O clímax da Gramado Summit: Cátia Damasceno encerrará o festival

6/6/25
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Redação Start

Fenômeno na internet, sexóloga transformou tabu em aula.

Foto/Divulgação
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Aquelas dúvidas que muitos têm vergonha de perguntar. Ou as certezas sobre sexualidade que a gente “acha” que tem. Em 2013, a sexóloga, empresária, palestrante e fisioterapeuta (sim, uma mulher multifunções) Cátia Damasceno decidiu falar para a internet o que há 10 anos tratava apenas entre quatro paredes - seja para pacientes, alunas ou em palestras.

Resultado: quase 14 milhões de seguidores no Instagram e quase 11 milhões no Youtube. Aos 49 anos e cada vez mais dona de si, mostrando que amadurecimento e envelhecimento não são prazo de validade, mas sim o começo de uma fase de mais poder para as mulheres, Cátia falou à reportagem do Portal Start sobre vida sexual, prazer, autoconhecimento e empoderamento feminino.

Cátia é um dos 300 palestrantes da Gramado Summit. É ela quem fecha a porta da 8ª edição da Gramado Summit, a partir das 18h15, no dia 6 de junho, na Arena Magalu. Os ingressos ainda estão disponíveis no site. Confira o bate-papo:

Quando você passou de fisioterapeuta focada na região pélvica para sexóloga?

Eu trabalho na área da sexualidade faz 20 anos, comecei realmente com a fisioterapia pélvica, fortalecimento do períneo para o parto e pós-parto e ali, já no primeiro e segundo anos, eu tinha várias pacientes, a gente trabalhava com as gravidinhas e como elas percebiam os benefícios da prática dos exercícios, elas tinham, o que eu até brinco, dos efeitos colaterais do bem, então, percebia uma melhora da lubrificação, uma melhora no orgasmo, uma melhora da contração na hora da relação sexual. Aí, o parceiro começava a perceber, a elogiar e elas começavam a conversar entre si e com as outras amigas e falavam, “gente, olha, estou fazendo um exercício muito interessante”, contavam para as amigas não grávidas: “mas, olha só, eu não tô grávida, mas você me ensina os exercícios?” e eu: “claro, gente, a musculatura é a mesma”.

Eu olhava para os boletos, olhava para as crianças, eu recém-divorciada, precisando sustentar aqueles dois meninos, falei: “cada um usa para o que quiser, umas usam para ganhar criança, outras usam para ganhar presente”. Cada uma vai brincando aí da forma que quiser, e foi assim que eu fui fazendo essa transição, saindo do universo somente da “físio” para as gestantes e partindo mais nesse universo da sexualidade. Universo ao qual eu me apaixonei profundamente, pois consegui resgatar através da minha própria sexualidade, vindo de um primeiro casamento frustrante, sem orgasmo, sem libido, sem nada disso, e me descobrindo como mulher após a prática desses mesmos exercícios. Então, eu tive o resgate da minha autoestima sexual e achei tão interessante aquilo e pensei, por que não ensinar isso daí para as outras mulheres, também?

Você imaginava que seu canal no Youtube seria o maior na temática relacionamentos e sexualidade?

Eu já estava com dez anos de carreira no presencial e, em novembro de 2013, sai meu primeiro vídeo no YouTube. Eu já era uma referência, eu sou de Brasília e, em Brasília, eu já era referência, já palestrava ali em todo o Centro-Oeste, para o universo feminino, para o universo corporativo também. No Dia da Mulher, sempre fiz muitas palestras para grandesempresas e, em 2013, surgiu um convite, uma oportunidade de levar esse conteúdo para a internet.

Até então, eu não entendia nada de internet, mas era uma nova forma de negócio, a gente vai poder levar isso que eu falo somente aqui em Brasília para tantas outras pessoas, vamos arriscar. E aí lançamos e já se vão 12 anos agora que a gente está com o canal no YouTube, mas não, nunca pensei sequer que teria mil inscritos, e quando a gente bateu os primeiros mil foi muito legal, depois 10 mil, e aí eu lembro que dos 10 mil para os 100 mil demorou bastante, dos 100 mil para 1 milhão de inscritos ali, também demoraram-se uns dois, três anos, mas de 1 milhão para 2 [milhões] foi muito rápido, e a gente foi fazendo essa progressão. Hoje, o canal já conta com quase 11 milhões de inscritos lá no YouTube, é o maior canal do mundo de sexualidade, sempre soube aproveitar todas as oportunidades que a vida me ofereceu.

