Crise Climática: seca, enchentes e calor extremo ameaçam o Brasil e abrem olhar para ações futuras

11/6/24
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Publicado por 
Redação Start

Cientistas alertam sobre a intensificação dos fenômenos climáticos e a necessidade de ações urgentes

Foto:Unsplash
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Os últimos acontecimentos climáticos provocados pelos efeitos do aquecimento global, unidos aos efeitos do El Niño, têm dado espaço para questionamentos que vêm sendo abordados há décadas pelos cientistas a respeito das condições da terra. Desde a época dos nossos avós, ouvimos afirmações de que o mundo acabará em algum momento devido às consequências da industrialização, e o uso e descarte de recursos em ritmo acelerado. Em 2023, por exemplo, ocorreram diversos acontecimentos extremos, como a seca severa no norte do país, os ciclones e enchentes em cidades do Rio Grande de Sul, e a onda de calor excessiva em parte do país. 

Tudo isso já vem sendo alertado pelos cientistas há vários anos. Em um conteúdo publicado pela Folha de São Paulo, a quantidade de secas e cheias no país sofreu um aumento expressivo nos últimos dez anos. Como exemplo, a matéria cita os rios Taquari e Caí, no Rio Grande do Sul, que bateram os três maiores recordes de cheia desde 2022. Já o rio Amazonas, que havia tido a sua maior cheia em 2021, teve sua pior seca em 2023.

As enchentes provocadas em Porto Alegre pelo transbordamento do lago Guaíba não são um problema isolado. O Serviço Geológico do Brasil (SGB) aponta, em levantamento feito para a Folha, que recordes de enchentes e secas foram bem mais comuns na última década do que em períodos anteriores. Em uma explicação simples, o cientista e influenciador Sérgio Sacani, em entrevista para o podcast PodPah, afirma que o planeta não acabará como muitos falam, mas sim a humanidade, visto que a humanidade foi criada para viver em condições climáticas que temos atualmente, mas não em condições climáticas extremas que teremos no futuro, segundo diversas pesquisas sobre clima.

Em entrevista, o fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS), professor e meteorologista, Humberto Barbosa, compartilha que o LAPIS, em colaboração com o relatório especial do IPCC (2019), reuniu todas as pesquisas dedicadas a atmosfera para criar um documento específico de avaliação dos avanços climáticos e consequências sobre a terra. Por meio do relatório desenvolvido por uma equipe de pesquisadores, foi possível perceber que cerca de 13% do território brasileiro está em situação de desertificação, ou seja, uma área que, inicialmente, sofreu degradação. Segundo ele, a área mapeada que mais sofre com a degradação é a região amazônica e o cerrado, porém, a área com maior índice de desertificação é a caatinga brasileira.

Como diagnóstico do estudo, Humberto aponta que a degradação do meio ambiente tem muita influência no contexto de mudanças climáticas. Segundo ele, a quantidade de emissões de gases poluentes emitidos na atmosfera foi duplicada, ou seja, a humanidade pôde experimentar um aumento significativo na temperatura da superfície do planeta, acima do que era em 1850 com cerca de 5°C a menos do que experimentamos atualmente, em função de atividades onde os recursos são explorados.

Como consequência, os eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, se tornaram mais frequentes e intensos, refletindo o impacto das mudanças climáticas. Ele ressalta que, além dos efeitos no clima, a situação reflete também na situação econômica e social. Por esse motivo, ele indica que o poder público deve olhar com mais atenção em busca de minimizar os efeitos climáticos com medidas mais agressivas.

“É muito provável que a partir de agora as secas vão voltar e não são mais estritas as região das terras secas brasileiras, mas sim, a região sudeste, centro-oeste até o sul do Brasil. Apesar de que neste momento o extremo sul do Brasil vem enfrentando áreas de enchentes e inundações severas, é provável que no segundo semestre a estiagem possa ser dominante, em função não só da variabilidade climática, mas em função também das mudanças, do aumento das temperaturas e a redução das chuvas”, comenta Humberto.

