Consumo consciente cresce como tendência no mercado da moda
Brechós online reinventam negócios por meio de modelo sustentável
O consumo consciente envolve a busca por produtos e serviços que causem o menor impacto possível na sociedade e no meio ambiente. Isso envolve desde os recursos naturais utilizados para produção, bem como toda a cadeia produtiva até o fim da vida útil de determinado produto. Esses itens e serviços também devem ser produzidos de forma ética.
De acordo com Luanna Toniolo, da TROC - o maior brechó online do Brasil, as pessoas acreditam que somente atos extremos trazem resultados efetivos, mas pequenos atos podem ser muito importantes, como separar o lixo e destinar pilhas no local correto. “Falando em moda, aumentar a vida útil do que temos no guarda-roupa, seja repassando para a prima, melhor amiga ou vendendo”, comenta.
Esse processo pode ser desencadeado por meio de questionamentos. O primeiro deve ser feito quando você sente vontade de comprar algo: “Eu realmente preciso disso?”. As perguntas seguintes devem ser sobre a durabilidade do produto em questão. “Quanto maior a qualidade, mais vai durar, e você vai demorar em consumir novamente esse produto. Depois vem questões como a formulação e procedência, a mão de obra utilizada para sua confecção, qual o impacto causado para esse produto chegar até você no sentido de logística, qual o consumo de energia que ele teve, qual tipo de recurso financeiro irá utilizar para comprar e como esse produto será descartado após o término de sua vida”, aponta.
Conforme Luanna, uma visão mais abrangente de toda indústria da moda mostra que o caminho mais viável é que ela se alinhe aos princípios da economia circular. Primeiro, o ideal é que roupas não sejam descartáveis. Com mais qualidade, elas mantêm seu valor durante o uso e depois podem reentrar na economia.
“A verdade é que a cultura da moda descartável está esgotando os recursos naturais e enchendo os aterros sanitários de resíduos. O melhor que podemos fazer é consumir menos ou consumir com qualidade e, principalmente, reutilizar mais. Aí entra a TROC!”, explica.
A TROC, por sua vez, é um brechó online, considerada a maior plataforma de moda circular do Brasil. “Recebemos todas as peças e analisamos individualmente. Depois colocamos à venda aquelas que têm qualidade, garantindo uma excelente experiência para os dois lados. É seguro e prático para quem vende e uma verdadeira oportunidade para quem compra. É um consumo consciente fazendo valer a produção daquela peça”, salienta.
Por que empresas devem investir no consumo consciente?
O primeiro e o mais importante dos pontos é a questão ambiental. O modelo atual é consumista e pressiona os recursos naturais. De acordo com Luanna, a indústria da moda consome principalmente recursos não renováveis. São cerca de 98 milhões de toneladas por ano, incluindo a produção de matérias como o óleo para as fibras sintéticas, fertilizantes para cultivar algodão e produtos químicos para produzir, tingir e finalizar fibras e têxteis. “O que agrava ainda mais esse cenário são as baixas taxas de uso das roupas e também baixos níveis de reciclagem”, coloca.
Outro ponto é que as novas gerações de consumidores também estão muito atentas com a cadeia produtiva da moda e dos mais diversos setores. “Costumo dizer que são pessoas que já nasceram “shipadas” com a questão do consumo consciente. Então, se não por uma questão genuína de cuidado com o meio ambiente, terá que ser por uma demanda dos consumidores”, afirma.
Luana também acredita que a moda circular é um nicho em ascensão. Além dos seus próprios números, há uma movimentação no mercado como um todo. Em um relatório apresentado pela thredUP, o mercado de segunda mão online deve crescer 69% entre 2019 e 2021, enquanto o setor de varejo em geral deverá diminuir 15%. Estima-se que, até 2033, roupas usadas representarão mais de 50% do armário do consumidor.
A empresária também sente um crescimento do público na busca por soluções mais conscientes. Conforme ela, a Geração Z e a Millennial estão impulsionando o crescimento das compras de segunda mão.
“Desde o início do ano, estamos passando por uma situação de pandemia e os cenários estão mudando de uma forma muito significativa. Nesta pesquisa da thredUP, por exemplo, quatro em cada cinco pessoas dizem que têm ou estão abertas a fazer compras de segunda mão por motivos econômicos. A revenda online tem ocupado esse espaço de consumo acessível com conforto e na proteção de casa. O isolamento trouxe as pessoas para a reflexão do “porquê” das coisas e estamos sentindo diretamente a mudança de comportamento e adesão ao second-hand até mesmo das gerações mais conservadoras”, finaliza.