Festival Folclórico de Parintins movimenta a economia da região amazônica
Com mais de 50 anos de tradição, o Festival possibilita a geração de renda local

Com mais de 50 anos de história, mesclando instrumentos musicais e influências culturais. O gênero musical Boi Bumbá surgiu e se transformou ao longo dos anos na cidade de Parintins, localizada na floresta amazônica, às margens do Rio Amazonas. Essa história, apesar de ter sofrido algumas transformações, não perdeu a sua essência original e transformou o município, ampliando as oportunidades e arrastando milhares de apaixonados pelas festividades e as toadas dos bois Garantido e Caprichoso.
Parintins possui uma forte produção baseada na agricultura, na pecuária, na pesca e nas atividades do terceiro setor, que envolvem comércio e turismo, mas a principal atividade e fonte econômica do município é fruto das celebrações do Boi Bumbá. Para quem não sabe do que se trata, o Boi Bumbá é um ritmo que traz a sonoridade de tambores e batuques inspirados na cultura africana e ameríndia. O ritmo inicialmente surgiu como uma expressão cultural das classes mais pobres, mas acabou se tornando um fenômeno nacional em meados dos anos 80.
Para chegar a essa posição, o ritmo passou a incluir misturas e influências dos gêneros axé music, pop e até mesmo rock, como podemos observar na clássica canção e uma das produções de boi bumbá mais conhecidas até hoje, o Tic-tic-tac, do artista amazonense Zezinho Corrêa. Em uma mescla de culturas que compõem a região amazônica, o festival dos bumbás representa uma das maiores festividades culturais e folclóricas do mundo.
Com muita música e festa, o festival de Parintins de 2023 acontece entre os dias 30 de junho e 02 de julho, e já move uma série de ações que movimentam a economia do município. Segundo Daniel Sicsú, Subsecretário de Comunicação de Parintins, o festival faz com que o município tenha uma visibilidade considerável por parte das iniciativas públicas e privadas, sendo o cenário ideal para o desenvolvimento do empreendedorismo e gerando oportunidades para a população local.
Daniel destaca que a ilha tupinambarana é o segundo município mais importante do Estado, ficando atrás somente da capital Manaus. Essa força é fruto da potência do festival, que tem atraído investimentos consideráveis.
“Ultimamente diversas empresas, principalmente no ramo do comércio, tem se instalado no município. Isso é muito importante para o crescimento da cidade, o que acaba sendo refletido na rentabilidade e na qualidade de vida da população”, comenta Daniel.
Segundo Daniel, o festival é tão grande que durante os meses em que ocorre a preparação do espetáculo, a prefeitura estima que cerca de 8 milhões de reais são injetados no município e que beneficia diretamente a população, artistas, comerciantes e os trabalhadores do transporte. A preparação mais massiva para o festival dura em média cinco meses que antecedem a data escolhida e geram empregos e renda para o município, seja no ramo de alimentação, das confecções, da hospitalidade e de outras possibilidades e oportunidades. A magia e o encanto que reluzem a disputa entre os bois Garantido e Caprichoso vai muito além da arena do bumbódromo.

