Ballet clássico: arte e negócio

7/11/23
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Redação Start

Profissionais da área falam sobre como buscam utilizar o ballet como um empreendimento

Foto: Unsplash
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Com origem no período renascentista, em espetáculos nas cortes italianas e, posteriormente, nas cortes francesas, durante o reinado de Luís XIV, o ballet clássico se desenvolveu como uma maneira de entretenimento para a nobreza da época. Essas celebrações e apresentações eram realizadas no estilo teatral com expressão de gestos em uma representação dramática. Ao longo do tempo, o ballet clássico vem se transformando, aperfeiçoando os passos e o vestuário, para que pudesse causar uma ideia ainda maior de leveza, equilíbrio, técnica, força e flexibilidade.

As mudanças de vestuário surgiram por meio da bailarina italiana Marie Taglione, filha de Filippo Taglioni, um grande bailarino e coreografo, que acreditava que sua filha seria boa o suficiente em busca de uma técnica impecável. Para trazer uma ideia mística e angelical para as apresentações da filha, Filippo desenvolveu o vestuário diferenciado, com uma saia de tecido leve e uma sapatilha de ponta.

Todas essas transformações na dança foram surgindo como forma de tornar o ballet algo único e encantador, abrindo espaço para outras vertentes da dança. Outros métodos foram sendo criados ao longo dos anos, dando origem sete metodologias diferentes: École Française (França);  Royal Danish Ballet (August Bournonville, Dinamarca); Método Cecchetti (Enrico Cecchetti, Itália); Royal Academy of Dance (Inglaterra); Método Vaganova (Agrippina Vaganova, Rússia); Método Balanchine (George Balanchine, USA); Método Cubano de Ballet (Alicia e Fernando Alonso, Cuba). Outro fator importante a ser citado, é que o ballet clássico também foi responsável pela inspiração e criação de novos estilos de dança mais modernos. 

Além de apaixonante, a modalidade pode ser uma profissão e um negócio lucrativo para empreendedores, como é o caso de Elaine e Viviane Feltrin, mãe e filha, que decidiram se unir por meio da Rabony Malhas e Confecções para criar produtos voltados para o universo da dança. Após atuar por muitos anos com foco no tricô, a Ballare ampliou o seu leque de produtos para atender os bailarinos e professores de forma integral. Viviane, CEO da Ballare, explica que atualmente a empresa produz e comercializa uma variedade de vestuário para dança, sapatilhas, bolsas e acessórios, além de uniformes personalizados para escolas de dança e figurinos para as apresentações.

Com inauguração ainda em 2002, na cidade gaúcha Farroupilha, a empresa surgiu para preencher uma necessidade do mercado de produtos de aquecimento para bailarinos. Viviane destaca que empreender no segmento artístico ainda é um grande desafio no Brasil, visto que mesmo sendo um mercado com bastante demanda, não é um segmento em que as transações sejam de grandes valores. Ela ressalta que, um dos desafios enfrentados no segmento é encontrar fornecedores e mão de obra especializada para a confecção das peças, a fim de que elas cheguem ao consumidor final, por um preço competitivo.

Foto: Divulgação - Ballare
“O setor da dança passa ainda por um momento de reestruturação pós-pandemia, já que foi um dos últimos setores a poder retomar as atividades. É muito gratificante, contudo, empreender em um ramo que trabalha com a arte, com sonhos e que gera um impacto muito positivo na vida das pessoas. A dança é viva e promove a vida, por isso, a Ballare segue firme com o propósito de entregar o melhor para quem vive em dança. A Ballare também comercializa produtos relacionados a outros estilos de dança, como o Jazz e o Contemporâneo, além de ter um catálogo de produtos voltados à patinação e à ginástica artística”, comenta Viviane.

Além disso, por meio do e-commerce, a Ballare comercializa seus produtos em esfera nacional e internacional, e tem parceria direta com diversas escolas de dança no que diz respeito à confecção de uniformes e figurinos. Ela ressalta ainda que, em alguns casos, também são realizados projetos em conjunto para campanhas de marketing.

Para Andreza Borges, bailarina profissional, professora e proprietária da Casa de Ensaio, escola de dança localizada em Canela, Rio Grande do Sul, o processo foi natural, assim como de inúmeros profissionais da área. Ela compartilha que iniciou seus estudos no ballet aos 7 anos de idade, na cidade de Bento Gonçalves, e desde então se encantou com a profissão, participando de concursos de dança e diversas premiações. 

