Transformando a mobilidade urbana: o papel crucial da tecnologia

Nos últimos anos, a mobilidade urbana passou por uma revolução impulsionada pela tecnologia, trazendo soluções inovadoras para os desafios diários enfrentados pelos moradores das grandes cidades. Em meio a essa transformação, buscando facilitar a rotina das pessoas que precisam enfrentar as ruas, dois aplicativos exemplificam como a tecnologia pode melhorar a eficiência e a acessibilidade dos transportes urbanos e intermunicipais.

Em Manaus, o aplicativo Cadê meu Ônibus tem se tornado um aliado indispensável para os passageiros, fornecendo informações em tempo real sobre os horários e a localização dos ônibus. Com isso, os usuários conseguem planejar suas viagens com mais precisão e evitar longas esperas nas paradas. Por outro lado, no contexto das viagens entre municípios, o Blablacar vem transformando a maneira como os brasileiros se deslocam por distâncias maiores, principalmente entre municípios ou estados vizinhos.

Para entender melhor o impacto desse serviço, a equipe da redação Start conversou com Karen Medeiros, gerente de comunicação do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram), e com Tatiana Mattos, head da BlaBlaCar no Brasil, que contam como ambas as plataformas estão otimizando o transporte coletivo, e o transporte intermunicipal e interestadual, contribuindo para uma mobilidade mais eficiente e reduzindo custos para os cidadãos.

Karen afirma que, após sete anos de operação, o aplicativo já está consolidado e completamente inserido na rotina do manauara que usa o transporte coletivo para se deslocar entre os bairros da capital amazonense. Com cerca de 455 mil usuários ativos e uma média de uso de 31 minutos e 02 segundos por usuário/mês, ela destaca que a ferramenta já se tornou indispensável para o acesso de informações sobre o horário dos ônibus, acompanhamento em tempo real da linha, consulta de saldo, agendamento de serviços, compra de crédito ou qualquer outra opção disponível na palma da mão.

Além disso, a partir do aplicativo, TVs foram instaladas nos terminais e estações de ônibus com a informações de chegadas das próximas linhas. Na tela, os passageiros que estão esperando seus ônibus conseguem ver quanto tempo falta para eles chegarem.

“Um grande desafio na implementação do aplicativo foram os corredores com duas mãos, que precisavam de um desenvolvimento específico para que a distinção dos ônibus na ida ou volta não se confundissem, mas, logo que desenvolvido e aprimorado, já é uma questão bem definida na programação. Outro ponto desafiador, que esporadicamente ainda nos assola, é a eficiência da comunicação que depende da qualidade da internet na cidade. Para que haja uma precisão na localização dos ônibus, é necessário que os carros se comuniquem muito bem com o app e esse é o grande diferencial do aplicativo, a confiança que o cliente tem em saber o exato momento que seu ônibus vai chegar ou falta para ele passar”, aponta Karen.

Segundo ela, graças ao avanço da tecnologia ligada aos aplicativos, o Cadê meu Ônibus possui uma interface instintiva que se assemelha a outros aplicativos relacionados a transporte e esse é um ponto que facilita o uso da ferramenta. Ela explica que existem sistemas internos que trabalham na retaguarda do Cadê meu ônibus e garantem que ele faça a medição dos tempos estimados de viagem, baseados na operação realizada no dia a dia, que trabalha em conjunto com o monitoramento em tempo real de toda a frota. Segundo ela, esse monitoramento permite que o tempo de previsão de chegada aos pontos de parada sejam ajustados a cada comunicação do veículo, considerando trânsito intenso e ocorrências operacionais.

“Desde que o Sinetram passou a visualizar o passageiro do transporte coletivo como cliente, os relatórios gerados pelo setor de SAC da empresa passaram a nortear muitas tomadas de decisão e ações de mudanças ou melhorias baseadas nesses relatos. Em relação ao aplicativo não foi diferente. Semanalmente, todas as demandas de SAC são discutidas pelo corpo gerencial do sindicato e sugestões ou reclamações pertinentes são implementadas. Além disso, a pessoa recebe um retorno avisando sobre o acato a sugestão e um agradecimento de mensagem", conta.

