Como se inspirar e ser criativo em campanhas na publicidade
Conhecer o produto, respeitar a história da marca e principalmente dialogar com o público ao qual ele se destina são apenas algumas ferramentas que podem facilitar esse caminho

Utilizar a criatividade para a criação de uma peça publicitária é fundamental para que o produto criado tenha um resultado positivo com clientes, despertando o desejo por parte dos consumidores de uma marca. Além da criatividade, existem recursos técnicos por trás de uma campanha publicitária, seja por meio de jingles, comerciais, conteúdos em redes sociais, e outros ativos que podem ajudar a marca a obter um resultado positivo, se forem direcionadas de maneira correta para o público certo.
Para simplificar e esclarecer dúvidas sobre o assunto, a equipe da redação Start conversou com quem entende do assunto. Murilo Torezan, diretor de criação da Dentsu Creative, agência responsável pelas campanhas da rede de fast-food Subway, afirma que a criatividade parte do pressuposto de tentar interagir com a sociedade. Segundo ele, por isso é tão importante estar antenado no que acontece na vida das pessoas e cruzar isso com as fortalezas do produto anunciado.
Dessa forma, ele explica que conseguimos entrar nas conversas de forma orgânica e criar lembrança de marca na cabeça das pessoas. Ele aponta que, para chegar ao ponto de excelência na criação de uma campanha, é necessário, antes de tudo, conhecer o produto, respeitar a história da marca e principalmente dialogar com o público ao qual ele se destina.

“A criatividade consegue, por exemplo, transformar o discurso de uma marca em entretenimento e assim entrar na rotina das pessoas e criar conversas. Quem faz propaganda faz parte da sociedade e isso precisa estar presente no trabalho criativo. A maior inspiração é o que está acontecendo à sua volta, os assuntos que estão sendo falados no mundo real”, comenta.
Com base nas campanhas da rede de fast-food Subway, Murilo esclarece que a equipe busca sempre causar uma emoção em quem assiste. Segundo ele, o argumento não pode ser apenas racional, por isso, é fundamental que a equipe busque ativos que traduzam elementos da vida real na propaganda como a música, a diversidade e até o comportamento.
Como exemplo, ele cita a campanha que lançou o Sub da Quebrada.
“Convidamos o público, numa parceria com a ONG Gerando Falcões para criar o sabor do sanduíche, o nome, a arte da embalagem e fazerem parte da campanha de fato, pois a ideia era mostrar a potência das favelas e que diferentes talentos e visões poderiam construir uma história poderosa tanto para a marca quanto para a vida das pessoas”, comenta.
Angelo Flesch, agente publicitário, compartilha que a criatividade em propagandas é essencial para chamar a atenção, criar conexões emocionais, destacar-se da concorrência e inspirar ações, tornando as campanhas mais eficazes e memoráveis. Segundo ele, isso envolve compreender o público-alvo por meio de extensa pesquisa de mercado e estabelecer objetivos claros para a campanha. Além disso, compartilha que, em seus trabalhos, utiliza um conceito central que guia o processo criativo, mantendo-me sempre alinhado com as tendências atuais.
Ele esclarece que a criatividade na publicidade frequentemente resulta da combinação de insights profundos sobre o público. Angelo compartilha ainda que, além de originalidade, relevância e criatividade na criação de uma campanha, é necessário ter clareza na mensagem que será transmitida ao público. Outra ativo citado pelo publicitário como crucial, é um embasamento sólido para construir uma consistência eficaz da marca, usando do apelo emocional, da narrativa sólida, da mensuração e otimização, da colaboração e feedback constante, garantindo que a campanha evolua.
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“Tendo uma mensagem sólida e a capacidade de se destacar em um mercado saturado, não podemos ter medo de arriscar coisas novas. Como profissional de publicidade, busco inspiração por meio de pesquisas de mercado, conhecendo profundamente o público-alvo, acompanhando tendências, colaborando com colegas, explorando diferentes mídias e mantendo-me aberto a experiências e perspectivas diversas para criar propagandas criativas e eficazes”, comenta.
Ele explica que grandes marcas como Volkswagen e Itaú utilizam diversos ativos de inspiração, como história da marca, pesquisa de mercado, criatividade visual e narrativa, para desenvolver campanhas publicitárias impactantes que se conectam com seus públicos-alvo e contam histórias memoráveis. Segundo ele, tais campanhas notáveis frequentemente resultam da combinação de fatores, incluindo pesquisas, tendências culturais e colaboração com parceiros estratégicos, como celebridades, para criar anúncios eficazes e memoráveis.
Iron Brito, diretor de criação na AlmapBBDO, agência responsável por diversas campanhas relevantes no mercado, entre elas, a campanha de lançamento do novo modelo de Kombi da Volkswagen, compartilha que a criatividade é um exercício constante. Segundo ele, quanto mais o profissional se abastecer de experiências, de leituras, de viagens, de séries, de filmes, de músicas e de cultura em geral, mais material bruto para transformar em criatividade ele terá. Outro ponto importante citado por ele, é conhecer a história criativa da indústria, saber quais foram os grandes trabalhos, ver os anuários e trabalhos que foram premiados mundo afora.

