Chegada do inverno: como negócios que foram atingidos pela catástrofe no RS pretendem se recuperar no período

12/6/24
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Publicado por 
Redação Start

Apesar das dificuldades em estoque e infraestrutura, proprietários contam que têm tido ajuda para voltar a ativa e melhorar as vendas no inverno

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Com a chegada do inverno no hemisfério sul, muitos negócios passam a promover ações e iniciativas voltadas para o período com o objetivo de movimentar as vendas. No Rio Grande do Sul não é diferente, porém, com as consequências devastadoras da recente catástrofe natural que atingiu a região. Com base nos últimos acontecimentos, a recuperação econômica acaba se tornando um desafio adicional para muitos empreendedores que, ao mesmo tempo que buscam se recuperar da tragédia, precisam se reerguer para aproveitar a estação e obter um retorno econômico positivo.

Rafaela Sironi, estilista e fundadora da loja de roupas Shop.Alucce, localizada em Três Coroas, compartilha como tem se preparado para enfrentar o inverno e quais estratégias estão sendo adotadas para superar as dificuldades e revitalizar suas atividades. Ela conta que o seu atelier foi diretamente afetado, assim como a casa da empreendedora. Segundo ela, a água subiu cerca de 80 centímetros no estabelecimento, causando a perda de móveis, matéria-prima e histórico de moldes utilizados para talhar as peças. Além disso, a enchente causou prejuízos na infraestrutura do atelier, danificando as paredes e acabamentos.

“O maior desafio é recuperar o tempo perdido e voltar a trabalhar novamente em uma situação desconfortável. Tive ajuda pra fazer a higienização do espaço, tanto do atelier quanto da minha casa, e tentei organizar tudo da maneira mais confortável pra voltar a trabalhar”, conta Rafaela.

Como parte do processo de recuperação do negócio agora que o inverno está chegando, Rafaela afirma que vai seguir lançando coleções conforme o previsto, apesar de com um pouco de atraso. Ela conta que uma das estratégias adotadas para movimentar as vendas nesse período é fazer um mix de produtos que atraiam consumidores de estados que não fazem um inverno tão rigoroso, para suprir a demanda de consumidores gaúchos que possivelmente não vão comprar da forma esperada neste inverno. Então, Rafaela passou a produzir peças de meia estação, onde o frio é médio.

Rafaela acredita que as vendas serão difíceis nos próximos meses, já que as pessoas estão com foco na reconstrução das suas casas e comprar roupas acaba não sendo uma prioridade no momento. Porém, ela destaca que esses mesmos clientes seguem apoiando na divulgação da marca. Segundo ela, clientes gaúchos e de outros estados que não foram diretamente afetados têm uma possibilidade de compra maior, principalmente motivados por essa iniciativa de apoiar comércios gaúchos que vem sendo bem forte nas redes sociais. Rafaela conta que nas últimas semanas, além de enviar pedidos para o Rio Grande do Sul, enviou caixas de pedidos para Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. 

“Eu fiz uma vaquinha para a reforma da minha casa e do atelier e tive uma adesão melhor do que o esperado, um apoio que foi muito importante. A minha forma de retribuir essa ajuda foi criar uma ação em que o cliente compra uma blusa térmica e outra é doada para a população atingida. Eu abri mão do meu lucro na venda dessas peças porque pra mim é importante retribuir a ajuda que eu recebi de alguma forma. A minha expectativa é de crescimento, por mais que seja difícil. Acho importante que as pessoas sigam com essa onda de apoio aos comércios locais mesmo depois que toda essa tragédia passar, tanto negócios gaúchos quanto de outras regiões do Brasil, as pequenas empresas precisam dessa força sempre. Também acho legal destacar que o apoio não precisa vir só por meio de compras, mas também de seguir, interagir e apoiar nas redes sociais, isso já ajuda muito também”, comenta Rafaela.

Para a proprietária da loja de roupas Tendência Store, Eloi Nunes, a busca pelo recomeço tem sido difícil, já que as enchentes atingiram totalmente o estabelecimento. Localizada em Canoas, Eloi conta que as enchentes destruíram a loja completamente e a água chegou a subir até o teto.

“O maior desafio está sendo recomeçar e, principalmente, não ter estrutura financeira para isso. Perdi mercadorias, os móveis da loja, perdido o gesso do teto que foi destruído pela água, a pintura também foi danificada, luminárias e equipamentos eletrônicos também foram perdidos”, comenta Eloi.
Foto: Arquivo pessoal

Ela descreve o processo de recuperação como desafiador e destaca que tem se sentido perdida, com o apoio de seus familiares.

“Após a água baixar, depois de 23 dias, a iniciativa imediata foi de limpeza e descarte do que foi danificado. Tenho esperança de um recomeço, sei que não vai ser nada fácil mas não quero desistir”, conta Eloi.

Negócios de diferentes segmentos foram atingidos, não somente pelas enchentes, mas também por deslizamentos de terra severos que aconteceram nas cidades localizadas próximas às encostas. Esse é o caso da vinícola familiar localizada em Caxias do Sul, Casa Onzi. Em entrevista, Renita Regalin Onzi, sócia da Casa Onzi, compartilha que o deslizamento atingiu toda a infraestrutura da vinícola, como o maquinário e estoques. Além disso, o deslizamento também afetou na impossibilidade de atendimento aos clientes, necessitando de mudança imediata de prédio e estoques, sendo necessário a cedência de tanques para armazenamento de vinho em vinícolas vizinhas.

Foto: Arquivo pessoal

Segundo ela, os principais desafios são a realocação, retrocesso na produção (maquinário automático comprometido) e redirecionamento do negócio.

“Houve a perda significativa de estoque e infraestrutura, porém permanecemos atendendo e produzindo, com atraso nas entregas. Mudança imediata de local de produção e atendimento aos clientes finais, aumentando o horário de atendimento (7 dias por semana e sem limitação de horário), interrupção do recolhimento do prolabore e maior envolvimento de todos os funcionários e familiares”, comenta Renita.

Além disso, ela aponta que está sendo difícil conseguir atender os pedidos em tempo hábil para o ponto alto de vendas da vinícola, que é o inverno. Porém, ela destaca que muitos clientes, em apoio à causa, têm aumentado o volume de compras, e empresas conhecidas ofereceram apoio e ajudaram na evacuação do prédio. Ela também compartilha que conhecidos que não consumiam os produtos da Casa Onzi têm apoiado a empresa comprando produtos para ajudar.

“Gostaria de sugerir aos clientes que deem "uma chance" para os vinhos da Serra, que provem os produtos que são feitos aqui no RS”, indica Renita.

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