De que forma a inovação impacta o cenário musical?

21/3/23
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Publicado por 
Redação Start

Conheça histórias de quem soube inovar no setor

Foto: Simon Noh - Unsplash
Foto: Simon Noh - Unsplash

Ao longo de milhares de anos, a humanidade fez uso de sonoridades para comunicar suas manifestações culturais e religiosas. Todos os elementos sonoros carregam consigo a possibilidade de transcender o tempo, resgatar memórias e ascender emoções que representam a linguagem perpetuada em cada século. Essa realidade foi se transformando conforme a sociedade conquistava conhecimento e mudando a forma como os seres humanos vivem, se comunicam e se relacionam.

A música acompanhou os movimentos históricos passando por mudanças significativas, entre a Pré-história, Antiguidade, Idade Média, Renascimento, Barroco, Classicismo e Romantismo, até chegar nas expressões musicais do século XX. Durante o novo século, os movimentos musicais passaram por uma verdadeira revolução, com a criação de novas tendências, gêneros e instrumentos.

No início do século XX, o interesse por sons diferentes levou grandes compositores a buscarem novos modelos de sonoridade, instrumentos e objetos sonoros na música. Uma matéria publicada pelo Blog TeclaCenter afirma que os novos recursos tecnológicos afetam diretamente as produções musicais e a forma como as pessoas lidam com a música. Por esse motivo, músicos foram obrigados a se adequar a esse novo cenário ao longo das décadas.

O clássico pode inovar?

Para o músico Júlio César Wagner, a facilidade de acesso às informações é responsável pelo desenvolvimento de jovens, músicos e produtores, visto que os conteúdos estão na palma das mãos. A transformação digital também permite que músicos consigam divulgar seus trabalhos com mais rapidez. Ao mesmo tempo em que esse desenvolvimento acontece, é possível observar que essa facilidade de acesso também carrega uma responsabilidade nas produções de materiais com baixa qualidade e muitas vezes impróprio, mas viralizando de forma exponencial.

Júlio desenvolveu a paixão pela música ainda aos nove anos de idade, quando o professor Egídio Michaelsen o inseriu no mundo da música por meio de um projeto escolar, que proporcionou grandes oportunidades para ele e os amigos. Quando iniciou os seus estudos no instrumento Oboé, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi convidado a participar do quadro inicial de músicos, o que contribuiu significativamente para ampliar a carreira.

O músico participa de uma série de projetos e iniciativas voltadas para a música desde a infância. Para Júlio, a música fez parte da construção de quem ele é hoje, tanto na vida pessoal quanto na carreira profissional. Como exemplo, podemos citar a participação na Orquestra Sinfônica de Gramado, que participa desde a criação em 2011, ao lado do diretor Allan John Lino e do coordenador Heitor Knorst. Hoje atua como um dos coordenadores do programa e como maestro do programa Orquestra Jovem de Gramado. 

Além da participação na OSG, o músico atua na apresentação ‘A Voz do Cristal’, na Cristais de Gramado. A iniciativa teve apoio do músico Heitor Knorst e do proprietário da Cristais, Telmo de Freitas Gomes. A ideia inicial era criar algo que fosse delicado e diferenciado, então, a equipe passou a estudar incansavelmente a física e a sonoridade individual de cada taça, para torná-lo um instrumento com identidade própria e que pudesse encantar os visitantes.

Atualmente, o espetáculo faz parte de uma das atrações do parque do cristal, com apresentações da Harmônicas de Cristal com a identidade da Cristais de Gramado. Apesar da técnica ser milenar, a arte de tocar em taças de cristal precisou de um toque de modernidade e se adequar às tendências de inovação. Segundo Júlio, a produção de conteúdo deve ser constante e sempre atualizada. Como exemplo, podemos citar a música clássica, que atinge um nicho específico, mas se a equipe de músicas focar apenas em um nicho, talvez a apresentação não tenha sucesso. Por esse motivo é importante se dedicar a uma apresentação que agrade o público como um todo.

Foto: Taci Torquato
“Estou sempre me atualizando e buscando conhecimento em várias áreas artísticas. Um bom exemplo é a participação que desenvolvemos da OSG em conjunto com a Carpe Vita, festa de música eletrônica fazendo uma bela junção destes dois mundos completamente distintos, e o resultado foi incrível. Buscar novas ideias e criar oportunidades é uma excelente maneira de inserção no mercado de trabalho. A concorrência é grande, mas a nossa criatividade é ilimitada e estamos sempre dispostos a encarar novos desafios, isso me move sempre em frente para buscar o que nasci para fazer, fazer boa música”, comenta o músico.