Além de todas as mudanças climáticas, a humanidade ainda precisa enfrentar os fenômenos climáticos e os seus impactos sobre a terra. A exemplo disso, podemos citar o El Niño, que provoca secas no Nordeste e enchentes no Sul, e La Ninã, que esfria as águas do pacífico trazendo condições opostas. Humberto explica que o LAPIS utiliza tecnologias para monitorar e prever esses fenômenos, ajudando a minimizar seus impactos, porém, é necessário que haja iniciativas concretas que levem em consideração estudos e pesquisas relacionadas ao clima e à atmosfera.

Esses eventos demonstram como as mudanças climáticas e a variabilidade natural dos fenômenos climáticos, como El Niño e La Niña, interagem, potencializando desastres naturais. O aumento das temperaturas globais devido às emissões de gases de efeito estufa intensifica esses impactos, exigindo respostas rápidas e eficientes. Em resumo, a inovação, a tecnologia e a industrialização, embora tragam benefícios, também impõem sérios riscos ao meio ambiente e à humanidade. 

A degradação ambiental e as mudanças climáticas em excesso pelas atividades humanas são evidentes para os pesquisadores e sentidas pela população. Por isso, ferramentas como o monitoramento por satélite são essenciais para entender e buscar por mudanças enquanto ainda é possível transformar o futuro. Porém, a redução das emissões de gases de efeito estufa e a gestão sustentável dos recursos naturais são cruciais para evitar que esses avanços tecnológicos levem a humanidade a um ponto sem retorno.

“O aumento das temperaturas condicionam a mais umidade em regiões onde você tem formação ou fenômenos que trazem mais umidade ou em outras áreas onde você tem a condição de fenômeno que deixa a atmosfera mais seca, condição de um padrão El Niño. No caso do nordeste brasileiro, isso inibe a formação de nuvens e, com isso, a atmosfera fica mais seca e você tem uma condição climática que favorece as secas. Em função das altas temperaturas e da redução das chuvas, esse é o padrão principalmente do El Niño, e isso faz com que você tenha essas respostas de desastres extremos, não só fenômenos, mas também do aquecimento global. Como consequência, podemos experimentar mais umidade, e quanto mais umidade, mais calor, mais enchentes, mais chuvas e mais inundações”, comenta Humberto.

O poder transformador das práticas ESG

Para solucionar ou minimizar esses problemas climáticos e evitar que a humanidade sobreviva sob condições intoleráveis para a vida na terra, podemos citar soluções que têm ganhado destaque em meio ao mundo corporativo, o ESG. Em busca dessas mudanças, Anna Beserra, cientista e CEO da CEO da Sustainable Development & Water for All (SDW For All), negócio de impacto social que busca mudar a vida de bilhões de pessoas que sofrem sem acesso à água e saneamento, afirma que o futuro da humanidade depende de ações imediatas e decisivas. 

Segundo ela, é necessário reduzir as emissões de gases de efeito estufa, promover a energia renovável, proteger as florestas e recursos hídricos, e adaptar as comunidades aos impactos inevitáveis das mudanças climáticas. Essas medidas são fundamentais e devem ser levadas a sério tanto por empresas, quanto pela população e, principalmente, pelo poder público, como políticas de mitigação, adaptação e resiliência são cruciais.

Segundo ela, as políticas públicas essenciais podem seguir duas linhas principais:

Linha empresarial: Implementar isenções fiscais para empresas com comprovado viés sustentável e taxar aquelas que têm impacto ambiental significativo. Atualmente, muitas empresas com impactos ambientais negativos recebem isenções fiscais, o que precisa mudar.

Políticas afirmativas: Implementar políticas para pessoas em situações de vulnerabilidade, principalmente aquelas em habitações irregulares e territórios de alto risco, para que possam se mudar para locais seguros e com infraestrutura adequada.

Porém, existem desafios que devem ser enfrentados nesse momento, como investir em pesquisa e desenvolvimento, promovendo inovações tecnológicas que sejam economicamente viáveis e socialmente aceitas. Além disso, é importante  implementar políticas de incentivo por meio de subsídios e incentivos fiscais para projetos sustentáveis, e promover a educação e conscientização ambiental sobre a importância da sustentabilidade, não somente dentro das escolas, mas em todos os ambientes circuláveis.

