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Pai, publicitário com especialização em negócios digitais, empreendedor e professor. CEO da Paes.Digital e head de Growth da Gramado Summit.
Acesse nosso site← VoltarUma Espiral Sem Fim: a jornada de compra segue em constante mudança e você não pode parar também
Imagine um mundo onde o consumidor não caminha em linha reta, mas dança. Uma jornada que não segue GPS, mas pulsa no ritmo do desejo, da dúvida e da descoberta. Essa é nova era da jornada de compra: um cenário em que entender o comportamento do cliente é mais do que uma questão de estratégia; é questão de sobrevivência.
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A Jornada de Compra: O Mapa da Alma do Consumidor
A jornada de compra é o que costura a relação entre pessoas e marcas. É o caminho que alguém percorre desde o primeiro lampejo de curiosidade até o momento em que toma uma decisão.
Ela já foi tratada como um processo simples, previsível, onde bastava empurrar o consumidor por um funil até a conversão.
Mas esse tempo ficou para trás. Hoje, a jornada é uma espiral viva, feita de múltiplos toques, decisões fragmentadas e emoções em constante movimento.
Basicamente, a jornada de compra possui 3 grandes atos:
- Aprendizado e Descoberta: Também aqui popularmente conhecido como Awareness. O consumidor ainda não sabe o que procura. Ele navega, consome conteúdo, desperta para possibilidades. Aqui, o papel da marca é plantar sementes, sem pressa.
- Reconhecimento do Problema e Consideração da Solução: A etapa mais importante na minha opinião.Aqui consciência já brotou. O consumidor entende sua necessidade e começa a buscar respostas. É aqui que ele começa a decidir se você vale a pena ou não.
- Decisão de Compra: É hora do sim — ou do quase. Tudo que foi construído até aqui será colocado à prova.
Mas atenção: essa sequência pode ser quebrada a qualquer momento.
O consumidor de hoje não é linear. Ele é líquido. Ele é multicanal. Ele é plural.
Funil x Flywheel: O Embate de Paradigmas
Por muitos anos, o funil de vendas foi o modelo padrão: atrair, converter, relacionar, vender. Simples, direto, quase ingênuo.
Só que o mundo mudou. Entramos na era da experiência, da recomendação, da pós-venda que gera novas vendas. E aí surge o flywheel — um modelo circular, onde o cliente não é o fim do processo, mas o motor do crescimento.
No flywheel, o encantamento pós-compra é tão importante quanto a atração inicial.
Um cliente satisfeito não apenas retorna, mas influencia outros. Ele gira a roda, gera tração, acelera resultados.
Na era da complexidade conectada, e com ela nasceu uma nova metáfora mais alinhada com esse tempo de redes, não de trilhos: o flywheel.
Ao contrário do funil, o flywheel não termina com a venda. Ele gira. Ele continua. Ele acelera com a energia dos próprios clientes, que deixam de ser apenas o ponto final da jornada para se tornarem combustível do crescimento.
No flywheel, encantamento, fidelização e advocacy não são bônus — são estratégia central.
Mas e a jornada de compra nisso tudo?
Ela é o pano de fundo que conecta esses modelos. Se o funil representava uma linha reta e o flywheel, um círculo virtuoso, a jornada de compra hoje se assemelha a uma espiral mutante.
O consumidor vai e volta. Reconsidera. É impactado por um conteúdo, esquece, lembra de novo, vai pro concorrente, volta pra você.
A previsibilidade da lugar pra adaptabilidade. O que ficou foi a necessidade de criar experiências coerentes em todos os pontos de contato.
O funil ainda é útil para visualizar estágios e organizar fluxos. O flywheel, por sua vez, representa melhor a realidade das marcas que entenderam que cliente satisfeito vende mais que vendedor.
A lógica linear do funil morre aos poucos na medida em que o consumidor assume o volante do processo. Já não basta atrair, converter, vender. É preciso nutrir, ouvir, encantar, surpreender, manter. E esse movimento é infinito — como um bom relacionamento.
Mas nenhum dos dois modelos sobrevive sozinho se não for colocado dentro do contexto emocional, social e digital da jornada real do consumidor contemporâneo.
Os 4S da Nova Jornada: Uma Anatomia Comportamental
Para dar nome aos bois — ou melhor, aos comportamentos — o Think with Google, em parceria com o BCG, apresentou recentemente um novo framework: os 4S da jornada moderna.
- Streaming (Assistir): Estamos o tempo todo imersos em vídeos — YouTube, TikTok, Netflix. Consumimos conteúdo que nos molda, nos inspira, nos seduz.
- Scrolling (Navegar): Rolamos infinitamente nossos feeds. Descobrimos marcas, tendências, produtos.
- Searching (Buscar): Quando a intenção aflora, recorremos ao Google, à Amazon, ao Instagram. Buscamos, comparamos, refinamos.
- Shopping (Comprar): A decisão acontece. Mas ela não é o fim. Depois da compra vem a experiência, o review, a recomendação, o pós-venda. O consumidor continua na roda. E espera que a marca também esteja.
Uma Nova Consciência Estratégica: ter presença e ser presente
Diante dessa complexidade, o papel das marcas é menos sobre empurrar o consumidor e mais sobre estar presente quando ele puxar. Isso exige inteligência de dados, empatia na comunicação e consistência na experiência.
Não se trata mais de montar campanhas. Trata-se de criar presenças significativas.
De entender onde sua marca entra no dia a dia das pessoas e, principalmente, onde ela pode fazer diferença.
No fim do dia, não importa se você tem um funil ultra automatizado, uma estratégia de inbound premiada ou a IA mais afiada do mercado. Não importa se você faz tráfego pago, orgânico, boca a boca ou dança da chuva no Reels.
Se o seu cliente não sente que você está lá por ele, nada disso importa. A jornada de compra não é sobre o que você quer vender — é sobre o que ele quer resolver.
E se você constrói sua presença apenas com base em ferramentas, formatos ou plataformas, sem ouvir quem realmente importa, você não tem uma marca.
Você tem um esquema.
Não é sobre o funil.
Não é sobre o flywheel.
Não é sobre os 4S.
É sobre gente.
Sobre presença.
Sobre percepção.
Porque no fim, o consumidor compra o que ele acredita. E ele acredita em quem está com ele ao longo da jornada. Não só na hora de empurrar o carrinho.
E quem constrói isso, não precisa implorar pelo próximo clique. Porque o cliente já está girando a roda — com vontade, com afeto, com intenção.
E aí, como bem citou esses dias Vitor Peçanha em um artigo seu no Linkedin: “Se você só faz marketing para vender, uma hora ninguém mais compra.”
Se a resposta for não, talvez seja hora de parar de medir conversão.
E começar a entender de verdade a jornada do teu cliente.