Ecossistema 2023-2024: como o Brasil está hoje e o que esperar das startups
Por Daniel Grossi, co-fundador e Chief Venture Officer da Liga Ventures, maior rede de inovação aberta da América Latina, que conecta startups e grandes empresas para geração de negócios
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Depois de viver uma evolução e amadurecimento consistente, o ecossistema de startups vem passando nesses últimos anos por uma montanha russa. Enquanto 2021 foi marcado por recordes de investimento e valuations exagerados, 2022 trouxe uma dura lição de austeridade e ajustes de mercado.
O início da guerra na Ucrânia, as incertezas na economia global e os juros altos forçaram o ecossistema a olhar para os fundamentos: caixa é rei, lucro importa muito. É essencial crescer, mas não a qualquer custo. Vivemos um período intenso de layoffs, ajustes financeiros e adaptações para uma nova realidade.
Já 2023 começou em compasso de espera, com o mercado se adaptando e aguardando como a economia reagiria. Se havíamos entrado no período chamado de “Inverno das Startups”, a quebra do Silicon Valley Bank dificultou as coisas e trouxe mais desconfiança no setor.
Baixada a poeira do turbulento ano anterior, 2023 se revelou um período de consolidação desse novo momento, e boa parte do ecossistema já entrou mais preparado. As startups e as empresas já haviam feito os principais ajustes de orçamento e de visão. E a economia, embora ainda trouxesse incertezas importantes, se acalmou, com as taxas de juros e a inflação se estabilizando.
Porém, isso não foi suficiente para reverter os resultados para as startups. De acordo com dados da Startup Scanner, tivemos uma queda no volume de investimentos de 53% - atingindo um patamar mais parecido com períodos anteriores a 2019. Esse resultado foi impactado principalmente por um menor número de rodadas grandes (acima de R$ 100 milhões) em 2023. Em número total de rodadas, a queda foi mais sutil (20%).
No entanto, da metade do ano para cá, tivemos algumas boas notícias. Em junho,, a Pismo foi adquirida pela Visa por US$ 1 bi - número recorde para o ecossistema brasileiro. Na parte de investimentos, o Q3 concentrou um bom volume de rodadas, ultrapassando o valor acumulado do primeiro semestre, e no Q4 tivemos a maior rodada do ano com a captação de US$ 200 milhões feita pela QI Tech, ancorada pela General Atlantic. O segundo semestre, então, foi responsável por quase dois terços do volume captado pelas startups em 2023.
Quando o assunto é M&A, também tivemos um período desafiador. Globalmente, esse mercado caiu 15%, de acordo com relatório divulgado pela Bain & Company. Para as startups brasileiras não foi diferente: de um lado, compradores estão mais austeros e exigentes quanto aos valuations, de outro, vendedores esperam um bom momento econômico para uma melhor avaliação da sua empresa.
Olhando as perspectivas para 2024, embora o cenário ainda esteja incerto, há capital para ser investido. Nos Estados Unidos, há US$ 300 bilhões sob gestão dos VCs, aguardando para ser aportado nas startups. No Brasil, também temos gestoras capitalizadas analisando boas oportunidades, e o contexto de maior estabilidade na economia junto aos resultados do segundo semestre de 2023 podem indicar um caminho melhor.
Ao analisarmos o ecossistema de inovação, observamos que para os líderes também está sendo um momento de afirmação: a maior austeridade com os orçamentos está forçando as companhias a priorizarem suas iniciativas e a ficarem atentas aos resultados que elas estão trazendo. Portanto, não basta ter promessas de longo prazo, é preciso definir e acompanhar indicadores e evidenciar como aquele dinheiro investido trará retorno.
Para os próximos anos, seja em Venture Capital, seja em inovação, devemos ver movimentações feitas de forma mais cuidadosa do que se viu entre 2020 e 2022, com maior base em fundamentos e métricas do que em FOMO. A inovação pela inovação não para de pé, e a busca por resultados reais e tangíveis deve continuar sendo a tônica.
*Daniel Grossi é co-fundador e Chief Venture Officer da Liga Ventures, maior rede de inovação aberta da América Latina, que conecta startups e grandes empresas para geração de negócios