Uso da tecnologia no agronegócio

16/7/24
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Publicado por 
Redação Start

Como a tecnologia está revolucionando a produção agrícola no Brasil, tornando-a mais eficiente e sustentável

Foto: Unsplash
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Não é novidade que a tecnologia tem se expandido cada vez mais e atingido proporções que, até pouco tempo, eram consideradas distantes da realidade. Quando se trata do agronegócio, a inovação e a tecnologia surgem como ferramentas que tornam o desenvolvimento ainda mais promissor, tanto para produtores quanto para empresas. O uso de ferramentas que otimizam os produtos e serviços originários do agronegócio no Brasil se torna ainda mais importante, considerando a posição privilegiada do país no ranking de potências do agro, ocupando a terceira posição no índice de maiores exportadores do setor, ficando atrás somente da Europa e dos Estados Unidos.

Um estudo realizado pela PwC revela que 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio à produção agrícola, refletindo a importância da tecnologia para garantir a eficiência no setor. Pensando nisso, a equipe da redação Start conversou com quem vive na prática a otimização de produtos e serviços por meio da tecnologia.

Mauro Ávila, CMO da Insect Protein, afirma que a empresa está na vanguarda da inovação em biotecnologia, utilizando métodos avançados para desenvolver produtos a partir do inseto Tenebrio molitor. A startup gaúcha apresenta soluções sustentáveis e eficientes para a alimentação de animais não ruminantes, garantindo uma produção constante e de alta qualidade. Segundo ele, a tecnologia empregada supera desafios como variações climáticas e doenças, assegurando um fornecimento estável e confiável para o mercado.

Ele destaca que o produto principal da startup consiste na farinha integral de tenebrio molitor, e sua utilização na alimentação dos animais contribui para o bem-estar devido aos seguintes pontos:

- Nutrição sustentável: Os insetos são ricos em proteínas, gorduras saudáveis, cálcio, ferro e zinco. Eles são uma opção saudável aos alimentos tradicionais, como frango, carne e peixes.

- Compostos bioativos: Estudos mostram que os insetos podem fornecer compostos bioativos com efeitos positivos no organismo, como ação antioxidante, anti diabética e antimicrobiana.

- Alimento natural: Animais já consomem insetos no seu dia a dia, portanto não é novidade oferecermos insetos como fonte proteica para eles.

- Palatabilidade e digestibilidade: A larva de tenebrio é muito palatável, possui odor amendoado e uma digestibilidade acima dos 80%, ou seja, sua ingestão possui ótima aceitação e agrada aos animais.

Foto: Lucas, Adriana e Mauro, fundadores da Insect Protein
“A utilização de insetos na alimentação é uma tendência crescente que oferece soluções para muitos dos desafios globais atuais. Com a população mundial em constante crescimento e os recursos naturais se tornando cada vez mais escassos, a busca por fontes de proteína sustentáveis e eficientes é mais importante do que nunca. Insetos são uma fonte de nutrição incrivelmente rica e têm uma pegada ecológica muito menor em comparação com a pecuária tradicional. Além disso, a criação de insetos pode ser realizada em uma variedade de ambientes, incluindo áreas urbanas, o que os torna acessíveis e práticos para a produção em massa. A aceitação cultural é um obstáculo que está sendo superado pela educação e pela inovação culinária, com insetos sendo incorporados em pratos de maneira criativa e saborosa”, comenta Mauro.

Segundo ele, à medida que a regulamentação evolui e as práticas de bem-estar são estabelecidas, o futuro da alimentação com insetos parece não apenas promissor, mas essencial para um mundo mais sustentável.

“Ainda existe pouca legislação e regulamentação para produtos derivados de insetos, embora isso venha mudando. A falta de diretrizes claras e até mesmo de fiscalização resulta em um mercado informal que compromete a imagem de qualidade e segurança destes alimentos”, comenta.

Além disso, Mauro destaca que a Farinha de Tenébrio da Insect Protein tem sido uma opção saudável e nutritiva para a formulação de alimentos destinados a cães alérgicos às proteínas tradicionais. Segundo ele, sua alta digestibilidade, acima de 80%, permite que os animais absorvam melhor os nutrientes, melhorando sua imunidade a doenças. A palatabilidade também é aprimorada, facilitando a aceitação dos alimentos pelos animais.