O músico já participou de grandes festivais ao longo de sua jornada, como o Festival Internacional de Música de Jaraguá do Sul, em 2009 e 2010, o Festival de Inverno de Vale Vêneto, em 2008 e 2012, o Festival de Música de Câmara de Caxias do Sul, em 2009 e 2010, o Festival SESC de Música de Pelotas, em 2011, 2013 e 2014, e o Gramado in Concert, como músico e coordenador desde os primórdios do evento. Além de festivais, Júlio já participou de espetáculos com artistas como Fafá de Belém, Milton Nascimento e Vanessa da Mata, estes com várias orquestras do sul do Brasil.

“O ápice da minha carreira foi o Eurochestries, o maior festival de música da europa, no qual participei levando a cultura brasileira por meio da música em território francês. Foi uma experiência inesquecível”, finaliza Júlio.

A inovação e a música também chegam à periferia

Na outra ponta do país, mais precisamente em Manaus, capital do estado do Amazonas, há um projeto social que envolve jovens de regiões periféricas da cidade, incentivando o aprendizado por meio da música. A iniciativa pertence ao Centro Municipal de Arte-Educação Aníbal Beça, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação

O projeto de Percussão Alternativa Curumim na Lata surgiu quando o Grupo de Percussão Popular criou o espetáculo O Lixo, uma ação que buscava expor a arte dos próprios alunos, transformando lixo em arte. Na época, os alunos foram protagonistas do projeto, desde o processo de criação do evento, até a criação do repertório musical, a coleta de resíduos dos bairros da zona leste da cidade, e a transformação dos resíduos em instrumentos musicais.

Após o primeiro espetáculo, as oportunidades para o grupo foram ampliadas, quando o Curumim na Lata passou a ser um grupo musical de arte e educação oficialmente. Além da música, uma das principais missões do projeto é ser responsável pela sensibilização acerca do descarte consciente de lixo e materiais recicláveis. 

Foto: Arquivos Digitais CMAE Aníbal Beça

O grupo Curumim na Lata trabalha intensamente para proporcionar um som único e contagiante, utilizando como referência o timbre, intensidade, altura, duração e, por fim, a experimentação de alternativas sonoras dos instrumentos reciclados. Para participar do projeto, são disponibilizados dois períodos de matrícula no ano letivo e no curso de percussão alternativa, que geralmente é o mais procurado pelo público. 

O projeto é destinado para pessoas entre oito e 20 anos, de escolas públicas, privadas, comunitárias e da sociedade civil. Durante o primeiro semestre, são desenvolvidas atividades musicais de maneira teórica e a coleta de materiais que seriam descartados. Para o segundo semestre, o aluno participa de apresentações culturais do grupo de Percussão Alternativa Curumim na Lata, com auxílio técnico e supervisão pedagógica do professor Carlos Valdez. 

Para Fernanda de Holanda, coordenadora pedagógica do CMAE Aníbal Beça, o cenário de pandemia possibilitou um novo olhar para o ambiente musical e educacional relacionado à inovação. Toda metodologia educacional precisou se adaptar a essa realidade, e a tecnologia passou a se tornar um meio de desenvolvimento do projeto Curumim na Lata, sendo fundamental para a elaboração de repertório musical, cuidado e atenção.

“A inovação atua numa atitude intencional e investigativa com a materialidade encontrada no meio ambiente, a sensibilização para os cuidados e a preservação do mesmo de maneira individual e coletiva, permeando tomadas de decisões, entraves, desafios, conflitos, negociações e inquietações”, aponta Fernanda.

Ela afirma ainda que, durante os estudos, são desenvolvidos a percepção do timbre de cada instrumento, são divididos em naipes de acordo com a sonoridade grave ou aguda, e a escrita musical no pentagrama, que varia de acordo com a altura do som. Após esse processo, são definidas as simbologias musicais para os novos instrumentos. Como exemplo de materiais utilizados podemos citar as latas de tintas, camburões, caixas de ar condicionados, tonéis de papelão, tampas de fogões, panelas e guarda-chuvas.

“Utilizamos, também, a pesquisa escolar como ferramenta de conhecimento para aprendizagem, promovendo a percepção, a experimentação, a reprodução, a manipulação e a criação livre e coletiva de materiais sonoros diversos da vivência cultural ou não do aluno, relacionando a música à diversidade, aos saberes musicais ocasionados com a participação ativa e criativa do sujeito em desenvolvimento”, finaliza Fernanda.

Música no cenário de startups

Em busca de inovar no cenário musical, por meio de conexões para gerar entretenimento e cultura, a startup Atabaque tem o propósito de realizar sonhos, para facilitar o processo de propagação da música de qualidade. Hoje em dia, com o avanço da tecnologia, podemos observar que a música muitas vezes é produzida de forma acelerada e acaba viralizando de forma considerável sem o mínimo de preparação, produção de qualidade ou, até mesmo, a dificuldade de atingir grandes públicos pela quantidade de músicas criadas e compartilhadas.