E o que você mais escuta de mulheres que acompanham o seu trabalho ou são tuas alunas?

A mulherada geralmente traz questões sobre autoestima, sobre aceitação da sua própria imagem. De aceitar a sua personalidade, eu acho que a falta do autoconhecimento é algo que deixa um buraco às vezes muito grande num lugar que, facilmente, se a gente olhasse para dentro da gente, a gente conseguiria preencher.

Essa falta da autoestima, ela é muito grande, ela reverbera e repercute também na questão da libido, porque a mulher não se gosta, não se curte, e aí ela tem vergonha do próprio corpo, tem vergonha da própria sexualidade, tem vergonha de pedir coisas novas, tem vergonha de experimentar coisas novas, isso acaba que a libido dela vai caindo e vai baixando também.

Quando a gente vai falar da sexualidade em si, uma grande dor das mulheres é a falta de orgasmo, a anorgasmia, então, a maioria não tem [uma pesquisa da Hibou, de 2023, aponta que 79% das mulheres sexualmente ativas já fingiram orgasmo] ou tem algum tipo de dor e desconforto ali na hora da relação sexual, e muitas delas não conseguem atingir o orgasmo.

Eu comecei trabalhando com o universo feminino, e aí, de tanto trabalhar com as mulheres, as mulheres foram se conhecendo, foram melhorando e falando: “pô, mas Cátia, agora o parceiro está ficando aqui para trás, me ajuda aqui, começa a falar com esses homens aqui também, porque eu aprendi a fazer umas coisas, mas eu mereço também aqui um negocinho gostoso”, e a gente merece, é claro. Comecei então a falar com o universo masculino também, afinal de contas, a relação aí é uma relação a dois, uma relação heteroafetiva.

Quando é uma relação homoafetiva, gente, a sexualidade, ela costuma ser um pouquinho mais fácil de desenrolar, por quê? Porque a gente está lidando com um par igual, então a mulher que é com a mulher, ela tem mais facilidade, um homem que é com o homem, tem mais facilidade. Na emocional, todo mundo tem B.O. Então, quando eu tô falando de uma relação heterossexual, eu venho pro homem.

Vou ensinar esses boys a fazerem um ‘chups’ bacana, a fazer uma preliminar gostosa, a parte mais do ato em si ali, porque ainda existe uma lacuna muito grande entre o que se assiste nos filmes, que eu costumo brincar de filmes educativos, e a vida real, como ela é. A grande dor dos homens realmente é: “como que eu faço?” E isso eu acho muito legal, porque ao longo desses 20 anos de carreira eu percebi essa mudança muito grande de comportamento. Então, os homens hoje falam “como que eu posso fazer para agradar aminha parceira?”. Isso é uma mudança de comportamento bem interessante da parte dos homens.

E o problema do homem, com ele mesmo, hoje em dia a gente tem bastante problemas de ejaculação precoce causada por questões de muito estímulo digital. A pornografia digital está levando os homens a terem questões de ejaculação precoce ou até mesmo de uma disfunção erétil muito grande na hora da relação sexual. Todos temos problemas emocionais, mas temos problemas físicos, fisiológicos, anatômicos, orgânicos, mas conversando direitinho, com autoconhecimento, cara, todo mundo chega lá, se organizar direitinho, todo mundo pega todo mundo, todo mundo termina feliz e todo mundo termina com um orgasmo maravilhoso antes de dormir.

Qual a importância do autoconhecimento para a saúde física, mental e emocional da mulher?

Eu acho que não tem como a gente ter uma saúde física, uma saúde emocional se a gente não tem autoconhecimento, se a gente não tem desenvolvimento pessoal. E aí quando eu falo desenvolvimento pessoal, é conhecer quais são as suas características, a sua forma de lidar com o mundo, o seu comportamento, qual é o seu perfil, como é que você gosta de se comunicar, mas também falo do desenvolvimento físico, porque, gente, a masturbação é um ato de desenvolvimento pessoal, é um ato de autoconhecimento, é um ato de autoamor.

