Artigo - Dia Internacional do Livro: De pior aluno à escritor

23/4/24
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Publicado por 
Redação Start

Por Maurício Pretto, Escritor e CEO Digiwings

Foto: Divulgação
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Recordo-me claramente de como, ao ver “Português” ou, pior, “Literatura” na grade de horários do colégio, meu estômago se revirava. Não que as aulas de Matemática ou História fossem do meu agrado, mas português me parecia uma tortura. Não havia identificação alguma da minha parte.

Jamais consegui uma nota acima de "5" em redação. Quando as professoras sugeriam a leitura de “Dom Casmurro” ou o célebre “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, eu pensava: se desconheço quem foi Brás Cubas, por que iria querer conhecer suas memórias? Acredito que nunca tenha passado do primeiro capítulo dessas obras durante meus anos escolares.

Obviamente isso não teve um bom desfecho. No oitavo ano do ensino fundamental, o inevitável aconteceu: fui reprovado. Como um típico jovem rebelde atribuí a culpa à professora, pois é sempre mais fácil culpar os outros.

Não sei ao certo o porquê desse desinteresse pelo português, visto que, em casa, minha mãe era uma leitora voraz, possuindo uma biblioteca impressionante. Mas, para mim, isso não era atrativo, aquelas prateleiras lotadas de livros me pareciam algo desnecessário. Não posso dizer que faltaram exposição e incentivo.

Seria uma história simples, se tal desinteresse pela literatura e o consumo de conhecimento através da escrita tivesse terminado aos meus vinte cinco ou quem sabe trinta anos. Mas infelizmente, essa realidade se estendeu por muitos anos. Sempre usei a desculpa que minha maneira de aprender era mais prática, e culpava os educadores, o sistema de ensino, como quando repeti de ano na oitava série.

Realmente sempre me identifiquei mais com a prática do que com a teoria, inúmeros foram os brinquedos desmontados para entender a suas entranhas. Inúmeros foram os eletrônicos que não funcionavam que foram desmontados e reparados sem nem folhear o manual. Minha mãe nunca entendeu como o videocassete da família voltou a funcionar sem ter que levar na eletrônica.

Mas a verdade é que isso tudo sempre foram desculpas do pior aluno que tinha preguiça de ler.

Trinta anos após ser reprovado em português e culpar a professora, eu me deparo com um fato curioso: comecei um novo momento em que me propus a escrever um artigo semanal no Linkedin compartilhando minha visão do mercado comercial e seus desafios. De forma natural senti que para poder escrever melhor precisava ler e, assim descobri que, como minha mãe, eu também tinha o amor pela leitura, só não havia o encontrado.

Alguns meses depois me encontro sentado a frente do computador me preparando para escrever meu artigo semanal, o documento texto aberto o cursor pisca esperando que algo seja digitado. Eu centralizo o cursor em meio a essa grande tela em branco e digito: “Ninguém quer comprar de você, e agora?” e assim nasce o livro escrito pelo pior aluno, que não gostava de ler, não conseguia tirar uma nota boa em redação e rodou em português e que chega às livrarias ainda neste mês de abril, curiosamente, no dia internacional do Livro.

Feliz dia do Livro, ou melhor: um dia feliz é um dia com um livro. Que você também se inspire ao encontrar sua linha editorial e, quem sabe um dia, escreva sua obra também.

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