Da diversão à narração: como Ana “Anyazita” Muniz conquistou espaço no universo gamer.
Caster de importantes eventos de eSports no Brasil, ela comenta como é ser mulher no mundo dos jogos.
.png)
Ela nasceu Ana Marcella Loyola Muniz, mas o mundo gamer a conhece como Anyazita. Jogadora “não tão boa”, nas palavras da própria, ela transformou a diversão de narrarcompetições junto com amigos em trabalho sério. Unindo conhecimento técnico com desenvoltura e bom humor, Anyazita começou sua trajetória em 2019, utilizando a mesa de jantar da casa dos pais como estúdio improvisado. Mesmo com um espaço pouco profissional, ela conquistou seu lugar como narradora e hoje contabiliza mais de 200 competições no currículo, abrangendo 17 modalidades diferentes, como League of Legends, VALORANT, CS:GO, Free Fire e Pokémon UNITE.
Formada em Relações Internacionais e apaixonada por gente, ela conciliava os estudos com a paixão pelos games, chegando a ser capitã e única mulher no time de League of Legends de sua universidade. Em 2023, Anyazita integrou a equipe de casters do CBLOL Academy, a liga de desenvolvimento do League of Legends no Brasil. Seu talento e dedicação a levaram a um marco histórico: em fevereiro do ano passado, tornou-se a primeira mulher a narrar uma partida oficial do CBLOL, o principal campeonato brasileiro de League of Legends, durante os confrontos entre RED Canids x Fluxo e LOS Grandes x FURIA. O impacto de Anyazita no cenário de eSports foi reconhecido com sua indicação ao Prêmio eSports Brasil 2024 na categoria de Melhor Caster.
Além de sua atuação como narradora, Anyazita é uma criadora de conteúdo ativa em plataformas como Twitch, TikTok e YouTube e uma das convidadas do curador Rodrigo Selback para a Arena Geek da Gramado Summit, que ocorre de 4 a 6 de junho, no Serra Park. Em entrevista para o Start, ela fala sobre os desafios de ser mulher no universo gamer e o crescimento da presença feminina nas competições.
Como surgiu seu interesse pela narração de jogos e quais desafios você encontrou por ser mulher nesse universo?
Sou formada em Relações Internacionais e sempre gostei da área de comunicação. Durante a faculdade, eu desenvolvi um pouco mais disso, porque eu era muito tímida. Alguns projetos que simulavam comitês da Organização das Nações Unidas (ONU) e estar diante de uma plateia colaboraram para que eu desenvolvesse muito a minha capacidade comunicativa. Nunca joguei muito bem, mas gostava de fazer narrações, por diversão.
Então, surgiu a oportunidade para fazer a transmissão, junto com outras mulheres, de uma liga que não tinha transmissão oficial no Brasil, a liga feminina da Gamers Club. Fui com a cara e com a coragem, não tinha nenhuma experiência, mas gostava de brincar com isso e me apaixonei. Eu estava num cenário masculino, mas sempre que havia oportunidade de narrar campeonatos focados no público feminino, me jogava de cabeça. A recepção é bem diferente quando você está em um projeto para as mulheres, pessoas não binárias e mulheres trans.
Outro ponto são os ataques que muitas mulheres sofrem no universo gamer, especialmente comentários negativos sobre a sua imagem e o seu trabalho. Como você lida com isso?
Eu já ouvi todo o tipo de comentário, sobre a minha voz e até o meu corpo, mas assimilei da seguinte maneira: são sussurros de negatividade e gritos de positividade. Pensei que, se eu estava incomodando, é porque estava fazendo a coisa certa, trazendo algo diferente. Tenho apoio dos homens que trabalham comigo, mas sei que isso é um privilégio. Também produzo conteúdo sobre beleza e autoestima e sou uma mulher com um corpo que não é o padrão. Já sofri gordofobia no trabalho. É um cenário em que, se você não tiver um psicológico rígido, é difícil seguir em frente. Mas me dedico todos os dias para entregar uma narração melhor a cada trabalho que faço.
Que conselho você daria para uma mulher que deseja ingressar na produção de conteúdo para o universo gamer?
Se você tem esse sonho, eu acho que é importante lembrar que a sua voz merece ser ouvida. Como mulher, como comunicadora, como apaixonada por jogos. Eu sinto que nesses cinco anos, eu passei por muitos altos e baixos, eu tive apoio de pessoas que nunca me deixaram desistir. O grande ponto é que eu não estou mais sozinha nisso, e cada dia que passa, eu sei que tem outras mulheres ingressando nesse universo, seja jogando, produzindo reportagens, cobrindo eventos e narrando. Eu estou na frente da câmera, mas tem gente que está atrás e isso dá muita esperança. Eu sei que é um processo demorado, a gente provavelmente ainda vai demorar muito tempo pra conseguir ver um padrão de equidade. Acredito que, se um dia eu parar de narrar, terei deixado algumas sementes e flores plantadas. É importante não desistir, mesmo que ainda haja muito preconceito e desafios. O que mais gosto na comunicação é que vai muito além de passar uma informação, é o contato humano e as trocas genuínas que estabelecem um vínculo com um público. Posso ter uma narração não tão boa em um dia e alcançar um ótimo resultado em outro. Mas poder trocar com as pessoas durante uma transmissão não tem preço.
Não perca!
Anyazita na Gramado Summit
Além do gameplay: o trabalho do Caster
Dia 5 de junho às 12h15
Ingressos em www.gramadosummit.com