De vendedora de salgados à empreendedora, Jandaraci Araújo compartilha sua jornada de aprendizados
A empreendedora é uma das palestrantes confirmadas para a Gramado Summit 2024

Envolvida diretamente com causas sociais, Jandaraci Araújo, cofundadora do Conselheira 101, compartilha um pouco da sua trajetória ao longo da carreira no mundo corporativo, que teve início com um pequeno empreendimento de salgados. Jandaraci se destaca como atuante em causas voltadas para a inclusão de mulheres negras e indígenas no mercado corporativo. A empreendedora é uma das palestrantes confirmadas na Gramado Summit 2024, falando sobre empreendedorismo, gestão, sustentabilidade e inclusão.
Em sua página no LinkedIn, Jandaraci declara que acredita no poder transformador da educação e na importância da igualdade de oportunidades, como premissas para ambientes inovadores, seja na esfera pública ou privada. Além disso, ela compartilha as suas expectativas com relação à conferência de inovação e o que deseja passar para o público presente no evento.
1- Como tu observa os teus resultados e o que tu aprendeu quando o assunto é tomada de decisões na hora de empreender? Existe algum ensinamento que tu carregas contigo durante todo esse tempo e que tu pode compartilhar com quem está iniciando a carreira?
O principal ponto na tomada de decisão, na hora de empreender, é entender qual é o mercado que você pretende atingir, qual a sua vocação para esse negócio e buscar entender minimamente as coisas que envolvem esse mercado que você pretende empreender. Além disso, é importante saber sobre a questão de suporte, se você terá suporte para aprender rápido de como operar nesse mercado. É se questionar sobre a oportunidade de empreender e entender a motivação. Primeiro, empreender por necessidade e depois empreender por oportunidade. Eu sempre fiz o seguinte, como compreender a capacidade de geração de receita desse negócio que eu quero fazer no pior cenário.
Quando empreendi, foi por necessidade, e precisei entender a velocidade do processo para gerar receita. Você pode aumentar ou não a escala. O quanto ele é sustentável? A minha competência individual para acompanhar ou aprender rápido sobre aquele negócio de como operar. Se você não tem investimento externo para poder fazer MVP, teste todos aqueles conceitos lindos. Que a gente vê hoje e que é super difundido e estão corretos. Mas esses conceitos de startups se encaixam para aqueles que empreendem por oportunidade e não por necessidade. Quem empreende por oportunidade tem dinheiro para fazer. Quem tem caixa para poder testar o modelo, é ótimo.
Mas o meu grande aprendizado é o que o seu negócio vai entregar e efetivamente, qual a capacidade de geração de receita desse negócio? No curto, no médio e no longo prazo? Com e sem investimento. Porque isso também é importante. Falar com o seu dinheiro ou com o dinheiro de terceiros com o investidor, sem investidor. Quais são os cenários? Olhei o mercado, minhas competências para aquele negócio e as competências que eu tinha pra agregar aquele negócio.
E quando eu não tenho, quando eu não tinha, sempre busquei ter sócios. Já no meu segundo negócio eu tinha sociedade, exatamente por isso. Uma pessoa que tivesse as características complementares a minha. Você está criando negócio para você ou negócio para o mercado? Compreender o propósito também é muito importante para o empreendedor.
Saber a hora de desapegar daquele negócio para o negócio crescer e não olhar como se fosse um filho que você vai ter e que você quer que fique com você a vida inteira. Ele tem que crescer, tem que expandir e tem que trazer mais negócios. Para mim, esses são os pontos importantes nas decisões, na capacidade de geração de receita, rápida, na capacidade de atrair investidores e como o mercado está vendo o teu negócio. Qual é o tamanho do mercado que eu quero abocanhar?
2- Sobre o Conselheira 101, como surgiu e qual o objetivo do programa? Quais as expectativas do programa e qual o patamar tu deseja que ele chegue em um futuro próximo?
Ele surgiu muito por uma provocação de uma das cofundadoras, para trazer diversidade para os conselhos de administração e comitês. A pauta de diversidade sempre foi muito intensa na questão de gênero, então a gente via todas as ações voltadas apenas para gênero, sem fazer o recorte racial. E no Brasil não dá para poder falar de gênero sem fazer recorte, não dá efetivamente. E esse foi o incômodo, de ver vários programas e várias ações pautando diversidade, mas não trazendo o recorte racial. Afinal de contas estamos falando de 28% da população.
Então, o objetivo do Conselheira 101, além de dar visibilidade, fomentar e formar as mulheres, é trazer novas perspectivas de carreira para que mulheres tenham uma experiência corporativa ou empresarial significativa. A gente está falando de uma nova perspectiva, de dar visibilidade para essas mulheres negras e indígenas, contribuir com a formação de alto nível para o crescimento de outras organizações. Esse é o papel do conselheiro, ajudar a empresa a crescer e a se perpetuar.
A visão de futuro que a gente tem é que se torne uma plataforma que permita expandir a educação e o network. Expandir isso para o Brasil e também levar esses nomes pra fora do Brasil. A gente tem o nosso maior objetivo de visão de futuro, que é ter uma atuação nacional, não apenas no eixo Sul-Sudeste, mas também trazer esses profissionais de todo o Brasil para essa conversa e tirar essas mulheres dessa invisibilidade. É bom colocar isso em aspas, que o mercado nos coloca, como se mulheres negras e indígenas não estivessem prontas para ocupar cargos em alta liderança.
