Com um sistema jurídico burocrático, Brasil se torna terreno fértil para a inovação
Mercado de legaltechs e lawtechs se expande no país

Seguindo a tendência da transformação digital, o setor jurídico no Brasil se adaptou e se expandiu, aderindo aos produtos e serviços de tecnologia para otimizar os serviços jurídicos. Essa tendência ganhou um nome, chamado legaltechs e lawtechs, e tem encontrado um ambiente aberto para o desenvolvimento dessas atividades no Brasil. Com diferentes funcionalidades e práticas, muitos profissionais do setor têm buscado se alinhar à tecnologia de forma que os serviços se tornem mais eficientes, tanto para o profissional quanto para o cliente.
Para falar sobre o assunto, a equipe da Redação Start conversou com quem entende do assunto, a Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs, AB2L. Daniel Marques, advogado especializado em Regulação de Novas Tecnologias e diretor da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs. explica que o Brasil é o Vale do Silício do Direito, com mais 400 empresas do setor, que estão revolucionando os serviços jurídicos.
“Quando olhamos para o cenário internacional, apenas os EUA possuem um maior número de lawtechs, mas o Brasil possui maior diversidade de soluções. Isso ocorre pela própria complexidade do mercado jurídico brasileiro. As lawtechs oferecem soluções que permitirão diminuir custos e aumentar a eficiência dos serviços jurídicos, permitindo que os escritórios, advogados autônomos, departamentos jurídicos e judiciário gerem mais valor e melhorem a experiência de seus clientes”, comenta Daniel.
Ele conta ainda que o novo cenário mundial com as novas tecnologias é o caminho para melhorar o acesso à justiça, oferecendo mais eficácia e rapidez aos serviços jurídicos.
“Na era da hiperconectividade que vivemos atualmente, não adotar as lawtechs e legatechs significa ficar para trás na história”, diz.
O CEO e fundador da lawtech Como Registrar, Ticiano Gadelha, afirma que lawtechs atuam com soluções tecnológicas que colocam o empreendedor no centro, sem a necessidade de passar por advogados. Entre os serviços mais comuns prestados por lawtechs, podemos citar as plataformas de registro de marcas, sistemas de mediação de conflitos, negociações e venda de direitos. Já as legaltechs são destinadas para que advogados consigam otimizar o atendimento de seus clientes, com softwares de gerenciamento processual, de controle financeiro, de jurimetria, entre outros.
“O mercado brasileiro, embora ainda tímido, tem crescido, ainda que a OAB esteja, via de regra, obsoleta quanto ao uso de tais tecnologias. Algumas incentivam a inovação, como a OAB/PE, a OAB/SP, dentre outras. Esse movimento é gradual. Só em ter havido a regulamentação por meio do Marco Legal das Startups, a Ordem já sinaliza uma melhoria de compreensão. Ainda há muito o que melhorar, inclusive na própria lei, mas avanços substanciais estão sendo encampados”, comenta Ticiano.
Ele compartilha também que em um cenário onde há um sistema burocrático e alta demanda de advogados presentes no país, o Brasil se torna o melhor país para se atuar nessa área.

“A Como Registrar (escrita junta, representando a proximidade dos empreendedores com nossos profissionais), facilita todo processo de registro de marca no INPI, bem como ajuda profissionais a proteger melhor seus clientes e ainda receberem um valor a mais em sua renda”, explica.
Para Lucas Ruga Ardenghi, CEO da aDoc, empresa que visa transformar e facilitar a rotina de escritórios e departamentos jurídicos, o mercado de lawtechs/legaltechs está em constante amadurecimento, e o público-alvo tem se adaptado às soluções e aos resultados gerados. Ele compartilha ainda que o número de startups e empresas do setor cresceu significativamente, e que o setor tem buscado transformar os processos e serviços jurídicos por meio de tecnologia especializada e automação.
“O intuito das mesmas é aplicar a tecnologia a esse setor, otimizando as atividades e tarefas de forma escalável. Por tratar-se de um mercado tradicional, há inúmeras etapas em processos distintos que são executadas manualmente. As legaltechs/lawtechs preenchem essa lacuna por meio de soluções que entregam segurança, padronização e redução de custos operacionais. Falando em oportunidades, o setor jurídico, no meu ponto de vista, continua sendo um oceano azul. Por mais incrível que pareça, ainda há uma grande parcela do mercado que não conhece uma boa parte das soluções de mercado, por isso acredito que a transformação esteja apenas começando”, comenta Lucas.

A aDoc carrega a visão de oferecer aos escritórios e departamentos jurídicos as melhores tecnologias disponíveis no mercado, sejam elas locais ou globais. Entre as soluções desenvolvidas pela startup, estão a automação na elaboração e gestão de documentos, que é aplicada por meio de questionários inteligentes, ambientes de edição colaborativos, fluxos de aprovação e dashboards gerenciais. A plataforma foi desenvolvida pela Legaltech Avvoka, startup inglesa fundada com presença global.
Lucas explica ainda que um dos diferenciais da startup é a entrega de projetos customizáveis, que vão de acordo com a necessidade do cliente, por meio do desenvolvimento de automações no code. A solução permite rapidez na entrega de projetos, o que melhora significativamente a satisfação dos clientes.
“O cliente final obtém maior gerenciamento das tarefas das equipes e gerenciamento das atividades, por meio de fluxos contínuos e conectados”, finaliza.