O que investidores e startups podem esperar do mercado em 2024?

8/2/24
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Publicado por 
Redação Start

Especialistas em investimentos compartilham um panorama e perspectivas para o mercado este ano

Foto: Unsplash
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Após um ano de investimentos retraídos e investidores mais criteriosos quando o assunto é aportar dinheiro em empresas e startups, chega um novo ano com expectativas positivas para o mercado, principalmente para os startupeiros que estão em busca de investidores. Apesar das expectativas serem boas, o que os investidores podem esperar deste ano? Em uma análise, a equipe da redação Start conversou com especialistas no setor.

Amure Pinho, fundador da Investidores.vc, acredita que o momento agora é de maturidade no ecossistema e, hoje, o mercado, empresas, consumidores aceitam e reconhecem startups no seu dia a dia. Ou seja, do ponto de vista de oportunidades, Amure destaca a visibilidade e os desafios. Segundo ele, o grande desafio é a disponibilidade de capital para captação, que acompanha de forma inversamente proporcional a taxa de juros, e quanto mais alta a taxa menor será o apetite dos investidores por risco.

Foto: Divulgação - Investidores.vc
“A diminuição da curva de juros já iniciada em 2023 já começa a surtir efeito no mercado, e os investidores já estão diminuindo investimentos atrelados a juros e aumentando seus investimentos em startups e exposição em ativos alternativos. 2024 será um ano excelente para as startups em fase early stage. Como 2023 foi um ano difícil para captação, fundadores e fundadoras de startups projetaram suas rodadas de captação para 2024, o que pode gerar um "engarrafamento" de rodadas, então atenção dobrada para encontrar o momento certo de ir atrás de investimento”, reflete Amure.

Além disso, ele destaca que é importante estar atento às questões de gestão e governança, pois a competição por capital será grande e, quem estiver mais preparado, organizado e com tração terá mais atenção dos investidores. Amure ressalta ainda que ter mais critérios e premissas para investir em startups é algo que veio para ficar no mercado e que, na verdade, só reflete um amadurecimento do mercado em relação às startups. 

“Qualquer insegurança ou instabilidade sempre aumenta a percepção de risco desses investidores, mas não existe motivo nenhum para investimentos deixarem de acontecer. Vemos investidores cada vez mais bem preparados e o segmento de startups atraindo cada vez mais oportunidades, porque ele representa o futuro, novos negócios, com um protagonismo enorme na economia”, afirma Amure.

Guilherme Kudiess, diretor de operações da Ventiur Smart Capital, compartilha que, para falar de 2024, é preciso analisar 2023, que foi praticamente uma ressaca do mercado de venture capital. Nesse período, foi possível observar uma redução no número de aportes, principalmente no volume médio investido por aporte. Ele aponta que alguns fundos de investimento de Série A resolveram quebrar os seus cheques do restante que tinham ainda em fundo, para fazer alguns cheques de Seed. 

Em 2020, Guilherme destaca que foram 6 bilhões de dólares investidos em venture capital na América Latina, em 2021 o valor ficou em média 17,9 bilhões, seguido de 2022 com 8,3 bilhões e, em 2023, 3,4 bilhões de dólares em investimentos em startups. Nesse sentido, é possível observar uma queda significativa. Segundo Guilherme, o mercado nesse período apresentou um comportamento de mercado, de mais cautela, de menos investimento e de investimentos menores também. Apesar disso, para 2024, ele destaca que as perspectivas são um pouco melhores, mas não significa que será um ano fácil, especialmente para as startups que estão em expansão.

Foto: Divulgação - Ventiur Smart Capital
“Como eu comentei, em 2023 alguns fundos maiores diminuíram o cheque e vieram mais para pré-seed e seed. Mas para startups que estão em expansão, os fundos de Série A estão bem restritos e escassos. Então, dinheiro para crescimento falando de startups promissoras é investimento escasso. Já em uma Série B ou Série C, quando o contexto é consolidação de mercado, a gente ainda tem, e as trações e escalas Série A já estão mais restritas para startups nesse momento”, comenta Guilherme. 

Para compensar a restrição, o mercado de investimentos para startups early stage se mostra mais aberto. Obviamente que o ano será menos abundante do que em 2020 e 2022, com investimentos menores, com mais investimentos em escala menor e em etapas de startup com menor maturidade. Guilherme compartilha que os gestores de fundos e investidores têm tido uma perspectiva voltada para a geração de caixa, alocação de recursos para o crescimento da startup, consistência e uma governança bem estruturada. Isso significa que é necessário que o gestor seja disciplinado, atento a métricas e indicadores que auxiliam nesse processo.

“A régua do mercado de venture capital subiu e sim, os investidores estão sendo mais criteriosos, não só em 2024, mas em 2025 e 2026 vai permanecer dessa forma. O investimento de venture capital vem se tornando mais profissional no Brasil, os empreendedores têm mais acesso a conteúdo, têm acesso e conhecimento e histórias de empreendedores que tiveram sucesso. Então, cada vez mais o mercado tende a ser mais criterioso e buscar empreendedores melhores. O empreendedor brasileiro tem amadurecido nesse sentido. Então continuaremos em 2024 aportando. O mercado está aberto para aportar, investir em bons empreendedores, com uma régua bem mais alta”, ressalta Guilherme.

Ele aponta ainda que é importante que nesse momento, tanto os empreendedores quanto os gestores permaneçam crescendo, mas de forma sustentável. Ele destaca que todo gestor de fundo busca olhar muito além do problema real, mas para o mercado em geral e o posicionamento do time. O que brilha os olhos do investidor é o crescimento acelerado e que tenha fundamento e consistência, algo fundamental não só para o investidor, mas para o negócio. Guilherme complementa que empreendedores que tenham uma governança bem estruturada, que acompanhem de perto suas métricas, que tenham metas claras e alocação de recursos para não terem gastos excessivos, são negócios que estarão propensos a investimentos e terão o olhar do investidor muito mais aberto.

Amure acrescenta ainda que a cultura deve estar em primeiro lugar, espalhada, reforçada e vivida no dia a dia como se fosse religião. Ele aponta que a startup precisa reverberar a cultura em todas as pessoas, áreas e ações. O próximo passo deve ser definir um norte e garantir que todo mundo esteja alinhado com ele, porque junto do crescimento vem a complexidade em garantir que cada pessoa saiba o que fazer para contribuir com a empresa.

“2024 é um ano para afiar o machado, encontrar eficiência, atingir breakeven, refinar o cliente ideal, aumentar margem e conquistar mercado para aproveitar a janela de fusões e aquisições a partir do segundo semestre”, ressalta Amure.

Em complemento, Guilherme afirma que a Ventiur tem sentido uma boa qualidade de negócios no estado de São Paulo, e um certo aquecimento de mercado sobre a adesão de novos investidores, com profissionais que vem se interessando mais por ativos relacionados à bolsa de valores e ao mercado imobiliário.

“Será um ano de crescimento consistente e não necessariamente tão acelerado como as expectativas dos outros anos. Mas crescimento baseado em resultado, entrega e consistência. Inclusive, nós estamos com várias iniciativas para auxiliar nossas startups. Somente 0,2% do PIB latam é destinado para venture capital, então tem muito espaço para crescimento em comparação com alguns países. Outro detalhe é que os múltiplos caíram em relação a 2022, cerca de 60%. Isso significa que é mais atrativo investir em startups em valores menores, o que facilita e cria boas oportunidades para que investidores de VCI retomem e invistam mais”, finaliza Guilherme.

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