Atualmente, a humanidade tem enfrentado diversos desafios em relação a gestão de recursos e saneamento, por esse motivo, o olhar por parte do poder público é fundamental para a massa se interesse pela temática e de fato busque engajar e colocar em prática conceitos que fazem a diferença para o futuro. Entre os principais desafios, Anna cita a escassez de água potável, a poluição dos recursos hídricos, a falta de infraestrutura de saneamento em áreas rurais e urbanas, e a necessidade de tecnologias sustentáveis para a gestão eficiente dos recursos naturais.

Segundo ela, uma abordagem ESG bem estruturada não só eleva a reputação da empresa, como também atrai investidores conscientes e engaja a equipe de trabalho de maneira significativa. Ela aponta que os indicadores concretos de que uma empresa está indo além do básico em suas práticas ESG incluem a redução das emissões de carbono, melhorias nas condições de trabalho e impactos positivos na comunidade local. Esses indicadores não são apenas métricas ambientais e sociais, mas refletem um compromisso profundo com a sustentabilidade e a responsabilidade corporativa.

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“As práticas de ESG podem contribuir significativamente para a redução do aquecimento global, especialmente quando as empresas adotam medidas para reduzir suas pegadas de carbono, promover a eficiência energética e utilizar recursos renováveis. Além do impacto ambiental, práticas de ESG bem implementadas também abordam questões sociais, como garantir condições de trabalho justas, promover a diversidade e inclusão, e investir em comunidades locais. Essas ações não só ajudam a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, mas também criam um ambiente social mais equitativo e resiliente. Nos próximos anos, o ESG deve se consolidar como uma prática essencial para a sustentabilidade corporativa. Os primeiros passos incluem a implementação de políticas claras, o monitoramento contínuo dos impactos e a transparência na comunicação dos resultados”, aponta Anna.

Já a química e especialista em ESG, Laura Brant, enxerga o futuro do ESG sob uma perspectiva otimista. Para ela, as práticas ESG estarão completamente disseminadas e embasadas em regulamentações rigorosas. Além disso, estarão integradas ao cotidiano das empresas e sujeitas a fiscalização constante por parte das autoridades, investidores e consumidores. Segundo ela, para garantir que as iniciativas ESG sejam efetivas e duradouras, é necessário entender a importância do ESG não apenas como uma adequação a legislações, melhoria de imagem ou valorização de mercado, mas como uma nova mentalidade a ser adotada em todos os níveis da organização e integrada à empresa.

“Com base nos pilares de Meio Ambiente, Social e Governança, será necessário analisar os processos e etapas da empresa para avaliar quais procedimentos precisam ser redefinidos e quais devem ser implementados. Em seguida, é importante planejar as mudanças, definindo metas e métricas a serem alcançadas e estabelecendo um plano de ação para atingi-las. Por fim, deve-se monitorar o andamento do plano de ação com base no que foi estabelecido previamente. Recomenda-se a formação de comitês multidisciplinares responsáveis pela implementação dos passos supracitados e treinamento sobre o tema para todos os funcionários”, comenta Laura.

Ela explica que, embora haja avanços notáveis na regulamentação ESG no Brasil, são necessárias políticas mais rigorosas. Além disso, ela destaca que é essencial enfrentar desafios específicos, como o desmatamento e as emissões de carbono provenientes de setores específicos. 

“Reforçar a regulação ESG no Brasil, com base em lições aprendidas com outras regulações internacionais, como a Europeia, é essencial para impulsionar uma abordagem mais abrangente e eficaz. Não podemos negar que já estamos vivenciando os efeitos do aquecimento global. Contudo, as práticas ESG podem contribuir significativamente para a redução das estatísticas e diminuição dos impactos no meio ambiente e na qualidade de vida dos cidadãos. Essa redução, no entanto, depende de uma implementação generalizada e séria por parte das empresas, da população e das autoridades. É necessária uma mudança de mentalidade visando entender que todos temos um papel importante diante dessa realidade e devemos cobrar por mudanças de todos os agentes envolvidos, direta e indiretamente”, reforça Laura.

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