Iniciativa da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos do Brasil e a Amazon.com impulsiona negócios desenvolvidos por brasileiras
Empresas gaúchas ganham destaque ao longo do programa voltado para o empreendedorismo feminino
Na última semana ocorreu em São Paulo a última etapa da terceira edição do programa Academia para Mulheres Empreendedoras (Academy For Women Entrepreneurs – AWE 3.0), desenvolvido em uma parceria entre a Embaixada e Consulados dos Estados Unidos do Brasil e a Amazon.com. Além disso, o programa contou com a implementação do Grupo +Unidos e apoio pedagógico da startup social Somos Todas Marias, com o objetivo de capacitar mulheres empreendedoras em vários países.
A startup Somos Todas Marias oferece formações para empreendedoras do setor da beleza em territórios periféricos, e por conta desta experiência em programas de formação de mulheres empreendedoras, o negócio foi convidado para fazer a coordenação pedagógica da AWE Brasil. Segundo Suzana Fontenelle, facilitadora, coordenadora pedagógica da AWE, ao longo das três edições, o programa já foi responsável pela formação de aproximadamente 270 empreendedoras. Na edição deste ano, ela afirma que foi possível contar com a participação de 90 empreendedoras de todo o Brasil.
Ela explica que a formação compõe cursos de gestão do negócio, materiais e a possibilidade de concorrer a um investimento semente. Suzana explica que o propósito principal é contribuir com o empreendedorismo feminino no Brasil e criar uma rede de mulheres empreendedoras. Por acreditar que o empreendedorismo feminino vai além de gerar renda para as mulheres, ela explica que iniciativas como essa são responsáveis por promover condições para a mulher fornecer melhores condições para suas famílias e para si mesma, reduzindo as taxas de situações de violência doméstica e vulnerabilidade. “Uma mulher com um negócio e, especialmente, com independência financeira, é capaz de exercer um potencial transformador na sua família e na sua comunidade
Ao longo do programa, Suzana compartilha toda a jornada desenvolvida pelo AWE, onde as mulheres participantes puderam participar de encontros virtuais a cada semana. Como parte do programa da AWE, as empreendedoras fizeram cursos de gestão do negócio na plataforma da Arizona State University 100 Million Learners. Além disso, houveram dinâmicas, atividades relacionadas ao curso e troca de experiências. Outro fator, é que no programa de capacitação as alunas e participantes receberam especialistas do PNUD, do MDIC e do SEBRAE, abrangendo temas relevantes para o ecossistema empreendedor.
“Os encontros funcionam como uma grande praça, onde todas se congregam, trocam reflexões, falam dos seus desafios e, principalmente, aprendem umas com as outras. A AWE dá, gratuitamente, acesso e oportunidades para empreendedoras que, sem a AWE, não teriam. Não teriam acesso aos conteúdos técnicos, não teriam um lugar seguro e potente para expor seus problemas e não teriam a possibilidade de estar junto com tantas outras mulheres empreendedoras que têm desafios parecidos”, comenta Suzana.
Ela compartilha ainda que as mulheres no Brasil são provedoras em suas famílias, acumulam funções profissionais e familiares, sofrem violência e discriminacao. Neste contexto brasileiro, programas como a AWE dão acesso a ferramentas necessárias que contribuem para a mudança do contexto difícil para as mulheres no nosso país. Segundo ela, a AWE está diretamente relacionada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030, como ODS 5 Igualdade de Gênero e ODS 8 Trabalho decente e crescimento econômico.
No olhar do participante
Para a participante Karoline Kuhn, apesar da representação feminina no empreendedorismo crescer cada vez mais, a presença de mulheres nos negócios ainda é inferior à masculina. Por isso é necessário dar visibilidade às mulheres que percorrem esse caminho, para que esse reconhecimento incentive e seja exemplo para outras mulheres também. Ela explica que com a AWE, além da formação técnica em empreendedorismo feminino, ela proporciona conexões potentes com outras 90 empreendedoras, de diferentes negócios e estágios de crescimento, onde é possível criar um ambiente de auxílio de desafios, de parcerias entre negócios e de diálogos sobre oportunidades de mercado.
“Nós estivemos durante três meses nessa iniciativa, que teve como base o curso “The 100 Million Learners Bootcamp on Global Entrepreneurship & Innovation” da Universidade Estadual do Arizona. As aulas foram todas online, onde nós estudávamos os módulos indicados, e, após, tínhamos um encontro com facilitadores e mentores para que pudéssemos aplicar o que foi aprendido ao nosso modelo de negócio. Dentro do programa, cada aluna desenvolveu um Plano de Inovação para seu empreendimento, no qual foi apresentado em uma competição para investimento semente. A primeira etapa do Pitch foi realizada ainda online, por meio de um vídeo de três minutos, obtendo 18 semifinalistas, em que eu fui para o evento presencial representando o Rio Grande do Sul”, comenta Karoline.