Para os homens, como o pênis é externo, isso é mais fácil. É muito difícil chegar: “ah, eu tenho um problema com orgasmo, eu tenho um problema para ter uma ereção, eu não me conheço”. O homem geralmente se conhece, tem um domínio muito grande do seu próprio corpo. A mulher não, ela já tem uma dificuldade maior. Por quê? Exatamente porque ela não se toca. Então, as mulheres não são incentivadas, estimuladas a se tocarem. E eu sempre digo para a mulherada parar de terceirizar o orgasmo. O orgasmo a gente não terceiriza, a gente tem que ser dona do nosso próprio orgasmo. E para ser dona do seu próprio orgasmo, você tem que saber como é que seu corpo funciona. Só tem um jeito de saber: procurar, estimular, entender. Até mesmo para ensinar o outro, a gente precisa saber como é que o nosso corpo funciona. E aí a gente pega os nossos dedinhos maravilhosos, os nossos brinquedinhos sensacionais e vai descobrir como que este corpinho funciona.

Quando você descobre que o seu corpo é capaz de te gerar prazer, e que você tem uma descarga orgástica no corpo, porque é uma descarga hormonal, é uma descarga de adrenalina, serotonina, endorfina, ocitocina, os hormônios da alegria, do prazer, do bem-estar, da felicidade, todos dentro do nosso próprio corpo. Uma mulher que descobre os prazeres de fazer amor com ela mesma, é capaz de fazer amor com qualquer pessoa nessa vida, com prazer, é claro.

Falar em Cátia Damasceno e não pensar em “aperta e solta” não existe. Afinal, quais são os benefícios do pompoarismo?

Eu criei essa nomenclatura aí para ficar mais didático. De benefícios do nosso corpo a gente tem: melhora da lubrificação, porque a gente aumenta a irrigação sanguínea local. Com o aumento da lubrificação, a penetração, ela fica facilitada. Então, a gente tem orgasmos mais intensos, porque quando eu estreito o meu canal vaginal, que o pênis penetra, ou que o dedo penetra, esse orgasmo, ele é mais intenso.

Quando eu trago benefícios para a nossa saúde, a gente tem melhora das cólicas. Então, eu falo sempre, mãe de menina, ensina a sua filha, para não ter cólica menstrual, só para isso. Melhora o funcionamento do intestino. E o mais interessante de tudo, ajuda muito na questão da incontinência urinária.

Mulherada que está passando pelo período na menopausa, que está com problema de ressecamento vaginal, pratique os exercícios do aperta e solta para melhorar essa lubrificação, porque ela vem da circulação sanguínea, não ficar só dependente do estrogênio que está caindo ali.

Se a Cátia de 2025 pudesse encontrar a Cátia que estava presa em um relacionamento abusivo, o que elas iriam conversar?

Bem, eu diria para mim mesma: “vai dar tudo certo, tenha coragem de fazer o que você precisa fazer”. Se eu tivesse essa bola de cristal, “lá na frente a tua história vai ser inspiração para tantas mulheres” e se você está passando porque você está passando é porque Deus sabe que você dá conta. Deixa eu falar isso daí para mim mesma.

E que recado tu deixa para as mulheres que estão lendo essa entrevista e que não têm autoconhecimento nem se sentem empoderadas?

Eu tenho uma frase que eu encerro a minha palestra, que eu vou deixar aqui para a gente encerrar a entrevista. Essa frase está no meu livro: “A mulher bem resolvida é aquela mulher que ela olha para dentro de si, que, na verdade, tem um domínio de todas as áreas da sua vida”. Aí, alguém fala: “ah, é impossível, Cátia, a gente ter domínio de todas as áreas”. Eu concordo. Nem sempre a gente consegue ter domínio de tudo. Mas a cada momento do dia, ou a cada dia da semana, ou a cada dia do mês, a gente olha para cada área.

E não se esquecer que somos um todo. A gente não é só esposa, a gente não é só mulher, a gente não é só mãe, a gente não é só profissional, a gente não é só filha, a gente não é só irmã, a gente é tudo isso o tempo todo. A mulher bem resolvida não se faz de vítima. A gente vai à luta, a gente corre atrás. Mas atrás do quê? Da nossa própria felicidade. E não é para ninguém. Não é para marido, não é para chefe, não é para filho, não é para ninguém. É por nós. Simplesmente por nós.

Então, se todos os dias você tiver um olhar mais confortável para você mesmo, seja menos exigente com você mesma, seja mais carinhosa, abrace-se mais, permita-se maisdescansar e descansar da sua própria companhia. É isso que faz a gente ter vontade de todos os dias lutar um pouquinho mais por nós mesmas.

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