Entrevista: como o RS pretende se tornar referência em inovação no Brasil
Secretária gaúcha de Ciência, Tecnologia e Inovação aponta propostas para os próximos anos.
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Antes de assumir o cargo de secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio Grande do Sul, Simone Stülp construiu uma trajetória sólida no mundo acadêmico e no setor de inovação. Doutora em Biotecnologia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde também atuou como professora e pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Simone tem uma carreira marcada pelo incentivo à pesquisa aplicada, pelo fortalecimento da conexão entre universidade e setor produtivo e pelo engajamento em programas voltados ao desenvolvimento regional.
Desde que assumiu a pasta estadual, Simone lidera iniciativas que buscam posicionar o Rio Grande do Sul como um polo estratégico de ciência, tecnologia e inovação no Brasil, com ações que vão do fomento a startups à formação de talentos em áreas como engenharia e semicondutores. À frente da secretaria, tem coordenado políticas públicas fundamentais para a recuperação econômica e tecnológica do estado gaúcho, especialmente após as enchentes históricas de 2024, aliando inovação e reconstrução.
Em entrevista para o Start, Simone fala sobre os avanços recentes, os desafios e as estratégias para consolidar o Rio Grande do Sul como referência nacional no setor. Confira!
- O número de startups no Rio Grande do Sul praticamente dobrou entre 2022 e 2024, passando de pouco mais de mil para cerca de 2,2 mil, segundo dados do Mapa das Startups. A que fatores você atribui esse crescimento tão expressivo em tão pouco tempo?
Temos um trabalho bastante robusto de fortalecimento do nosso ecossistema de inovação como um todo – o que se reflete nesse crescimento tão expressivo no número de startups.
Cito alguns exemplos de programas e iniciativas que nos trouxeram a este patamar.
O Inova RS, nosso programa guarda-chuva, atua com Gestores de Inovação e Tecnologia em todos os oito ecossistemas regionais de inovação do nosso estado. Este trabalho de regionalização garante ações focadas nas fortalezas e desafios de cada área, de forma customizada. Outro programa fundamental é o Startup Lab, que busca fortalecer o ecossistema empreendedor gaúcho, com foco na inovação aberta e intensiva em conhecimento, promovendo a conexão entre grandes empresas e startups.
Nossa estratégia de correalização de grandes eventos, como o South Summit Brazil e a Gramado Summit, também é crucial para a geração de novos negócios e para o fortalecimento econômico e social do nosso estado.
E, claro, diante da maior catástrofe climática que já sofremos, preciso citar uma ação de suma importância - o Programa Manutenção de Talentos Tecnológicos - Emergência Climática, cujo edital foi lançado em outubro de 2024. Foram investidos mais de R$ 14 milhões em 113 projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico envolvendo o estímulo à manutenção de talentos que atuam em startups sediadas no Rio Grande do Sul. A iniciativa faz parte do Plano Rio Grande e integra a estratégia de reconstrução do Estado.
- A Gramado Summit é um dos principais eventos de inovação do Brasil e tem como diferencial ser realizado fora de uma capital. Qual a importância de iniciativas como essa para descentralizar o desenvolvimento tecnológico e atrair investimentos para o interior do Estado?
É essencial que tenhamos iniciativas em todo o nosso estado, e não apenas na capital. Nós temos este olhar regionalizado e buscamos, por meio de estratégias desenhadas de acordo com as potencialidades de cada região, fomentar o ecossistema de inovação e o empreendedorismo nas oito regiões do Inova RS. E eventos como a Gramado Summit têm o potencial de promover conexões que culminam na geração de novos negócios. E a base da inovação se dá justamente nestas trocas, no compartilhamento de ideias e iniciativas diferenciadas.
- Quais são os principais projetos e programas em andamento hoje na secretaria para fortalecer a ciência, tecnologia e inovação? Há novos editais ou iniciativas previstos para 2025 voltados ao fomento de startups ou à conexão entre universidades, empresas e governo?
Acho importante falar sobre as estratégias focadas na retomada econômica do nosso estado, e a pasta de Inovação, Ciência e Tecnologia tem um papel importantíssimo para este objetivo. Neste um ano após as enchentes, investimos R$ 79,4 milhões em editais, como o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Voltado a Desastres Climáticos, de R$45 milhões; o edital Programa Pesquisador Gaúcho, com R$ 20 milhões e o edital Programa Manutenção de Talentos Tecnológicos - Emergência Climática, em outubro de 2024, de R$14,4 milhões.
Lançamos recentemente o RS Talentos, programa inédito no país focado na formação de engenheiros e que vai oferecer até 400 bolsas em universidades comunitárias e públicas localizadas nas regiões atingidas pelas enchentes – Metropolitana e Litoral Norte, Sul, Vales, Central e Serra Gaúcha. Os alunos receberão uma bolsa de R$ 2 mil e terão o curso custeado pelo estado, no caso dos graduandos em universidades comunitárias, pelo período de 18 meses - equivalente ao ciclo básico dos cursos de engenharia. Eles também terão vivências junto ao setor produtivo.
Nesta linha de investimentos em carreiras portadoras de futuro e atração de talentos nas áreas de engenharia, estamos trabalhando fortemente o programa Semicondutores RS, oferecendo bolsas em cursos de formação em design de chips em parceria com universidades e ainda trazendo investimentos internacionais para o estado.
Também estamos trabalhando em um programa para transformar o Rio Grande do Sul em uma referência internacional em estudos de enfrentamento de eventos climáticos extremos e lançaremos em breve um edital voltado a ambientes de inovação.
- Quais são hoje os principais desafios para consolidar o Rio Grande do Sul como referência nacional em inovação?
O Rio Grande do Sul é o estado mais envelhecido do Brasil, e estamos trabalhando para atrair e reter talentos aqui, além de investir em profissões essenciais - como professores de educação básica e engenheiros, por exemplo. Nós lançamos o edital do Programa RS Talentos - Resiliência Climática e Ativação Econômica, voltado à formação de novos engenheiros. A iniciativa, que é inédita no país, concederá bolsas de estudos em universidades localizadas em regiões diretamente afetadas pelas enchentes de 2024, a fim de atrair jovens de todo o país e contribuir para a reconstrução do Estado.
Já consolidado, nós temos também o programa Professor do Amanhã, que teve dois editais até o momento. Em 2023 lançamos o primeiro edital com investimento de R$ 76,8 milhões e a oferta de mil bolsas em 34 cursos de licenciatura nas áreas de Letras, Matemática, Biologia, História e Geografia. Em 2024, o segundo edital ofereceu 500 bolsas integrais em cursos de licenciatura, com investimento previsto de R$ 38,4 milhões. O programa busca formar novos professores para suprir as necessidades da Rede Estadual, e essa formação precisa ter no seu currículo uma base tecnológica, científica e de inovação.
Também estamos avançando nas políticas públicas voltadas aos semicondutores. Lançamos dois cursos em parceria com a Unipampa e Unisinos, visando a atração e manutenção de talentos, como mencionei anteriormente. Para termos uma ideia do apelo deste setor, a especialização em Encapsulamento de Semicondutores, parceria entre Sict e Unisinos, teve uma procura superior a 400% em relação ao número de vagas. As inscrições vieram de diversos estados. Essa iniciativa integra o programa Semicondutores RS, que tem como objetivo fazer do Rio Grande do Sul uma referência nacional no setor de semicondutores e de impulsionar a área de inovação, ciência e tecnologia. Dois editais já foram lançados: O Techfuturo Semicondutores e Inova Semicondutores, que totalizaram um investimento de R$ 14 milhões em projetos estratégicos.