ChatGPT: saiba até que ponto vai a capacidade das ferramentas de IA e como ela pode impactar a produção acadêmica
Especialistas esclarecem que, apesar de facilitar processos, inteligência artificial não substitui a análise crítica de conteúdos

O uso da inteligência artificial tem ganhado uma atenção frequente por parte da mídia, abrindo espaços para questionamentos quanto a sua real função e quais impactos podem gerar para o futuro da sociedade. Entre as tecnologias de IA disponíveis, o ChatGPT tem sido um dos mais relevantes. A ferramenta se caracteriza como um modelo de linguagem capaz de gerar textos completos, completar frases, responder questionamentos, traduzir textos e trazer informação sobre todo e qualquer assunto.
Muito se comenta sobre como o uso do ChatGPT pode extinguir profissões e substituir pessoas pela inteligência artificial, devido a sua capacidade de detectar padrões da linguagem humana e formular conteúdos. Porém, este uso também gera preocupação sobre os impactos na área da educação e da produção acadêmica.
Para a astrofísica e doutoranda Roberta Duarte, o ChatGPT é uma ferramenta semelhante ao Google e ao Wikipedia quando foram lançados e que é importante ter em mente que essas ferramentas podem trazer informações questionáveis. Assim como todo conteúdo encontrado na internet precisa de comprovação de fontes confiáveis, com o ChatGPT não seria diferente, sendo necessário checar a veracidade das informações. Segundo Roberta, o perigo está quando temos uma população que não questiona, afirmando que é necessário estimular o pensamento crítico desde o período escolar.

“É importante lembrar que os modelos generativos, como o ChatGPT, aprendem essa quantidade de dados, é natural com uma grande quantidade de dados que estão disponíveis na internet. É sempre bom ter referências e confirmar toda resposta que os modelos generativos devolvem. Ainda não são modelos perfeitos, e eles são feitos de maneira que precisam dar uma resposta mesmo se a resposta for errada. É sempre bom questionar e procurar referências”, comenta Roberta.
Ela acredita que a inteligência artificial pode acelerar o processo científico, principalmente quando falamos da sua área de atuação. A especialista explica que, até pouco tempo atrás, o setor sofria um déficit de profissionais capacitados para lidar com os dados e métodos, e a IA surgiu oferecendo soluções para lidar com uma grande quantidade de dados, facilitando o estudo da astrofísica.
“Modelos com regressão simbólica podem retornar equações e responder perguntas que não conseguimos responder dentro da Astronomia”, explica.
Segundo a pesquisadora, é preciso haver um equilíbrio no uso da IA, visto que ela pode otimizar processos dentro da produção científica, acelerando a obtenção de respostas, mas que ainda é um longo caminho no sentido de interpretação e uso da ferramenta. No caso da pesquisa acadêmica, ela acredita que o uso do ChatGPT pode ser feito de maneiras que otimizem o processo de pesquisa, mas sem substituir a checagem de fontes de forma independente. Os estudantes e pesquisadores devem saber dosar o uso da plataforma e buscar sempre fontes confiáveis, seja por meio de artigos científicos ou sites com credibilidade na informação.
Para Márcio Oliveira, cofundador da Quid Si e mentor de startups com negócios baseados em inteligência artificial, utilizando APIs, Open.AI E ChatGPT, a inteligência artificial e o ChatGPT, apesar de potencializar e acelerar resultados, são plataformas que jamais substituirão a capacidade e a criatividade humana.
“A criatividade é algo inerente do ser humano”, diz.
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Segundo ele, assim como em períodos de grandes saltos da evolução, a sociedade também passará por um momento de readaptação, e muitas pessoas terão eventualmente que aprender novas coisas ou novas formas de trabalhar. Ele afirma que a grande discussão está na definição dos limites de uso. Márcio explica que o fato das habilidades humanas serem únicas e insubstituíveis atinge questões além do pensamento acadêmico, envolvendo as relações interpessoais, atendimento e experiência do cliente.
“A IA, principalmente usando o ChatGPT como referência atual, tem suas limitações. Quando falamos de conteúdos acadêmicos e pesquisas, o pensamento crítico é um grande direcionador, e a IA não possui pensamento crítico por conta da sua própria natureza. O ChatGPT, por exemplo, desenvolve conteúdos a partir de sua base de dados e das probabilidades de correlação destes conteúdos. Por isso, muitas vezes, os conteúdos que ele gera podem ser rasos ou até mesmo incorretos”, compartilha Márcio.
Assim como Roberta, Márcio comenta que é necessário um trabalho de análise do conteúdo que a plataforma gera para os questionamentos feitos, que somente um ser humano com conhecimento e pensamento crítico pode fazer. Ele fala que a ferramenta pode ser usada na elaboração de conteúdos mais profundos, mas como um ponto de partida, e nunca do conteúdo final que será utilizado e divulgado.
“O ChatGPT não é um Google, ou seja, ele não pode ser usado como uma simples fonte de pesquisa de conteúdos. O grande erro é uma pessoa se expor achando que pode virar expert de qualquer assunto criando e utilizando, por meio do ChatGPT, conteúdos de temas que ela não domina e, portanto, não conseguirá fazer o filtro necessário no que o ChatGPT desenvolver”, completa.
Para a área da astrofísica, Roberta explica que a IA tem se tornado uma ferramenta cada vez mais necessária, visto que é um segmento que lida com uma grande quantidade de dados.
“Já estamos chegando em pentabytes de dados adquiridos por um telescópio, somando todos os telescópios, a quantidade é massiva. A IA contribui para a análise desses dados de uma forma viável em pouco tempo”, diz.
Ela afirma ainda que isso é uma realidade que tem atingido outras áreas do conhecimento, como Medicina, Biologia e Engenharia. Segundo Roberto, o olhar crítico é a principal habilidade que filtra o uso de ferramentas como essa, e se o usuário já tiver conhecimento prévio sobre o assunto, se torna mais fácil encontrar possíveis erros nas respostas dadas pelo ChatGPT.