“Tudo o que a gente cria tem como destino final a mente e coração das pessoas, e a criatividade é o veículo que vai tornar essa viagem possível. Todo o resto a gente esquece, como quem passa um stories chato. Se manter curioso, atualizado, estar conectado com a cultura e a cultura pop. Se a ideia é o nosso produto-final ser criativo, tudo que a gente consome são os ingredientes para isso acontecer”, comenta Iron.
Com relação ao processo de criação da campanha do novo modelo de Kombi da Volkswagen, Iron compartilha que, antes de tudo, foi uma resposta a um bom briefing e a busca por solucionar um ‘problema’, ou seja, ressignificar para a geração que já amava a Volkswagen e se mostrar relevante também para a nova geração com tecnologia e inovação. Ele explica que a inspiração precisa servir a um objetivo claro, a um problema claro. Fica mais fácil de as coisas se conectarem e fica mais fácil de ser simples na concepção da ideia. Na AlmapBBDO, Iron afirma que as ideias estão sempre a serviço de um resultado.
“Para a concepção dessa campanha, nosso ponto de partida foram duas verdades: a primeira de que a Volkswagen faz, desde o Fusca, carros que são sucesso e que vão passando de geração em geração. E a segunda se conecta com a primeira, que é sobre todo brasileiro ter uma história com um Volks. Se não é você, foi seu pai, sua mãe, um tio ou uma avó. A partir daí, fomos atrás de histórias, formatos e personagens que pudessem representar essas conexões. E com tudo isso fervendo na mente, o repertório pessoal é o ingrediente que vai fazer a diferença na concepção da ideia, e a dupla criativa foi brilhante nessa concepção”, conta Iron.
Ele explica ainda que, uma propaganda na rede social precisa ser muito mais dinâmica e atraente, porque mais fácil do que trocar de canal, é deslizar o dedo na tela e ir para o próximo post onde terá um cãozinho fofinho esperando para te fazer sorrir. Por outro lado, Iron esclarece que a propaganda na rede social tem a possibilidade de criar uma interatividade instantânea onde o consumidor pode saber mais e comprar o produto na hora. Em ambas as mídias o desafio de ser criativo é o mesmo: prender a atenção das pessoas e deixar alguma mensagem na cabeça delas. Quanto mais simples e clara for a mensagem, mais espaço para ‘embalar’ isso de um jeito criativo.
“Eu poderia ficar muito tempo citando trabalhos maravilhosos. Mas esse trabalho dos 70 anos da Volkswagen com a Maria Rita e Elis foi especial para mim, e posso falar um pouco mais porque assisti de perto o nascimento da ideia e pude contribuir junto com todo o time envolvido, humildemente, para que ela acontecesse. E apesar de a tecnologia de Inteligência Artificial usada ter sido motivo de conversa pela inovação, para nós a mais poderosa inteligência foi a humana para despertar nas pessoas identificação, para fazer as pessoas se verem nas situações e se emocionarem nesse “reencontro de mãe e filha”. A tecnologia só serviu para tornar o produto um grande possibilitador de encontros e histórias humanas. A grande beleza dessa ideia é essa. E a produção foi à altura da ideia”, conclui Iron.