Incentivo à inovação na Amazônia: entenda a importância

20/9/23
|
Publicado por 
Redação Start

Do ponto de vista de quem contribui com esse cenário, os investimentos voltados para a inovação na região podem contribuir para manter a floresta em pé e incentivar o avanço socioeconômico

Foto: Unsplash
Foto: Unsplash

A região amazônica é constantemente citada quando o assunto é biodiversidade e preservação, que fazem parte de um dos patrimônios naturais mais importantes do planeta. Por isso, é fundamental que as instituições públicas e privadas invistam para conservar essa riqueza natural, de uma maneira que estimule a sustentabilidade por meio de ações que vão desde as mais simples, como o consumo e descarte consciente, até as mais complexas que envolvem pesquisas que garantem a manutenção das características do meio ambiente e as interações com os que vivem nesse cenário.

No entanto, um olhar atento para a região demonstra que a Amazônia possui um potencial considerável de investimentos em tecnologia, empreendedorismo e inovação, que possam transformar a região de uma forma positiva e refletindo na realidade socioeconômica. Foi pensando nisso que a Fundação CERTI, organização de pesquisa, desenvolvimento e serviços tecnológicos especializados, deu início à iniciativa Jornada Amazônia, com o objetivo de incentivar o surgimento de startups voltadas para a floresta. O objetivo do projeto é fomentar o ecossistema de negócios inovadores da bioeconomia, de maneira que promova a competitividade da floresta em pé.

Para Janice Maciel, coordenadora da Jornada Amazônia, a plataforma atua por meio de duas abordagens complementares, a primeira abordagem é basicamente um pipeline qualificado de startups de impacto positivo, atraindo investimentos e o mercado B2B representado por indústrias interessadas nas cadeias amazônicas. Já a segunda frente de atuação é focada na atração de indústrias regenerativas como tracionadoras das cadeias sustentáveis da floresta, de setores como Alimentos & Bebidas, Cosméticos, Química Verde, Fármacos e Fitofármacos, Moda, entre outros. 

Segundo ela, esse processo visa tornar economicamente mais compensatório manter a floresta em pé do que explorá-la de maneira não sustentável, evoluindo no custo de oportunidade da floresta e interiorizando o desenvolvimento sustentável, por meio da distribuição de valor compartilhado. Janice ressalta que a oferta de produtos da sociobioeconomia é, por natureza, de característica extrativista, diversa, com baixo volume, uma grande heterogeneidade de produtos e instabilidade de produção típica da floresta. 

Por outro lado, ela explica que a indústria compradora, que possui num curto prazo o potencial de tracionar estas cadeias, requer volume, padronização, previsibilidade e homogeneização. Entre a realidade da oferta da floresta e a demanda da indústria existe um abismo imenso que, somado à falta de estruturação das cadeias, impede a indústria de aumentar sua demanda. É por esse motivo que a inovação nas cadeias da bioeconomia tem o potencial de desenvolver soluções sustentáveis que ajudem a gerar competitividade econômica para a floresta e a biodiversidade, frente a outros usos de solo, que desmatam e degradam. 

A partir disso, Janice destaca que é necessário criar modelos econômicos que valorizem os recursos naturais da Amazônia, gerando riqueza e oportunidades para as comunidades locais, sem destruir o ambiente. Segundo a coordenadora, essa abordagem garante um desenvolvimento viável a longo prazo. Mas, para ativar esse potencial, é preciso investir em inovação, tecnologia e ciência.

“Precisamos promover a competitividade econômica da floresta em pé, valorizando a biodiversidade por meio da inovação. Para isso, precisamos criar um ambiente propício, um ecossistema robusto de apoio ao empreendedorismo. É necessário criar uma cultura empreendedora na região, capacitar empreendedores, originar startups, fortalecer negócios existentes e promover conexões com o mercado e capital”, comenta Janice.