Ainda criança, a bailarina foi indicada para a escola Bolshoi, única filial do teatro Bolshoi fora da Rússia, onde se formou bailarina clássica após sete anos de estudos. Em 2018, Andreza iniciou seus trabalhos como professora de ballet na Coreia do Sul e, posteriormente, no Brasil. Ela destaca que a dança demanda muita dedicação e disciplina diária, e a decisão de se tornar bailarina profissional e ter isso como trabalho é uma decisão que precisa ser tomada muito cedo, afinal, há um longo caminho a ser trilhado e amadurecido. “Creio que a dança me ajudou nesse processo de amadurecimento, foco e dedicação para se alcançar o que quer”, aponta.

Foto: Arquivo pessoal
“Com toda certeza a dança se desenvolveu e se modernizou e ainda segue se modernizando e se atualizando. O ballet clássico é uma base muito forte e sólida para diversas modalidades: dança contemporânea e o jazz, por exemplo. E mesmo as modalidades que não tem uma semelhança direta, o ballet clássico se torna uma base muito sólida, por conta de toda consciência corporal adquirida. A ideia de montar a Casa de Ensaio surgiu da necessidade de enxergar na cidade, um lugar onde a dança pudesse ser de qualidade e ainda se tornar acessível”, ressalta. 

Empreender nem sempre foi um sonho para a Andreza, mas, segundo ela, foi algo que com o passar do tempo, por meio de pesquisa e estudos, a liberdade de ter o seu próprio negócio brilha os olhos e abre portas. Inaugurado a menos de uma, a Casa de Ensaio já possui diversas turmas, entre Baby Class (3-5 anos), pré-ballet (6-8 anos), preparatório (8-12 anos) e ballet adulto iniciante, para adultos que estão iniciando do zero na dança, e outras modalidades de dança e música. Andreza afirma ainda que são em média 50 alunos apenas na modalidade de ballet.

Além da fabricante Ballare ou da escola de dança Casa de Ensaio, os espetáculos também são uma forma de entretenimento, divulgar talentos e, consequentemente, gerar lucro. Pensando nisso, a escola de Ballet porto alegrense, Ballet - Elizabeth Santos, além das classes de ballet, investe em grandes apresentações e espetáculos dos tradicionais ballets de repertório.

Elizabeth, proprietária da escola e com mais de 30 anos de profissão, compartilha que quando se trata de ballet clássico, o nicho é gigante e o mercado está bastante consolidado, mas depende de quem administra e como é feita a gerência sobre o negócio. Segundo ela,  a escolha do repertório varia conforme o nível técnico e artístico dos alunos e a linguagem do repertório que o público está preparado para receber. A escola já foi responsável por cerca de 32 espetáculos com diversos temas de repertório.

“Nossa escola surgiu com um convite da proprietária de uma academia para que eu ministrasse as aulas. Em pouco tempo, tinha muitos alunos para caber naquele espaço e resolvemos locar uma sala na avenida. Nossas aulas sempre tiveram uma proposta inovadora e os resultados começaram a surgir. Com um tratamento humanizado, deixamos que as famílias participem de toda a evolução do aluno”, comenta.
Foto: Divulgação

Ela explica que, para as apresentações acontecerem, existe um processo burocrático a ser seguido, como a locação dos teatros, a compra ou aluguel de materiais e contratação de técnicos de montagem, operação e divulgação dos espetáculos.

“Os custos de produção são bastante altos. Eles dependem do tamanho do teatro, data, materiais, técnicos, transportes, cenários,etc. Se a produção for organizada e seguir cronograma rígido, dá para pagar todos e ainda ter um bom lucro. Dependendo da escola, se obtiver bons patrocínios, e boas vendas de ingressos, poderá obter lucro. Mas depende do tipo de trabalho que se faz”, explica Elizabeth.

Este ano, a escola de ballet Elizabeth Santos apresenta o espetáculo Dom Quixote - O Trem da Vida, que acontecerá no Teatro do Bourbon Country, avenida Túlio de Rose, 80-71, bairro Jardim Europa, Porto Alegre. A apresentação será no dia 4 de dezembro, às 19h, com um espetáculo aberto ao público. Para adquirir os ingressos por meio do WhatsApp (51) 99473-5360 e custam a partir de R$89,00.

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