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Segundo ela, os feedbacks mais comuns que recebem são sobre a programação de horário e extrato do Cartão PassaFácil. Os clientes também têm o hábito de sugerir alteração de planejamento de rota, layout e sugestões como visualização das linhas por cor da empresa, inclusão de informação se o carro está lotado ou se possui ar-condicionado, que está em fase de implementação.

Ela conta que a opção “avise-me”, que envia um alerta de quanto tempo falta para o ônibus chegar, facilita o planejamento de saída do cliente até o ponto de ônibus, sem precisar aglomerar no local sem necessidade, algo que acaba sendo benéfico para os usuários do transporte público. Além disso, ela destaca que os pushes com avisos de mudança de rota, desvio por motivo de evento ou obra também são ferramentas que agregam no dia a dia de quem tem o app instalado.

“O planejamento de viagem, disponível no aplicativo, traça uma rota, inclusive contemplando o percurso que o usuário deve fazer a pé até os pontos de ônibus para chegar em uma certa localidade oferecendo desde a viagem mais curta quanto às demais disponíveis até o seu ponto final e, principalmente, a opção mais utilizada de buscar a viagem fornecendo o destino onde o app informa o tempo total de viagem que, por muitas vezes, acaba sendo também um instrumento de tomada de decisão sobre o meio de transporte mais adequado, considerando tempo de deslocamento, para cumprir o compromisso”, aponta Karen.

Ela compartilha que o futuro do “Cadê meu ônibus” é ser ainda mais interativo com seu usuário. Em fase de desenvolvimento, ela destaca que o app terá núcleos divididos por áreas da cidade formando uma comunidade que se comunicará, fazendo parte de uma rede. Além disso, a implementação de informações sobre os carros como lotação de passageiros e se possui ar-condicionado. Ela conta que, atualmente, Manaus possui a maior frota proporcional do país com o equipamento, são mais de 40% da frota total. Com essas novas melhorias também serão lançados programas de recompensas que estão sendo negociados com parceiros.

Para otimizar o transporte intermunicipal, reduzir custos e diminuir o número de carros nas rodovias brasileiras, a BlaBlaCar se destaca como a única plataforma multimodal do país. Em poucos cliques, os passageiros podem escolher entre carona ou ônibus, conforme o meio de transporte mais conveniente para sua viagem. Tatiana Mattos, head da BlaBlaCar no Brasil, explica que, no caso das caronas, os condutores informam a quantidade de vagas disponíveis e definem o preço da viagem, que nunca ultrapassa o limite máximo estabelecido pela plataforma, garantindo uma distribuição justa dos gastos e evitando lucros excessivos para o condutor. Além disso, para as mais de 200 viações parceiras, a plataforma oferece a oportunidade de ampliar sua presença digital e alcançar um público que ainda não está acostumado a viajar de ônibus.

“No que diz respeito às tecnologias utilizadas, inteligência artificial e big data fazem parte do nosso dia a dia, desempenhando um papel crucial na otimização da nossa operação. Por exemplo, hoje, através de uma tecnologia chamada boost, possibilitamos que condutores encontrem passageiros ao longo de um determinado trajeto para compartilhar uma viagem. Ao contrário da nossa abordagem tradicional de caronas, que exige que os motoristas definam paradas específicas com antecedência, o Boost introduz um sistema mais flexível e dinâmico, em vez de se ater rigidamente a pontos de encontro pré definidos. Dessa forma, contribui para gerar opções ilimitadas de viagens para os passageiros, permitindo  que eles reservem um assento em um veículo que passe pelas proximidades”, aponta Tatiana. 

Ela destaca que a BlaBlaCar utiliza inteligência artificial para ajustar a precificação das caronas, considerando a oferta e a demanda. Na área de atendimento ao consumidor, a plataforma busca aumentar o número e a eficiência das interações com os usuários por meio de testes com IA e chatbots. Para ela, a multimodalidade é um grande diferencial da BlaBlaCar: rotas sem transporte rodoviário são cobertas por caronas, enquanto trechos com alta demanda são melhor atendidos pela oferta de ônibus.