Ao longo do evento em São Paulo, entre os dias 14, 15 e 16 de setembro, além de palestras do Consulado e Embaixada dos EUA, Grupo + Unidos, Somos Todas Marias, Amazon, PNUD e Sebrae, foi possível ver de perto a palestra da mentora Monique Evelle. Outro acontecimento que fazia parte da programação da AWE, foi a semifinal e a final do Pitch, a qual Karoline ganhou em 2º Lugar apresentando seu negócio, o Studio Kuhn.
O Studio Kuhn, é uma marca de roupas de upcycling, uma técnica de reutilização que busca aumentar o ciclo de vida útil de roupas que estavam paradas ou que seriam descartadas, sendo transformadas em novas peças. A marca surgiu em Morro Redondo, no Rio Grande do Sul, por meio de um voluntariado desenvolvido em um brechó beneficente, onde a designer de moda notou um grande número de peças não tinham saída por alguma avaria ocasionada pelo tempo, mas, com tecidos de alta qualidade. A partir disso, Karoline avaliou cada peça e recriou novas peças, criando novas coleções. Ao longo de três anos de marca, a designer já resgatou mais de 500 peças.
Karoline compartilha que a sua apresentação da marca e do seu plano de inovação presencialmente no AWE, se caracterizou como algo único, especialmente para quem trabalha com o mercado criativo. Ela afirma que durante, pôde perceber que o impacto que eu estava causando era maior do que imaginava, tanto no social quanto no ambiental. Além disso, ela conta que foi possível abrir os horizontes a novas oportunidades, possibilitando a construção de uma base forte de negócio.
“Fiquei extremamente feliz que esse investimento veio para o nosso Rio Grande do Sul. Por meio dele, teremos uma base própria no interior do estado, envolvendo jovens no ciclo de produção, trazendo a oportunidade de trocas e experiências na área criativa por meio de cursos e workshops que serão ofertados, e atuando cada vez mais dentro do RS. Com a produção própria, em 1 ano pretendemos resgatar cerca de 700 peças, triplicando o impacto já gerado", diz.
Segundo Karoline, a premiação do 2° Lugar foi de R$12.000,00, permitirá dar início a um Centro de Inovação e Design Sustentável do Studio Kuhn, em Morro Redondo para que a empreendedora consiga testar e desenvolver novos produtos, com o apoio de uma mão de obra de alta qualidade.
“A ideia do Centro veio por meio de um projeto que já desenvolvemos em 2023 no município, com jovens em situação de vulnerabilidade, onde elas aprenderam do zero a reconstruir peças, aprenderam sobre editorial e fotografia artística e também puderam apresentar esses trabalhos executados na Primeira Exposição de Moda de Morro Redondo. Além de 100% dessas alunas possuírem o desejo de continuidade da iniciativa, também temos uma lista grande de jovens que querem ter a oportunidade dessa vivência”, diz Karoline.
Para a empreendedora Juliana Guterres, fundadora da Brisabela, a AWE contribui com o mercado empreendedor feminino de três formas. Primeiro, ferramentando mulheres com teoria por meio de uma jornada de formação com temas como liderança, planejamento estratégico, empreendedorismo social, registro de marcas e patentes, inovação e tecnologia. Segundo, promovendo networking, e por fim, o grande evento presencial de conclusão da jornada.
Juliana afirma que além da conexão entre as mulheres que participaram da formação, foi possível estar frente a frente com mentoras, facilitadoras e outros agentes importantíssimos nesta jornada, abrindo espaço para a construção de uma rede de negócios. Outro quesito que chama a atenção, abrangendo e incentivando o público empreendedor feminino, é o fato da gratuidade do programa, que se define como um leque de oportunidades para esse público. Ao longo da participação, Juliana afirma que foi possível repensar em muitas coisas dentro da própria empresa, enxergando muitas possibilidades de otimizar seu dia a dia.
“Foi puxado, mas muito gratificante. O programa online durou três meses. A gente tinha um encontro semanal agendado de duas horas de duração mais cerca de três horas de conteúdo online para assistir, mais uma hora de mentoria individual ou coletiva. E o evento presencial foi uma grande celebração dessa jornada que passamos, podendo finalmente conhecer as pessoas que só víamos por meio da tela. Com certeza vem aí uma Brisabela mais digital e ainda mais atenta ao feminino”, ressalta Juliana, que encontrou o programa por meio de um amigo que atua no Instituto Caldeira, instituição conectada com o ecossistema de inovação de todo o país.