Por qual motivo os produtos são mais caros no Brasil?

13/12/23
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Publicado por 
Redação Start

Profissionais que atuam no segmento de importação compartilham as razões dos altos preços de produtos importados no país

Foto: Unsplash
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Ao observar o padrão de consumo de brasileiros quando viajam ao exterior, é possível notar a diferença entre preços de um mesmo produto entre o Brasil e outros países e, muitas vezes, não entendemos as razões por trás dessa alta precificação. Como exemplo, podemos citar a diferença de preços entre um perfume importado, que no Brasil custaria R$600 e no exterior pode chegar  a metade do valor, mesmo quando convertemos a moeda.

Precificar um produto importado no Brasil envolve diversos tributos impostos ao importador, o que reflete no preço para o consumidor final, seja para a indústria ou para produtos mais simples, como perfumes. Por isso, para esclarecer o assunto, a equipe da redação Start conversou com quem atua no segmento. Bruno Leonardelli, analista de importação sênior, compartilha que os produtos importados no Brasil têm um custo de nacionalização elevado devido a fatores econômicos, taxas, impostos e até mesmo questões climáticas.

Além disso, ele esclarece que o preço final depende da constante variação cambial, custos logísticos e efeitos de problemas geopolíticos. Entre os principais impostos pagos sobre importação e suas médias aproximadas são:

Imposto de Importação (II) - A média costuma ficar entre 10 e 15% 

Imposto sobre produtos Industrializados (IPI) - Média de 10% 

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - No RS alíquota padrão de 18%

Programa de Integração Social (PIS) - Média de 9,25%

Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) - Média de 4,65%

Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) - 8% sobre o valor do frete contratado no exterior. 

Apesar disso, Bruno afirma que os produtos importados podem oferecer um custo final mais baixo aos consumidores e empresas. Ele ressalta ainda que o Brasil é um grande mercado consumidor para produtos importados, devido à sua grande população e diversidade de consumidores, mesmo com os desafios da alta tributação e os custos logísticos.

Foto: arquivo pessoal
“Altas taxas de câmbio podem inviabilizar uma importação, porém deve ser analisado caso a caso. Extremos de taxas cambiais podem ser muito perigosos para a balança comercial do país, que é a diferença entre o valor das exportações e o valor das importações durante um período analisado. Certamente, se houvesse uma redução dos impostos de importação, o produto importado teria um custo mais baixo, porém, ele tem uma importante função regulatória para proteger a indústria nacional, evitando impactos negativos no mercado interno, preservando empregos, além da importância arrecadatória para o governo, financiando serviços públicos. A forma como é feita hoje, em forma de benefícios fiscais de redução ou isenção dos impostos para produtos de interesse estratégico ou sem similares nacionais, é o melhor caminho, ao meu entendimento”, comenta Bruno.

Do ponto de vista de quem empreende por meio dos produtos importados, Eduardo Zanatta afirma que os produtos importados sempre terão um valor elevado independente da qualidade, superior ou inferior ao Brasil, principalmente por questões logísticas, em seguida pela carga tributária. A Zanatta Importados foi criada em 2019, oferecendo aos seus clientes produtos como vinhos, destilados, gelo, energético e água. Ao longo desses sete anos de empresa, a Zanatta vem comercializando produtos de países como, Chile, Argentina, Itália, França, Espanha e Estados Unidos.

“Os produtos importados são bem aceitos em nosso mercado. Usando o vinho como exemplo; a história do vinho surge na Europa como isso eles já conseguiram encontrar um estilo de vinho a onde o mundo hoje copia e todos que bebem vinho deseja provar as regiões que dão origem a cada estilo. Isso faz com que sempre tenha novos clientes. Hoje, quando falamos de imposto, podemos sempre fazer uma conta rápida de 35% a 45%. Os destilados sobem de 45% a 65%. Um incentivo para os importados e distribuidores na baixa de imposto seria uma medida importante pois iria aumentar a arrecadação pois aumentaria a venda, consequentemente aumentaria novas vagas de trabalho”, aponta Eduardo.

Segundo ele, o produto importado tem um valor muito importante para o consumidor, por isso, vale a pena investir no segmento.

“O produto, mais a mão de obra de qualidade, faz com que faça valer a pena seguir nos mercados, as pessoas gostam de experimentar algo inusitado e isso cabe ao sommelier da adega, restaurante ou até mesmo o distribuidor, ajudar e tornar o momento único. Hoje quando falamos sobre produtos legalizados logo vem no pensamento o “contatinho do whatsapp”.  Porém, vai muito além para o produto ser totalmente legal e necessário ter passado por vários departamentos do Brasil. Depois que passar por todos os processos de certificação e tributos do próprio estabelecimento, aí sim o produto está 100% pronto para a comercialização”, ressalta.

Bruno esclarece que, apesar dos impostos e taxas para a indústria não mudarem muito com relação a produtos mais comuns, como bebidas e cosméticos, existe uma pequena diferença entre importação para cada tipo de produto e segmento. Segundo ele, as indústrias podem ter acesso a benefícios fiscais (recuperação de créditos tributários) e regimes especiais (Drawback, Ex-tarifários), visando justamente o desenvolvimento econômico do Brasil e a geração de empregos.

“As diferenças estão diretamente ligadas à classificação fiscal da mercadoria, conhecida como NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul). Cada tipo de produto possui uma classificação fiscal única, impactando nas alíquotas de impostos, e produtos como mencionaste requerem aprovações de agências regulatórias para garantir conformidade com normas, segurança e qualidade, essenciais para a segurança do consumidor”, aponta Bruno.

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