“Este foi um dos grandes motivos pelos quais lançamos, no final de 2020, nosso marketplace de vendas de passagens de ônibus, após observarmos uma forte demanda reprimida na plataforma: buscas por trajetos em que nenhum motorista ofereceu carona para aquele determinado dia ou horário, fazendo com que muitas viagens deixassem de ser efetuadas. Vimos com isto a possibilidade de, com a ajuda da nossa tecnologia, preencher assentos vazios não somente por meio das caronas, mas também em viagens de ônibus de empresas que já aconteceriam”, destaca.

Falando sobre números, Tatiana afirma que a BlaBlaCar tem crescido exponencialmente desde que chegou ao Brasil. Na virada para este ano, a startup ultrapassou a França e se tornou o principal mercado de caronas entre os 21 países onde a plataforma atua. Em 2023, houve aumento de 160% na venda de passagens rodoviárias e de 40% nas viagens de carona. Inicialmente, a empresa focou estrategicamente no crescimento nas regiões Sul e Sudeste. Após se estabelecer de forma sólida no país, expandiu suas operações para outras áreas.

A BlaBlaCar foi criada com o objetivo de tornar a mobilidade urbana mais sustentável e eficiente, baseando-se em três pilares: economia de tempo, economia de dinheiro e redução dos impactos ambientais. A empresa acredita que o futuro da mobilidade nas cidades estará centrado no compartilhamento e na comunidade.

“A visão da BlaBlaCar é reduzir a quantidade de carros particulares nas ruas, incentivando o compartilhamento de viagens por meio de caronas solidárias ou via ônibus, maximizando o uso de veículos existentes e diminuindo o tráfego, as emissões de carbono e o congestionamento urbano,” destaca.

A economia compartilhada traz ainda benefícios ambientais significativos. Segundo dados globais de 2023, os usuários da BlaBlaCar deixaram de emitir aproximadamente 2 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) ao optar por viagens de carona ou ônibus. No entanto, a empresa enfrenta desafios tecnológicos para manter a eficiência e segurança da plataforma em viagens de longa distância. A falta de acesso igualitário a dispositivos eletrônicos e internet, além da infraestrutura de conectividade em algumas regiões do Brasil, pode limitar a participação de certas comunidades.

Tatiana ressalta que, além da resistência cultural, há desafios relacionados à infraestrutura de transporte.

"Para promover a mobilidade multimodal, as cidades precisarão investir em infraestruturas que facilitem a transição suave entre diferentes modos de transporte, como caminhar, andar de bicicleta, usar transporte público e veículos compartilhados. O planejamento urbano inteligente e o uso eficiente do espaço serão essenciais para superar essas restrições," afirma ela.

A BlaBlaCar tem expectativas promissoras para o futuro da mobilidade intermunicipal e de longa distância, especialmente com o avanço de tecnologias como a inteligência artificial e os veículos autônomos. A empresa acredita que a otimização da ocupação de veículos já em circulação é crucial para reduzir congestionamentos e impactos ambientais. Tatiana destaca que, embora o futuro possa trazer uma maior oferta de carros elétricos e autônomos, a realidade atual do Brasil exige soluções imediatas como as oferecidas pela BlaBlaCar.

A implementação de políticas públicas que incentivem o uso de plataformas de caronas compartilhadas e melhorem a mobilidade intermunicipal é fundamental. Tatiana cita o exemplo da França, onde o modelo de caronas para deslocamentos diários é incentivado pelo governo, trazendo benefícios tanto para as cidades, com a redução do trânsito e da poluição, quanto para as pessoas, que economizam em seus deslocamentos.

"Atuamos frequentemente em parcerias estratégicas com outras empresas e órgãos governamentais para integrar nossas soluções de mobilidade à infraestrutura de transporte existente e promover políticas públicas que incentivem esse modelo de negócio," conclui Tatiana.