Cuidados que micro e pequenos empresários devem ter na área financeira para começar bem 2023
Separação entre pessoa física e jurídica, controle de gastos e acompanhamento do fluxo de caixa estão entre os desafios citados pela mentora do programa Chamada de Impacto, do Impact Hub Floripa

Com a chegada do final do ano, as listas de resoluções começam a ser produzidas, e colocar as contas em dia está sempre presente entre as metas elencadas pelos brasileiros. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), micro e pequenos empresários tiveram bons resultados nessa área em 2022: a proporção de micro e pequenas empresas inadimplentes atingiu o menor patamar registrado em toda a série histórica, com 24%. A pesquisa mostrou também que 37% dos pequenos negócios estão com as dívidas sob controle e 39% não apresentam dívidas. Agora, crescem as expectativas para saber como será a performance financeira das empresas em 2023.
Para a mentora na Chamada de Impacto, Karin Fischdick, a área financeira define o desempenho dos demais setores de uma empresa. “É como se a área financeira fosse o oxigênio de uma empresa. É a partir dessa performance que é possível avançar em outros aspectos, como um investimento em equipamentos, captação de novos clientes e até criação de novos produtos", explica. Com 28 anos de experiência na área financeira, Karin atua na iniciativa, que possui metodologia do Impact Hub Floripa, e em 2021 e 2022 foi realizada pelo Sebrae MT, voltada para a capacitação de proprietários de pequenos negócios em todo o território nacional, de qualquer ramo, formalizados ou não.
A especialista conta que as mentorias realizadas durante a Chamada são divididas em três encontros individuais, em que o empreendedor apresenta seu negócio e, com apoio dos mentores, elenca os principais desafios da empresa, delimita um plano de ação e elabora um cronograma para implementação de melhorias. Nesses encontros, Karin identifica as dificuldades dos micro e pequenos empreendedores ao gerir as finanças de seus negócios. Abaixo, ela cita as principais.
- Separação entre pessoa física e pessoa jurídica
A mentora aponta essa como a maior dificuldade entre os micro e pequenos empreendedores com quem conversa ao longo do programa e diz que, apesar de muitas pessoas falarem que não conseguem, é preciso compreender a importância de não fazer essa mistura. De acordo com ela, programas de capacitação são importantes também para essa conscientização.
Segundo a mentora, do ponto de vista da empresa, a correta segregação privilegia o planejamento do capital de giro suficiente para rodar as operações diárias com tranquilidade, como pagamento dos fornecedores, funcionários, impostos e taxas."Também contribui para a apuração correta do resultado e indicadores de desempenho da empresa, além de sobra de caixa para emergências e iniciativas de expansão", pontua.
Ela ainda ressalta que encarar a empresa como um "caixa eletrônico", que utiliza sempre que precisa pagar suas contas pessoais, traz a desconfortável sensação de estar trabalhando de graça e sem descanso. "O empreendedor merece a segurança de receber um pró-labore fixo, que proporcione qualidade de vida, momentos de lazer com sua família e gratidão por estar sendo bem remunerado pelos seus serviços", pondera Karin.
“A Chamada não exige que o empreendedor tenha um negócio formalizado para participar e, ainda que esse não seja o foco do programa, nós oferecemos orientação nesse sentido, porque a formalização abre mais possibilidades, além de ajudar na organização. Para quem tem dúvidas, o Sebrae pode auxiliar gratuitamente os pequenos empreendedores nesse processo”, diz.
- Controle de gastos minucioso
Segundo a mentora, muitos empreendedores chegam com uma noção média em relação aos gastos da empresa, quando o indicado é fazer um controle minucioso. “É muito importante acompanhar a movimentação financeira da empresa de forma detalhada. Costumo dizer que as grandes mudanças estão nos pequenos valores e, só com o planejamento financeiro detalhado, conseguimos entender o que demanda mudança, como a necessidade de revisão da precificação para ajuste da margem de lucro”, explica. Ela cita outros exemplos, como a renegociação com fornecedores, desperdícios com energia elétrica, materiais de limpeza e escritório.
- Vendas fiadas
“Converso com muitos empreendedores que me falam ‘se eu não vender fiado, eu não vendo’. Esse é um cenário mais comum entre as micro e pequenas empresas”, conta. Para Karin, ainda que a prática de vender antes e receber o pagamento depois não seja recomendada, em casos como esses, é possível traçar estratégias para fazer isso com segurança.
“Quando me deparo com esse tipo de situação, começo a falar sobre estratégia de vendas. Primeiro, fazer alinhamentos claros para que o comprador saiba quando a cobrança da venda será feita, até para que o próprio cliente possa se organizar financeiramente. Se o empreendedor tem clientes que pagam à vista, esses se tornarão os perfis de cliente ideais, e podem virar promotores do seu negócio para outras pessoas com perfil parecido”, detalha. Segundo a mentora, o principal é fazer com que essas vendas não impactem o andamento do negócio, como a compra de insumos e o início da produção.
- Gestão do fluxo de caixa
Aqui, a especialista conta que, nas mentorias, sempre indica a criação de uma planilha online, mas que adaptações podem ser feitas caso o empreendedor não se acostume ao modelo. “Tem quem só se adapte ao analógico, às anotações com papel e caneta. Não tem problema, o importante é ter esse fluxo de caixa atualizado e fazer sempre o acompanhamento”, diz. Ela explica que, a partir desse acompanhamento, também é possível expandir as estratégias de venda.
“Se, pelo acompanhamento do fluxo de caixa, o empreendedor percebe que vende mais às segundas e terças, já começamos a montar um plano para que ele expanda esses números nos outros dias da semana. Criar uma promoção, estabelecer parcerias, procurar locais de vendas diferentes… Há muito o que ser feito, mas só é possível ter essas ideias se nós sabemos detalhes da operação”.
Palavra-chave para os empreendedores deve ser “acompanhamento”
A mentora finaliza alegando que a principal mudança que os empreendedores devem fazer é melhorar o acompanhamento da área financeira dos negócios. “Todos os desafios e estratégias de melhoria passam por isso. Se você acompanha detalhadamente e diariamente os gastos, o fluxo de caixa e o pagamento de clientes, por exemplo, já está muito mais capacitado para tomar decisões e saber realmente como o seu empreendimento está performando”, finaliza.