Competitividade e resiliência: artes marciais deixam ensinamentos para os negócios

22/11/23
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Redação Start

Do ponto de vista de atletas e empreendedores do setor, conheça quais as principais lições da modalidade esportiva para a vida corporativa

Foto: Unsplash
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A prática de artes marciais, além de ser caracterizada como uma atividade física que traz benefícios para o corpo humano, também é benéfica para a mente dos atletas. As artes marciais são um conjunto de técnicas de luta com origem na região oriental do planeta. Ao longo dos séculos, foram se desenvolvendo e se expandindo, dando origem a diversas modalidades, como Kung Fu, Karatê, Judô, Aikido, Krav Magá, Jiu-jítsu, Muay Thai e Taekwondo.

Cada vertente tem as suas regras mas grande parte delas possuem os mesmos princípios, baseados na disciplina, na concentração e na técnica, que, quando vivenciadas nas outras atividades do dia a dia, podem transformar a vida de quem pratica. Entre as artes marciais mais praticadas no mundo, podemos destacar o Jiu-jítsu, luta de origem japonesa criada como forma de deter oponentes mais fortes por meio de golpes e técnicas certeiras.

Segundo fatos históricos, o Jiu-Jitsu chegou ao Brasil por meio de Mitsuyo Maeda, conhecido como Conde Koma, que foi responsável por apresentar a modalidade à família Gracie por volta de 1915. O esporte foi se expandindo e se tornando cada vez mais popular, especialmente quando os Gracie passaram a levar a luta como uma profissão por meio de eventos de luta em todo o mundo.

Mas o que de fato o Jiu-jítsu tem a ver com o mundo corporativo? Muito. Segundo atletas e especialistas na modalidade, a arte marcial é responsável por ensinar aos seus praticantes que as derrotas fazem parte do processo, servindo como um aprendizado para cada indivíduo, moldando o caráter das pessoas. O atleta Viktor Dória, formado em Marketing em 1998 e em Educação Física em 2007, conta como chegou nesse universo do Jiu-jítsu e teve sua vida transformada de uma maneira positiva por meio da modalidade.

Segundo ele, sua história com a luta começou com uma briga dentro da piscina, quando atuava como atleta de pólo aquático aos 17 anos. Após a briga, Viktor foi expulso do clube e teve de escolher um outro esporte para praticar. Nesse momento, o atleta foi até a academia de Carlson Gracie, em Copacabana, no Rio de Janeiro, onde começou a treinar Jiu-jítsu e se apaixonou pelo esporte, passando a participar de inúmeras competições e campeonatos internacionais.

Segundo ele, o maior atributo que o esporte traz para a vida profissional e pessoal de um indivíduo é a autoconfiança, não uma autoconfiança que aparenta a arrogância ou a prepotência, mas uma autoconfiança que o indivíduo se torna capaz de agir de uma maneira coerente, independente do lugar em que está ou da posição do seu oponente.

Foto: @viktordoria
“A autoconfiança que o Jiu-Jitsu me deu me facilitou muito em toda a minha vida, não que eu fosse uma pessoa tímida ou intimidada por situações de poder. O esporte me deu uma autoconfiança tamanha que eu acredito que as pessoas têm que saber dosar para que não passe como prepotência e arrogância, mas de uma maneira equilibrada, tratando todos como iguais”, comenta.

Ele compartilha ainda que o competidor tem que ser extremamente resiliente, sabendo atuar com calma e tranquilidade sob muita pressão. Ele explica que, quando o atleta está embaixo do seu oponente forte e mais pesado, o que acontece muito, é necessário manter a calma e a tranquilidade, respirar e pensar em todas as ações e movimentos realizados. Ele acredita que o Jiu-jítsu transfere muito desses ativos e habilidades para a vida real e para o empreendedorismo, principalmente nas situações de dificuldade. 