A Atabaque se caracteriza como uma agência musical, startup e hub de tecnologia que aposta em um novo momento do mercado. A empresa já gerou mais de 2,5 bilhões de streamings por meio de lançamentos exclusivos. O negócio surgiu quando os fundadores, André Izidro e Odilon Borges, decidiram unir toda a sua trajetória no ambiente musical nacional e internacional.

Além de empreendedor, mentor, especialista em marketing, conteúdo e inteligência de dados, André já participou de negociações em estratégias de empresas como a Oi, Globo, Som Livre, KondZilla e, por fim, a Atabaque. O especialista já contribuiu com as carreiras de Marília Mendonça, Thiaguinho, Luan Santana, Wesley Safadão, Silva, e Jorge & Mateus.

Já Odilon teve início em uma carreira diferente do cenário musical. Com mestrado em Direito pela University of Connecticut e curso de Propriedade Intelectual pela London School of Economics, o fundador passou por experiências com Direitos Autorais e licenciamento na TV Globo, AirBnb, Copa do Mundo Fifa, Sony, Fox e Warner.

André Izidro e Odilon Borges - fundadores da Atabaque | Foto: @rafaelfifito

Em 2020, a dupla decidiu unir suas experiências e criar a Atabaque, para fazer negócios e impulsionar o mercado musical. André explica que a distribuição digital cria oportunidades e pode gerar popularização massiva de músicas, gêneros e artistas, com a possibilidade de criação e colaboração ampliada. Esse é o cenário positivo que o acesso à informação e o avanço tecnológico trouxeram para o cenário musical.

Mas, por outro lado, o aumento de conteúdo disponível nas plataformas torna cada vez mais difícil atingir o público, pela grande quantidade de músicas divulgadas em streamings, como OneRPM, CDBaby, e ferramentas similares. Segundo André, são disponibilizadas 100 mil músicas novas todos os dias nas DSPs, gerando um alto volume de produções musicais, mas que peca em relação à qualidade.

Por esse motivo, a Atabaque surge com soluções para que o artista consiga que a sua música seja divulgada de forma responsável, oferecendo uma consultoria especializada. Identificar o público-alvo, segmentar o engajamento, criar um planejamento de marketing e distribuição de músicas nas DSPs fazem parte de algumas das atividades que a startup oferece. Além disso, a Atabaque também oferece uma conexão entre assessorias de imprensa e assessoria jurídica, criando um cenário de oportunidades para impulsionar a carreira do artista.

“Conseguir se destacar em uma cauda longa quando precisam “disputar” pelos charts. Com 100 mil uploads por dia, como se destacar na multidão? O topo da pirâmide continua sendo o que tem mais força de investimento. Mas o digital trouxe ferramentas e acessos que permitem inverter essa lógica, tornando efetiva a possibilidade de sair da base da pirâmide para alcançar o topo. Quando você já chega próximo do topo, com investimento, potencializando isso, acontece muito mais fácil o hit”, pontua André.

Para Odilon, a dificuldade enfrentada para disputar espaço no mercado musical é desequilibrada. Enquanto alguns músicos possuem investimentos significativos e ocupam o topo da pirâmide, outros precisam lutar para conquistar o seu lugar na música. Como exemplo, podemos citar a dupla sertaneja Augusto e Rafael, que após sete anos de carreira, conseguiram viralizar nacionalmente uma música, utilizando a plataforma TikTok. O que demonstra a força do digital como ferramenta para inverter essa realidade e alcançar o topo.

Ele afirma ainda que, devido à constante evolução do mercado, a Atabaque se posiciona como colaboradora, auxiliando o artista a pensar sempre no próximo passo. A startup se destaca como hub de tecnologia, com constante reconhecimento por parte dos players, empresários e artistas, gerando um cenário de oportunidades para o artista.

“Oportunidades existem para serem integradas ao negócio. Estamos conectados para entender quais mudanças estão ocorrendo, aquelas que ainda vão acontecer e como podemos nos valer delas para atender nossos artistas e projetos de forma ainda mais estratégica, sempre adotando uma estratégia macro de forma a criar conteúdo relevante e atender os diversos formatos. Estamos bem conectados às ferramentas do mundo da música, mas também além desse mercado”, comenta Odilon.

A Atabaque busca andar lado a lado com os pólos criativos de cultura e inovação, que possibilitam que a empresa esteja presente nas mais diversas áreas de entretenimento. “Acreditamos na interseccionalidade das diversas áreas da cultura, tendo parceiros estratégicos de audiovisual, games”, completa.

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