Investimentos promissores no Brasil: oportunidades e desafios

13/6/24
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Publicado por 
Redação Start

Segmentos de consumo interno, tecnologia e exportação de bens agrícolas se destacam no cenário econômico atual

Foto: Unsplash
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O cenário de investimentos no Brasil vem apresentando diversas perspectivas e desafios para quem atua no mercado. Especialistas destacam segmentos que mostram potencial promissor, especialmente aqueles voltados ao consumo interno. A exemplo disso, podemos citar a recente decisão do Senado em taxar as compras internacionais nas grandes varejistas, como Shein, Shopee e Aliexpress, que tem o objetivo de estimular o consumo e investimentos internos. Além disso, especialistas destacam que a tecnologia e a exportação de bens agrícolas também são cenários promissores para investimentos nos próximos meses. 

Para falar sobre o tema, a equipe da redação Start convidou o head de gestão e estratégias de investimento do Clube do Valor, André Trein, e o assessor de investimentos da Argentum XP, Derick Sander, que falam sobre como os setores podem se beneficiar neste contexto. Os especialistas enfatizam a importância de uma abordagem sistematizada e diversificada para minimizar riscos e aproveitar as oportunidades de crescimento, enquanto alertam para as armadilhas da concentração e previsões econômicas excessivamente otimistas.

Em entrevista, André compartilha que após o recente movimento de redução na taxa SELIC, o mercado tem, como de costume em momentos assim, colocado alguns setores ligados ao mercado interno como mais promissores para investimentos em renda variável, como os de varejo e consumo. Trata-se de setores que se considera que mais se beneficiam com aumentos de demanda derivados dessa redução dos juros.

Ele destaca que o cenário atual no Brasil e no mundo é de incertezas por conta da trajetória da inflação nos últimos anos. Como exemplo, André cita a economia norte-americana, que segue acima de 3% quando olhamos os últimos 12 meses, e demonstrando alguma resistência em voltar para os 2% almejados pelo Fed, o Banco Central norte-americano. Com isso, ele aponta que a trajetória de queda dos juros por lá foi interrompida, o que tem promovido algumas correções em preços de ativos de renda variável no mundo todo, interrompendo a trajetória de recuperação de muitos desses ativos.

Foto: Divulgação
“Em geral, mostram-se mais resilientes em momentos de incerteza setores ligados a itens de consumo mais básico, como empresas de energia elétrica, saneamento e telefonia, assim como bens de consumo não duráveis. No setor de tecnologia, o destaque tem sido a Nvidia, que tem se mostrado a mais exposta ao tema da revolução da inteligência artificial. No entanto, esse é um setor que, como um todo, reage de maneira mais sensível a oscilações nas taxas de juros, tendo sido um dos que mais sofreu durante o recente ciclo de aperto monetário promovido pelos bancos centrais das economias desenvolvidas em resposta ao surto inflacionário de 2022/23. Portanto, deve-se ter cautela na exposição a ele”, comenta André.

Para Derick, este segundo semestre promete duas classes de mercados promissores. Primeiro, aqueles que desvalorizaram muito como os bens de exportação, e segundo, aqueles que estão atraindo mais volume de negociações como o mercado global de tecnologia. Dessa forma, ele afirma que o investidor posicionado em boas empresas de grãos e operações voltadas à inteligência artificial equilibra o risco retorno para o potencial máximo de crescimento. Além disso, ele reforça que a situação econômica global de fato foi inflacionada no pós-pandemia, algo evidenciado pelo alto custo de capital e de mão de obra qualificada. 

Segundo ele, neste cenário onde observamos taxas elevadas na renda fixa, as empresas mais alavancadas perdem atratividade com a falta de liquidez do mercado desestimulando a atividade econômica em setores de consumo cíclico e mercado interno. Porém, ele destaca que ao falarmos sobre resiliência devemos considerar volatilidade e custo de oportunidade.

Foto: Arquivo pessoal
“Neste sentido, é inegável a eficiência do setor petrolífero como protagonista no que tange a perpetuidade de valor ao longo do tempo e sua rápida adequação  aos eventos globais. Sobre o setor de tecnologia, a grande justificativa para continuar atraindo capital global e ser sem sombra de dúvidas um dos setores mais promissores do ano advém da sua capacidade de prover a  redução de custos operacionais para as empresas, por meio de ganhos de eficiência obtidos na aplicação de inovações como o aumento do processamento de microchips, semicondutores e a própria expansão de serviços na nuvem, bem como a aceleração de processos corporativos e redução no tempo de entrega de tarefas executivas”, comenta Derick.

Apesar de setores promissores e protagonistas, André compartilha que ainda há riscos relevantes que devem ser levados em consideração pelos investidores, como a persistência da inflação em níveis acima dos desejados. Caso isso aconteça, ele afirma que os bancos centrais podem ser forçados a iniciar um novo ciclo de aperto, ao qual o mercado tende a reagir negativamente, tanto por conta do efeito de aumento no custo de oportunidade que isso representa, quanto pelo efeito de arrefecimento da economia que provoca.

“Análises de cenário macroeconômico como essa que estamos fazendo podem criar, no investidor, a sensação de que ele está a par e no domínio dos fatores que vão influenciar a trajetória dos seus investimentos. Ademais, criam também a sensação de que o futuro, seja o macroeconômico, seja o dos preços de ativos, é previsível, e que bons resultados nos investimentos dependem de acertar previsões. No entanto, nenhuma dessas duas sensações são verdadeiras, ambas são grandes enganos. Juntamente com a concentração (em um papel, em um setor, ou mesmo em uma classe de ativos, como ações), talvez esses dois estejam entre os erros mais comuns que investidores cometem e que, ao longo do tempo, os conduzem a resultados abaixo da média de mercado, pois criam mecanismos mentais que os levam a comprar na alta e vender na baixa”, aponta André.

Ele indica que o remédio para evitar cair nessas armadilhas é a sistematização, tanto da estratégia de alocação (entre diferentes classes de ativos, como renda fixa, ações e fundos imobiliários) quanto das estratégias de gestão (que é a escolha de ativos dentro de uma classe). Portanto, André recomenda que os investidores busquem formas de sistematizar suas decisões com base em critérios muito bem fundamentados para driblar aquele que sempre é o seu pior inimigo: ele mesmo, com seus vieses cognitivos e emocionais. André ressalta que análises e projeções de cenário macroeconômico ou de desempenho de setores ou classes de ativos devem ser tratadas pelo investidor como mero entretenimento, e nada mais. As decisões não devem ser baseadas nelas, mas sim no que a sua estratégia sistematizada esteja indicando que seja feito.

“Acredito que as classes de ativos de renda variável ainda têm espaço para recuperação na comparação com os ativos de renda fixa, especialmente no Brasil. Múltiplos de ações, por exemplo, ainda estão baratos na comparação com padrões históricos, e isso deve se corrigir em algum momento, como sempre ocorreu. Só não é possível precisar quando isso vai acontecer. Mas, mais uma vez, essa perspectiva não deve ser tornada base para nenhuma tomada de decisão de investimento, pois tenho a humildade de reconhecer que é apenas mais uma projeção que pode não se concretizar, como tantas outras”, compartilha André.

Em complemento, Derick afirma que o mercado de investimentos deve seguir crescendo pelo maior acesso à informação e, por consequência, os ativos que mais agregam valor globalmente devem representar os retornos de maior destaque anual. Portanto, ele traz  a conclusão de que 2024 é um ano onde a inovação deve fazer a diferença entre gerar lucros ou reportar prejuízos.

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