Chocolate gramadense: indústria se expande pelo Brasil

30/5/23
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Publicado por 
Redação Start

Além do incentivo ao empreendedorismo, o mercado de chocolates de Gramado gera emprego e renda para vários segmentos de todo o país

Foto: Divulgação - Prawer
Foto: Divulgação - Prawer

O Brasil é conhecido por muitas coisas, entre boas praias, futebol, música e belezas naturais, porém, existem alguns ativos que boa parte da população conhece, mas que não fazem ideia da proporção e da importância nacional e internacional. Esse é o caso do cacau, produto trazido por colonizadores portugueses em meados de 1679 e cultivado na região amazônica e no sul do nordeste. A produção brasileira é a sétima maior no mundo, com cerca de 269,1 mil toneladas. Os dados são da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, divulgados em 2021, em uma matéria produzida pela plataforma AgroSaber.

O mesmo conteúdo também mostra que a Bahia, com uma área produtiva de  440 mil hectares, e o Pará, com uma área produtiva de 149,7 mil hectares, se destacam como os maiores produtores de cacau do Brasil, responsáveis por 93% da produção nacional. No primeiro trimestre de 2023, a Bahia 

obteve um volume de produção de 13.97 toneladas, número 17% menor que o mesmo período em 2022. Já o Pará apresentou um crescimento de 10,8% em comparação ao ano passado, com cerca de 10.336 toneladas de amêndoas, segundo dados da Revista Cultivar.

Cadeia que move o turismo e desenvolve a cidade de Gramado

A história do conhecido chocolate gramadense começou em meados da década de 70, quando se iniciou a fabricação de chocolate em Gramado. A proposta foi trazida da Argentina por Jayme Prawer, dando origem à primeira fábrica de chocolate artesanal do Brasil, conhecida como Prawer. Ao longo do tempo, devido à forte exploração do produto, aliado à cultura imigrante local, Gramado foi se transformando em um cenário cada vez mais temático, chamando a atenção de turistas espalhados por todo o Brasil e América Latina.

O município inspirou a criação de novas fábricas e marcas que trabalham ativamente para garantir a qualidade do produto, movimentando o turismo e a economia local. Maurício Brock, CEO da Prawer e vice-presidente da ACHOCO, Associação da Indústria e Comércio de Chocolates de Gramado, afirma que a ascensão do mercado de chocolates em Gramado é fruto de um setor chocolateiro que sempre primou pela excelência na qualidade do produto e dos processos de produção.

Ele compartilha que o produto está diretamente ligado ao sucesso turístico do município, que é responsável por mais de 80% da economia local, elevando o nome de Gramado por todo o Brasil e mundo afora. Outro quesito apontado por Maurício como de grande valor para a cidade é a utilização do chocolate como potencial para a criação de novos negócios, como lojas temáticas e fábricas abertas para a visitação. Cada atividade é pensada tanto para o desenvolvimento econômico de Gramado, como na experiência dos consumidores que provam o melhor chocolate artesanal do Brasil.

Foto: Divulgação - Prawer Chocolates

Além de fomentar e movimentar a economia local, Gramado move a indústria da produção do Cacau ao adquirir matéria-prima de estados do norte (Pará), nordeste (Bahia) e sudeste (Espírito Santo) brasileiro. Maurício explica que há muitos anos, o setor chocolateiro da cidade tem participação ativa e importante na economia local, caminhando lado a lado com o setor gastronômico e hoteleiro da região, empregando em torno de 2 mil pessoas.

Em um panorama geral, o secretário de inovação de Gramado, Ike Koetz, afirmou durante a gravação do podcast da Gramado Summit, que foi ao ar no último dia 29/05, que o município de Gramado possui uma média de 20 mil postos de trabalho formais. Somando as cidades vizinhas como Canela, Nova Petrópolis, Três Coroas e São Francisco de Paula, juntas possuem cerca de 21 mil postos. Entre os trabalhadores, muitos estão ligados à produção, manuseio e comercialização de chocolates. Os dados citados demonstram a importância do município como gerador de emprego e renda, que tornam Gramado uma potência econômica para o estado e país.

Para outros estados do país, Maurício compartilha que há uma certa movimentação que impulsiona tanto a economia local, quanto a economia geral do país. Entre as ações que marcam a presença do chocolate gramadense nas demais regiões, podemos destacar a abertura de franquias, fomentando o crescimento de mercado. Outro ativo citado é a busca incessante pela excelência na qualidade dos produtos, que fortalece a marca e amplia o setor.

“Temos uma associação forte que trabalha para fortalecer o setor chocolateiro, trabalhando para conquistar registro junto à Indicação de Procedência no produto "chocolate artesanal". Garantimos a qualidade do produto de Gramado por meio da responsabilidade de cada empresa associada à ACHOCO e certificada com o Selo de Procedência. A procura constante em manter o nível de excelência em qualidade se destaca como o maior diferencial competitivo junto aos outros mercados chocolateiros do Brasil”, explica Maurício.