3- Apesar da população negra e indígena ser a base da formação social brasileira, sabemos que ainda existem muitos desafios a serem enfrentados para superar as dificuldades quando o assunto é oportunidades e empreendedorismo. A partir disso, como tu, por meio do teu trabalho, se propõe a transformar essa realidade no Brasil?
Eu tive a oportunidade de atuar no setor público, na agenda de desenvolvimento econômico, empreendedorismo e muito focado aqui no estado de São Paulo. A partir disso, eu acredito que esse trabalho é um grande gerador de oportunidades. A gente entende que o que diferencia a questão dessas mulheres é acesso a oportunidades, acesso ao investimento e acesso a uma formação e a mercado. Por isso, atuamos por meio de alguns pilares que a gente precisa explorar e fomentar muito mais para que elas possam acessar o mercado, não apenas no nível nacional, mas fora do Brasil.
Destaco que o fomento ao empreendedorismo, especificamente ao lado empresarial dessa população, passa por uma questão de acesso, principalmente a investimento, não apenas a crédito, mas acesso a investimento. A gente precisa começar a trabalhar com cheques de investimento para essa população. Acredito que, com isso, ampliar o olhar para isso, pode abrir uma série de outras possibilidades, que é muito importante para as mulheres negras e indígenas. O empreendedorismo é uma ferramenta fundamental para gerar emprego e renda e sendo meio para que a gente saia desse empreendedorismo de base e ir pra outro patamar de empreendedorismo.
4- Consegue compartilhar sobre como tu iniciou a tua carreira profissional? Além da carreira, quais habilidades foram necessárias para que tu chegasse aonde está agora? Qual a tua expectativa com relação ao futuro da tua carreira e das ações que tu defende?
Eu sempre fui uma pessoa que buscou tudo que podia, nunca tive apego a títulos. Então, minha primeira formação foi mecânica. A partir disso a minha carreira profissional começou trabalhando e prestando serviços dentro do setor petroquímico, ainda na Bahia. Depois eu tive pequenos negócios, como uma oficina mecânica e até mesmo um restaurante. Na sequência, eu fui embora para o Rio de Janeiro, onde decidi recomeçar a minha vida. Lá empreendi, vendi salgados, e assim surgiu uma oportunidade no mercado corporativo, para trabalhar em uma grande rede de varejo, onde as oportunidades foram surgindo.
Sempre estive aberta ao aprendizado, e é isso que me permite alcançar espaços. Essa possibilidade de ter atuado em várias áreas me permitiu ter o olhar completo de uma organização e me ajuda nesse exercício nas empresas, onde eu estou atualmente como conselheira. Trabalhei em varejo, mas especificamente, tive a oportunidade de percorrer várias áreas e isso me deu a possibilidade de entender e hoje poder contribuir com outras organizações. Além disso, busco sempre aprender sobre outras funções e áreas, que me permitem crescer profissionalmente. Por isso, destaco que a minha principal habilidade é adaptabilidade.
Sempre fui muito aberta ao aprendizado, então estou sempre fazendo cursos, treinando e buscando novas formações, buscando a flexibilidade, adaptabilidade e flexibilização de coisas distintas. Essa é uma característica muito importante que eu defendo para que a gente comece a ter mais espaços, onde precisamos começar a criar mais oportunidades para todas as pessoas.
Acredito que para as novas gerações, busco proporcionar a abertura de espaços, independente da origem, sejam elas meninas negras ou indígenas. Mostrar que a cor não é uma barreira para elas ocuparem qualquer posição, seja como empresária, seja como executiva, transformando posições que poderiam ser exclusivas e elitistas para igualitária e aberta. O que eu penso para o futuro é que a gente comece a olhar efetivamente quais são as competências das pessoas ao invés de características físicas. Acredito que a gente está falando de um novo futuro, um futuro muito mais inclusivo, mais abrangente e, que no final do dia, que cabe todo mundo, acho que esse é o novo futuro.
5- Sobre a tua participação na Gramado Summit 2024, o que tu espera passar para o público que te assistir?
Acredito que a Gramado Summit vai proporcionar uma troca muito interessante sobre raiz e empreendedorismo digital, uma troca muito grande para a gente trazer outras realidades, uma conversa aberta para falar sobre o papel da liderança dentro de um negócio. Como é que a gente lidera dentro desse negócio? Como que a gente faz com que esse processo seja transformador? Precisamos de algo que não seja apenas por powerpoint, fazendo a diferença real na vida das pessoas.
É necessário falar também sobre os desafios de empreender, o que é empreender com e sem investimento e digital, online ou offline. Espero que seja uma conversa interessante onde a gente possa falar sobre o desafio sobre políticas públicas voltadas para as temáticas do empreendedorismo mais inclusivo e aberto, para que a gente se torne um país muito mais empreendedor. Principalmente quando a gente fala de mercado de capitais, a acesso a mercados de capitais como é em outros lugares do mundo, o que a gente ainda precisa evoluir nesse aspecto.