A Secretária de Cultura e Turismo do município, Karla Viana, conta que as festividades beneficiam o Estado de forma ampla, sendo um dos maiores produtos turísticos do Amazonas. Ela compartilha que atualmente, existe uma junção cultural que conquista o turista, não se resumindo somente as belezas naturais, mas com as apresentações do festival folclórico.
“Na semana do festival circulam cerca de 100 milhões de reais em Parintins. É o segundo produto econômico. A gente fala que o primeiro produto é o boi de corte, representando a pecuária, e o segundo o boi de pano, representando o turismo. Em menos de dez anos os empresários começaram a enxergar o festival como uma fonte econômica, gerando emprego, lucro e movimentando a economia no geral. Na época do festival são gerados mais de dez mil empregos diretos e indiretos, isso proporciona o crescimento do município e dos eventos paralelos que tem do festival”, comenta Karla.
Apesar do protagonismo, o município se divide entre um calendário que busca movimentar a cidade, com as festividades de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do município, e as festas do Carnaboi e Carnailha. Além disso, Parintins conta com a temporada de transatlânticos, que acontece entre os meses de outubro e maio, onde a cidade recebe mais de vinte navios por temporada, com turistas de todos os lugares do mundo.
Ela destaca que as equipes de iniciativas públicas e privadas estimam receber uma média de 120 mil turistas este ano. Por esse motivo, há uma série de ações que buscam otimizar os serviços e melhorar a infraestrutura básica dentro da ilha, que possui cerca de 5 mil quilômetros de extensão.
“O festival além de ser muito bonito, faz a gente ter orgulho de morar e trabalhar aqui. Ele projeta o estado e o município para o mundo, então isso é importante, traz valor para nós. Trabalho aqui há vinte anos como analista de cultura e turismo, e ver o crescimento ano a ano do festival me traz orgulho”, diz Karla.
Para Diego Mascarenhas, diretor administrativo do Boi Caprichoso, o festival é de modo geral a maior fonte de renda dos trabalhadores da cidade, ficando atrás somente da Prefeitura de Parintins e do Governo do Estado. O Festival movimenta o ano todo a economia local, sendo por meio da produção de alegorias, artistas, funcionários e até mesmo turismo, o festival impacta a mão de obra local direta ou indiretamente.
No restante dos meses em que não acontecem as festas dos bumbás, Diego conta que os artistas buscam se deslocar para os municípios vizinhos, em busca de trabalhos que envolvem criação e apresentações, como as festividades tradicionais de Juriti, Barreirinha e Boa Vista do Ramos. Outros se deslocam para os grandes centros para trabalhar nos grandes carnavais de São Paulo e Rio de Janeiro.
Apesar desse cenário, Diego conta que a equipe do Boi Caprichoso trabalha durante todo o ano.
“Quando termina o festival a gente já inicia internamente com o conselho de arte, o estudo e a definição do festival do próximo ano. Começamos a parte de pesquisa e embasamento teórico do tema que vai ser abordado no ano seguinte. Tudo isso demanda tempo. Os desenhistas começam a parte de pesquisa e desenhos de fantasias e roupas que serão usadas. Já produção de fato as alegorias dos bois, eu diria que é uma média de três meses”, explica.
Além de tudo, as organizações dos bois azul e vermelho, recebem apoio de iniciativas públicas e privadas, sendo o Governo do Amazonas uma das principais fontes de arrecadação. Diego conta que o dinheiro recebido é aplicado de forma responsável e usado principalmente para o pagamento de toda a equipe que atua na organização e a compra de materiais. O material é adquirido diretamente com fornecedores e fabricantes dos carnavais do Rio de Janeiro e São Paulo, e da China.
Ele destaca também que o festival tem um retorno cultural, social e econômico positivo para o município e o Estado do Amazonas, colocando a região em evidência como potencial turístico e para investimentos de empresas internacionais.
“A gente tem um fluxo de renda girando em todas as áreas do município, desde mototaxistas, taxistas, tricicleiros, pousadas, hotéis, e as pessoas que alugam suas casas durante esse período. Neste mês de junho a gente consegue aumentar a renda da nossa população e aumentar o fluxo de dinheiro circulando na nossa cidade, para você ter uma ideia, a gente teve uma arrecadação de uma média de 1 milhão de reais em apenas um mês. Então, eu acredito que essa renda gerada acaba sendo de extrema importância para acumular uma gordurinha e se manter no restante do ano”, compartilha.
Do ponto de vista de quem busca empreender nessa época, o festival é uma oportunidade de aumentar as possibilidades de hospedagem para os turistas, visto que os hotéis e pousadas, muitas vezes, não comportam a quantidade de visitantes que a cidade recebe. A economista Brenda Tavares pensou nisso e decidiu alugar sua casa nesse período.
Ela afirma que a casa está anunciada em plataformas como Airbnb, Booking, OLX e no Facebook, e a procura começa a ser notada em uma média de seis meses antes do evento.

“Quem se dispuser a alugar seu imóvel consegue alugar, a demanda é altíssima e tem para todos os preços, desde o atador de rede até as chácaras de Alto Padrão. A média de valores vai de acordo com o padrão do imóvel, proximidade com o evento é comodidades, eu analiso o custo de outros Imóveis que estão há mais tempo no mercado para definir preço. Tenho hoje dois Imóveis, o maior, onde moro com minha família, e um menor. O maior não alugamos fora do festival pois é nossa residência o menor fica alugado o ano inteiro desde 2019”, comenta Brenda.
Ela compartilha ainda que a casa foi alugada ainda em maio, e os hóspedes chegaram no dia 29 de junho, visto que a festa inicia dia 30 de junho e vai até o dia 02 de julho. Mesmo nos dias da grande festa, ela afirma que tem havido procura constante pelo imóvel por parte de turistas.