Assim como a Insect Protein, diversas empresas têm utilizado a tecnologia como base dos seus negócios no agronegócio. Esse é o caso da médica veterinária e professora universitária Denize da Rosa, fundadora da startup Suport D Leite. Denize conta que a sua trajetória com a indústria do leite começou há mais de três anos, quando atuou como mentora de um produtor de leite, para que ele pudesse produzir o laticínio com mais qualidade para o consumidor final. A ideia da empresa surgiu após a veterinária enfrentar um câncer de mama em 2018 e, posteriormente, passar pela experiência da maternidade, em que não foi possível amamentar como consequência do câncer.

Unindo uma experiência pessoal à experiência profissional, Denize passou a pensar em como utilizar dos seus conhecimentos técnicos da indústria leiteira para contribuir com o avanço do mercado. Sabendo das dificuldades que o produtor tem no dia a dia para manter a qualidade do leite, ela entende a importância de um leite de qualidade para a nutrição das pessoas.

“O leite não só nutre mas também salva vidas. E eu acabei salvando a vida da minha filha porque ela foi nutrida com leite de vaca desde o primeiro dia. Isso é o que me motiva a auxiliar os produtores a produzirem, dentro de práticas sustentáveis. Acredito que a sustentabilidade vai fomentar cada vez mais a cadeia e melhorar cada vez mais a qualidade do leite”, comenta.

Segundo ela, a startup nada mais é do que um laboratório que trabalha com análises de qualidade do leite, tanto para produtores, como empresas e técnicos que têm acesso para fazer as análises. Ela explica que essas análises ajudam na tomada de decisões, no tratamento da saúde dos animais, na nutrição, na reprodução e nos manejos nas propriedades dos produtores. Além dos serviços laboratoriais, a startup oferece serviços de consultoria de campo, em parceria com o Sebraetech, desenvolvendo ações que buscam manter a saúde dos animais e a saúde das pessoas, entregando um produto que chegue à mesa do consumidor com muito mais qualidade.

Denize acredita que fomentar a indústria do leite utilizando tecnologia contribui e fortalece o agronegócio no país e, principalmente, no Rio Grande do Sul. Por esse motivo, a startup auxilia também em pesquisas científicas, em parceria com diversas instituições que trabalham com novas tecnologias de campo, auxiliando na qualidade de produção de forma sustentável. Ela destaca ainda que a Suport D Leite vem ganhando destaque por meio de um produto que ainda está em desenvolvimento, voltado para a biossegurança e a biosseguridade do leite.

Foto: Divulgação - Suport D Leite
“Por meio desse produto, o produtor ou técnico de uma fazenda vai poder identificar qual é o melhor antibiótico para tratar uma vaca, quando ela tem algum problema na glândula mamária, que compromete a saúde do leite. Acreditamos que selecionando o antibiótico de forma correta, a gente evita a formação de superbactérias que, como consequência, podem contribuir com questões de saúde pública. Pois, uma superbactéria que chega ao leite do consumidor final pode causar diversos problemas para a população. Então, temos focado nessa questão do Plano Nacional de Controle dos Antibióticos, que é também o objetivo da OMS de produzir alimentos com maior qualidade, causando menos desperdício e nutrindo as pessoas de uma forma sustentável”, pontua Denize.

Entre os principais desafios na cadeia produtiva do leite, Denize destaca a necessidade de aumentar a produção sem afetar o meio ambiente, encontrando formas de produção que melhorem as condições dos animais e do ambiente onde estão inseridos. Os produtores podem usar aditivos na dieta dos animais que não prejudiquem a saúde deles e, ao mesmo tempo, aumentem a produção. Ela também enfatiza a importância de práticas de proteção de nascentes, integração lavoura-pecuária e outras técnicas sustentáveis.

A redução de custos na produção sem comprometer a qualidade do leite é essencial, pois o leite é um alimento fundamental que envolve tanto o campo quanto a cidade. Atualmente, a indústria de laticínios está colaborando em projetos com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como o projeto Leite Saudável, que oferece isenção de PIS e Cofins para os laticínios investirem no campo, melhorando a produção e a qualidade do leite de maneira sustentável.

Denize acredita que o processo deve envolver aspectos sociais, pois a motivação e a felicidade no trabalho são fundamentais para alcançar bons resultados. A equipe passa por treinamentos relacionados à governança, e a empresa trabalha com o descarte correto de resíduos e a redução do uso de insumos no laboratório. Ações como a otimização de percursos de visita e campanhas sociais para conscientizar as pessoas, além de promover uma governança mais humana, são constantemente realizadas. Conectando o campo à cidade, a startup vem fazendo parcerias com empresas para desenvolver novos produtos e testar produtos de outras empresas por meio de pesquisas. Para isso, envolve programas de pós-graduação e parcerias com instituições como a Rede Leite, que inclui Embrapa, Unijuí e outras.

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