Para Daniel Paz Salomão, consultor credenciado ao Sebrae Amazonas, a Amazônia necessita inovar quando se trata de produções que dependem dos recursos naturais, carregando o propósito de proteger sua biodiversidade, equilibrar o seu ecossistema e fortalecer a economia local. Ele explica que inovar nessa área significa desenvolver ideias, conhecimentos e técnicas na produção de novos produtos, conservando os recursos naturais e impactando positivamente o mercado ofertando o bem-estar à sociedade. Ele compartilha ainda que o Sebrae AM apoia, fomenta e desenvolve startups, empreendimentos e ideias inovadoras que façam o uso sustentável dos recursos da biodiversidade do bioma amazônico. 

Além disso, há uma parceria com um banco de fomento estadual para as empresas terem acesso ao crédito para projeto de energia sustentável por meio do sistema solar. Para estimular o desenvolvimento da inovação nessa região, é necessário que haja programas e investimentos voltados para esse segmento. Ele ressalta que o Sebrae dispõe de recursos financeiros, capacitação, mentorias, laboratórios de pesquisa, networking e suporte logístico e administrativo para instalação de negócios no estado, especialmente voltados para a preservação e sustentabilidade. 

”O Sebrae AM busca parcerias com profissionais, empresas, institutos e bancos de fomentos para desenvolver projetos, divulgar, consultar e instruir o modo mais assertivo de implantar a sustentabilidade no nosso bioma. As expectativas para o futuro da inovação na região são as melhores possíveis, pois alguns projetos de sustentabilidade já estão em execução e dando resultados satisfatórios, como a redução de custos e aumento da produtividade. Esses são fatores que estão fortalecendo a economia local, promovendo a lucratividade das empresas e a sustentabilidade do meio ambiente”, pontua Daniel.

Janice compartilha que, para dar um suporte necessário a cada estágio de maturidade dos negócios inovadores voltados para a região amazônica, foram desenvolvidos projetos de fomento e fortalecimento à essa temática, como: 

Gênese: A Jornada Amazônia oferece o Programa Gênese, focado na ativação da cultura empreendedora e inovadora na Amazônia. Esse programa visa despertar talentos, criar uma cultura de inovação e promover o surgimento de ideias inovadoras alinhadas com a valorização da floresta em pé.

Sinapse da Bioeconomia: Este programa de pré-incubação busca fomentar a criação de novos negócios de impacto na bioeconomia e na competitividade da floresta. Ele oferece capacitação, suporte técnico e recursos não-reembolsáveis para o desenvolvimento de startups inovadoras. A meta é criar 200 novos negócios inovadores que gerem competitividade para a floresta em pé nos próximos três anos.

Sinergia: O programa Sinergia corresponde à etapa de evolução e busca fortalecer negócios inovadores já existentes na região. Ele oferece suporte e acompanhamento para aumentar a competitividade e o impacto dessas empresas.

Sinergia Investimento: Um programa de aceleração e investimento com abordagem de Corporate Venture Capital, que traz o próprio mercado como investidor, aportando dinheiro, conhecimento e conexões, reforçando a ótica de smart money. O foco é a atração de indústrias dos segmentos de Alimentos & Bebidas, Cosméticos, Química Verde e outros, para investimento em startups early stage.

À medida em que as instituições públicas e privadas e a população em geral passam a se preocupar com iniciativas de preservação alinhadas à indústria e ao mercado empreendedor, as expectativas do futuro da região amazônica se tornam ainda mais promissoras, contribuindo com além da preservação da floresta. Segundo Janice, a Jornada Amazônia existe porque acredita no potencial que a bioeconomia de base florestal tem de promover uma mudança significativa na região amazônica. 

“Estamos diante da grande oportunidade de posicionar a Amazônia como a principal catalisadora da economia de baixa emissão de carbono do Brasil - ou, ao contrário, nos depararmos com o ponto irreversível de degradação, aprofundando as desigualdades atuais e nos colocando cada vez mais próximos do tipping point, ou "o ponto de não retorno" da Amazônia. A bioeconomia não apenas abre portas para novas oportunidades econômicas, mas também sinaliza uma transição justa, na qual empregos outrora ligados a indústrias intensivas em carbono são substituídos por oportunidades verdes", pontua Janice.

Confira mais posts do Start