“Acredito que o Jiu-jítsu ensina isso, como ser resiliente, se acostumar e até mesmo se dar bem no meio do perrengue, da pressão e do clima revolto. Nas minhas mentorias falo muito sobre isso, que é preciso haver consistência em tudo na vida, e o Jiu-jítsu não é diferente. Na minha carreira, tive pouco mais de mil alunos e, para mim, é muito fácil fazer essa inter-relação do Jiu-jítsu com a vida real e com o empreendedorismo. Você sendo dono de um ou está buscando um lugar ao sol na empresa que você trabalha, no seu ambiente corporativo, o esporte facilita muito essas ligações, conexões para que a pessoa entenda o quanto que tem de realidade da vida dentro do tatame, e o quanto que tem de Jiu-jítsu na vida do empreendedor, do executivo, do trabalhador, do profissional”, aponta.

Viktor Dória possui mentorias e comunidades em que carrega como missão fazer pelos seus atletas aquilo que gostaria que tivessem feito por ele na sua época de atleta profissional. Ele compartilha que no curso Consistency is the Key existem uma série de módulos voltados para o desenvolvimento do aluno de uma maneira que o torne profissional, trazendo para dentro do Jiu-jítsu o que existe no MMA, por exemplo, com investimentos necessários, apoio e treinamento para atletas. 

“Considero que o meu trabalho com os meus atletas supera o de muitos agentes de atletas de MMA, por conta do cuidado, dentro da minha área, dando uma possibilidade a muitos profissionais dentro do esporte”, completa Viktor.

Assim como Viktor, Humberto Santos, professor e atleta na Associação Gramadense de Jiu-jítsu, afirma que a modalidade esportiva contribui ativamente com o desenvolvimento de um indivíduo, de diversas maneiras. Entre elas, o desenvolvimento físico e mental, adaptação, o aprimoramento da autoconfiança, respeito e ética, a habilidade de solucionar problemas, competitividade saudável, perseverança e adaptação às mudanças.

Ele explica que a prática regular do Jiu-jítsu promove um aumento da resistência física, flexibilidade, equilíbrio e coordenação motora. Além disso, o treino constante também estimula a disciplina, a concentração e a tomada de decisões rápidas. Outro fator citado pelo professor é a facilidade em lidar com situações adversas e a se adaptar a diferentes cenários durante as lutas. Ele afirma que essa habilidade de se manter calmo e focado mesmo sob pressão é valiosa tanto na vida pessoal quanto profissional.

Foto: Arquivo pessoal
“Conquistar graduações e superar desafios no tatame contribui para o desenvolvimento da autoestima e da confiança em si mesmo. Essa confiança pode ser transferida para outras áreas da vida, como no ambiente de trabalho. O esporte valoriza o respeito pelos colegas de treino, instrutores e oponentes. Esses valores de respeito e ética podem ser levados para o ambiente profissional, promovendo um ambiente de trabalho mais harmonioso e colaborativo. Durante os treinos e competições, os praticantes de Jiu-jítsu aprendem a analisar situações complexas e a encontrar soluções eficazes para superá-las. Essa habilidade de resolver problemas pode ser aplicada em diversas situações profissionais”, comenta.

Além dessas lições e ensinamentos, Humberto compartilha que a modalidade demanda paciência e persistência para aprimorar técnicas e superar desafios. Segundo ele, essa mentalidade de não desistir facilmente pode ser aplicada nos negócios, em que a persistência muitas vezes é fundamental para o sucesso. 

“Essa mentalidade de competição saudável pode ser benéfica para empreendedores, incentivando-os a buscar a excelência, com ética e valores. Essa gama de benefícios vai além da habilidade física, contribuindo para o desenvolvimento pessoal, social e profissional de um indivíduo. As lições de perseverança, competitividade e resiliência aprendidas na prática do Jiu-jítsu podem ser aplicadas de forma valiosa no mundo dos negócios e na vida de um empreendedor”, acrescenta.

Humberto começou no Jiu-jítsu em 2012, convidado por um amigo. Após seis anos de treino, ele passou para a faixa marrom, quando se tornou professor. Atualmente, com 12 anos de prática e já na faixa preta, Humberto é um dos responsáveis técnicos da Associação Gramadense de Jiu-jítsu, que tem como missão promover cidadãos, por meio da arte suave, os princípios de respeito, disciplina, irmandade e competitividade. A associação atende uma média de 120 crianças e 60 adultos, com apoio da Prefeitura de Gramado e da Secretaria de Esporte e Lazer.

“A meta da associação é tornar esses alunos não somente atletas, mas melhores indivíduos na sociedade”, conclui Humberto.

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