Para Jonas Esteves, diretor de marketing e operações da fábrica de chocolates Lugano, o mercado de chocolate em Gramado ganhou destaque devido a razões que vão além das belezas encantadoras e o clima agradável. Entre essas razões, ele destaca a tradição e a herança cultural trazida por imigrantes europeus, que são refletidas na produção artesanal, a presença de festivais e eventos mundialmente reconhecidos, como Natal Luz e Festival de Cinema. Outro ponto de destaque é a infraestrutura dedicada à atividade turística com opções de parques, lojas, fábricas e chocolaterias especializadas. Por fim, questões como excelência em hospitalidade, uma comunicação acolhedora e uma experiência gastronômica incomparável atraem a atenção em massa de turistas do mundo inteiro.

“Em especial agora, momento em que seis fábricas de chocolates que fazem parte da Achoco receberam o selo de Indicação de Procedência, certificando a qualidade e a exclusividade da produção da iguaria. Esses fatores contribuíram para a ascensão do mercado de chocolates em Gramado, transformando a cidade em um destino conhecido pelos amantes de chocolate e impulsionando a economia local”, explica Jonas.
Foto: Rafa Schneider

Com inspiração na cidade suíça na fronteira com a Itália, a Lugano busca trazer um pouco da experiência do chocolate europeu para dentro do Brasil, mas com detalhes que tornam tudo diferente. O cacau utilizado é de origem 100% brasileiro, produzido em plena floresta amazônica, no estado do Pará. Jonas conta que há uma técnica nos campos de plantação e na produção do chocolate resultando em um produto único e com alto valor agregado.

O cacau é plantado à sombra das árvores, recebendo uma exposição solar em menor quantidade. Quando o fruto está maduro, o agricultor realiza toda a colheita de forma manual, processo realizado semelhante à colheita do café, sem o uso de máquinas. Já nas etapas de produção, as amêndoas passam por um processo de torra a 120 graus, garantindo a conservação do aroma da semente e preservando os antioxidantes. Após esse processo, é feita a moagem para obter o líquor, transformando em cacau e manteiga de cacau. A partir disso, são feitas a adição correta de leite em pó e açúcar para compor a receita dos chocolates Lugano. 

“Carregamos a excelência e a pureza do chocolate na nossa produção. A legislação brasileira recomenda 25% de cacau na composição para considerar o chocolate como puro. Na Lugano são usados 36% de cacau na composição do chocolate ao leite, acima inclusive do que prevê a legislação europeia, que solicita 35%. No chocolate branco a porcentagem chega a 32%, quando a lei exige 19. O preparo do chocolate também segue técnicas tradicionais de produção para garantir o sabor único e a qualidade de seus produtos”, comenta Jonas.

Toda essa cadeia que envolve o chocolate gramadense move uma série de benefícios tanto para quem mora em Gramado e região, quanto para quem visita a cidade. A dinâmica cria um impacto positivo em diferentes setores econômicos e contribui para o desenvolvimento regional e nacional. Jonas esclarece o fato de que a indústria de chocolate em Gramado emprega uma quantidade significativa de pessoas em todas as etapas de produção, o que reduz significativamente a taxa de desemprego na região. Outro benefício é a atração do chocolate gramadense, que traz turistas de todo o país para a cidade, movimentando a receita dos setores de hospedagem, alimentação, transporte e compras em geral.

Além disso, as fábricas não atendem somente à demanda local, mas também criam formas de distribuir seus produtos para outros estados por meio de franquias e parcerias comerciais. Tudo isso move uma série de serviços que envolvem cadeia de suprimentos e logística, com a agricultura, transportadoras, distribuidoras, varejistas e lojas. Em consequência, o produto gramadense gera empregos em outros estados que vão além das fronteiras gaúchas, estimulando o empreendedorismo e incentivando o surgimento de novos empreendimentos no setor.

Jonas explica que o mercado de chocolates de Gramado se destaca diante de produções artesanais de outras cidades devido a fatores como a sua tradição na fabricação de chocolates, ingredientes de qualidade, diversidade e inovação em sabores, infraestrutura turística e o marketing e comunicação eficientes e acolhedores. 

Para perpetuar e manter o produto como um dos melhores do país e até do mundo, é preciso levar em consideração processos que garantem a procedência do produto. O especialista conta que existe uma análise de qualidade onde são avaliadas a documentação de boas práticas de fabricação, padrões internos para formulação e rastreabilidade, insumos e a produção acompanhada pelos produtores em planilhas, utilização de ingredientes adequados para manter o chocolate puro e com alta qualidade.

Tanto Jonas quanto Maurício  falam sobre a garantia de qualidade por meio do comprometimento que todos que fazem parte do processo precisam carregar consigo, seguindo as normas adequadas para que o chocolate gramadense permaneça sendo símbolo de maior comercialização na cidade. Estabelecer requisitos para produção e colocação no mercado de produtos, oferecer alimentos seguros para os consumidores e garantir o impacto social e comercial positivo com responsabilidade. 

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