Que seja doce: da violência e preconceito à criação de uma doceria com impacto social

28/6/21
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Publicado por 
Redação Start

Conheça a história de Tiago Schmitz, jornalista que encontrou a sua essência criando uma doceria

Que seja doce: da violência e preconceito à criação de uma doceria com impacto social
Que seja doce: da violência e preconceito à criação de uma doceria com impacto social

Um ambiente rodeado de panelas, pratos, talheres e alimentos foi onde o conceito de aceitação e amor próprio foi compreendido. Não foram necessários grupos de conversas, rodas de discussão para que Tiago Schmitz aprendesse. Foi com a sua avó que ele aprendeu o real significado do amor e da sexualidade: transformação e liberdade.

Desde muito cedo, o jornalista e empreendedor se deparou com muitos entraves para a aceitação de sua sexualidade. Mais do que isso, passou a se questionar sobre o seu propósito no mundo e a disseminar alguns preconceitos próprios ao lidar com questões de gênero.

Além disso, quando adolescente, Tiago enfrentou os primeiros traços de violência. Por ser instigado a viver a sua versão, desde cedo sofreu com o preconceito dos demais. Em pequenos atos, a disseminação do preconceito e a falta de empatia já faziam parte do cotidiano do jovem. “Me recordo da minha primeira comunhão, onde minha mãe me vestiu de maneira diferente. Eu usava uma camisa branca e uma gravata rosa. Além disso, tinha os cabelos longos, o que fez com que eu tivesse que ser separado dos demais meninos na entrada da igreja”, relata.

Mesmo com o passar do tempo, ações como essas são ainda comuns. Com base nos dados obtidos pelas denúncias do Disque 100, iniciativa do Ministério dos Direitos Humanos, em 2017, foi possível identificar que a maior parte das denúncias da comunidade diz respeito à violência psicológica. Essa categoria inclui atos de ameaça, humilhação e bullying.

Essas ações fizeram com que a interação e desenvolvimento de Tiago fossem mais difíceis. Além disso, o trauma e todas as ações sofridas durante diferentes fases da vida fizeram com que durante muito tempo Tiago não olhasse para o próximo de forma amorosa. Desta forma, acabou relativizando até as próprias causas homossexuais. “Esse modelo não se sustenta, obviamente. Com o tempo, aprendi que não estava sozinho no mundo e que era necessário falar mais sobre isso”, comenta Tiago.

Ele ainda conta que cumpriu, por muito tempo, os aspectos heteronormativos. Muito disso, por consequência da sua insegurança para o crescimento na carreira da comunicação. Com a pressão no ambiente de trabalho, a violência moral e física, Thiago entrou em depressão e decidiu que esse não era o caminho a seguir. “Depois desses episódios, eu busquei a terapia para me encontrar. O meu currículo estava impecável, as oportunidades eram incríveis, mas eu não estava nem um pouco satisfeito”, relata.

Após essa fase, Thiago decidiu falar sobre sua orientação sexual e evitar todo o tipo de ambiente que disseminasse o discurso de ódio e preconceito. A partir daí, o respeito e a empatia com o próximo seriam decisivos para que ele se fizesse presente. “Foi aí que eu criei o meu negócio. Eu queria sair desse lugar comum, onde é errado ter tatuagem, se vestir diferente e partir para algum local que realmente representasse a diversidade”, diz Tiago.

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Tornar o dia do outro mais feliz (e doce):

No momento em que Thiago entendeu o poder da sua aceitação e do seu amor próprio, ele compreendeu também o seu real propósito no mundo. Em meio a sabedoria e amor de sua avó Massímilia Conceição da Câmara, o jornalista compreendeu que transformaria o mundo por meio da culinária.

Em 2014, depois de 10 anos no mercado corporativo na área de marketing, resolveu tirar do papel seu projeto pessoal e iniciou a história da Charlie Brownie – uma marca de doces que busca ser inspiradora tornando o dia das pessoas mais feliz.

Muito mais do que um projeto empreendedor, a Charlie Brownie é uma forma de enxergar o mundo com mais empatia. Atualmente, a Charlie Brownie tem duas lojas em Porto Alegre e serve inúmeros doces que são inspirações da “vó Mila”.

O nome Charlie Brownie é inspirado nos personagens que marcaram a infância de Tiago. A primeira experiência de venda foi em uma festa junina, em uma Escola de Porto Alegre. Em menos de quatro horas, todas as unidades foram vendidas. Depois desse episódio, Tiago sentiu que seria a oportunidade de contar a história da sua família e de levar a sensibilidade e aceitação para outras pessoas.

A partir daí, a Charlie se tornou também um projeto de mudança social. Com a criação da marca, foi possível chegar em escolas e projetos sociais que promoviam debates sobre diversidade e inclusão e, principalmente, humanidade. “É empreender de uma maneira um pouquinho diferente, de não olhar só pra si, mas olhar para o outro e para a comunidade”, ressalta Tiago.

Sobre o Dia do Orgulho LGBTQIA+

Em diversos lugares do mundo, incluindo o Brasil, o mês de junho é marcado por manifestações e atividades ao mês do Orgulho LGBTQIA+. Além de manifestos, o mês conta com ações de conscientização sobre a causa e a luta deste grupo.

O mês foi escolhido por ter sido a data em que ocorreram uma série de manifestações a favor dos direitos das pessoas LGBTQIA + em Nova York, em 1969. Esses protestos foram organizados após a invasão de um bar, voltado ao público LGBTQIA+, por policiais. Na época, havia grande proibição e estigma a pessoas homossexuais.

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