhada de inserção e trazer sucesso para o profissional, como:
- Especialização em tecnologia e RP: torne-se um especialista na interseção entre RP e tecnologia. Entenda que ferramentas como o ChatGPT funcionam e como podem ser aplicadas em diferentes aspectos de RP, desde a análise de dados até a criação de conteúdo. Muitos justificam o fato de se distanciar da tecnologia por ela não ser “tão humana” quanto é a essência da profissão. A verdade, porém, é que tecnologia é feita por pessoas e se faz de lógica. Lógica nem sempre tem a ver com números, embora números tenham a lógica como base. RP em 2024 é uma disciplina ainda mais complexa que requer uma compreensão profunda da sociedade, da psicologia, da comunicação e, cada vez mais, da tecnologia. Porque toda essa construção não se faz mais apenas de forma analógica, sem planilhas e sem tecnologia.
- Desenvolvimento contínuo de habilidades humanas: enquanto a IA pode lidar com tarefas repetitivas e análises, as habilidades humanas como empatia, criatividade, pensamento crítico e habilidades interpessoais continuam sendo insubstituíveis. Invista no desenvolvimento dessas habilidades.
- Inovação e criatividade: use a IA para impulsionar a inovação. Por exemplo, utilize o ChatGPT para gerar ideias criativas para campanhas ou para identificar tendências emergentes que podem ser exploradas em estratégias de RP.
- Adaptação e flexibilidade: esteja sempre pronto para se adaptar e aprender. O campo da tecnologia está em constante evolução, e a capacidade de se adaptar rapidamente a novas ferramentas e métodos é essencial.
- Integração estratégica: integre a IA em sua estratégia de RP de maneira que complemente e fortaleça seu trabalho. Use-a para melhorar a eficiência, mas sempre com um toque humano e estratégico que só um profissional de RP pode oferecer.
- Ética e transparência: com o estado de transformação constante do digital, a ética e a transparência são fundamentais. Use a IA de maneira ética e seja transparente sobre seu uso, fortalecendo a confiança com seu público. Ao combinar habilidades humanas essenciais com o poder da IA, os profissionais de RP podem não apenas se diferenciar no mercado, mas também liderar o caminho na definição do futuro das Relações Públicas.