4 Day Week Brazil: tendência foca na redução da jornada de trabalho na semana e aumenta a produtividade dos times
Empresa que adota o sistema compartilha os benefícios do modelo de trabalho para o avanço dos negócios

A nova geração chegou ao mercado de trabalho e, com ela, estão sendo implementadas inúmeras transformações na rotina do trabalhador. Essas mudanças foram trazidas por meio da influência da tecnologia e da constante necessidade de mudanças nos modelos de trabalho, que, por muito tempo, foram vistas como algo maçante, pelas gerações dos nossos pais. Nesse contexto, as empresas têm enxergado o trabalho de uma forma diferente, buscando se adaptar às tendências de mercado e às transformações.
Acompanhando essas mudanças, na última semana o programa Fantástico divulgou uma reportagem falando sobre um dos modelos de trabalho que vem sendo adotado pelas empresas, com foco na jornada reduzida e produtividade do colaborador, a jornada de quatro dias de trabalho por semana. Esse modelo surge para trazer equilíbrio entre a vida pessoal e profissional do colaborador, e que já demonstra melhoras significativas para o mercado de trabalho.
Além do aumento na produtividade, é possível observar uma redução de custos significativa, diminuição na emissão de gases do efeito estufa e melhora na qualidade de vida das pessoas. Um estudo realizado no Reino Unido mostra que os funcionários de cerca de 60 empresas britânicas que adotaram esse sistema de trabalho têm sentido um aumento considerável no nível de satisfação com o trabalho.
No Brasil, o modelo de trabalho vem sendo discutido pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT), afirmou nesta segunda-feira, dia 9, que já passou da hora do Brasil discutir a possibilidade da semana de trabalho com apenas quatro dias. Pensando nisso, a equipe da redação Start conversou com adeptos desse modelo de trabalho para esclarecerem alguns benefícios do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Alan Leite, diretor financeiro e administrativo da Vockan, distribuidora autorizada QAD no Brasil, que oferece a implementação deste software e serviços de tecnologia para a indústria, que adotou o modelo de quatro dias de trabalho na semana para o time comercial, afirma que, comprovadamente, pessoas descansadas produzem mais e melhor. Segundo ele, o aumento dos índices de bem-estar e de felicidade impacta automaticamente no comprometimento do colaborador para com suas atividades designadas. O conjunto disso reflete na produtividade positiva do colaborador.
Ele compartilha que, assim como o trabalho remoto e híbrido não faziam parte da realidade da maioria das empresas e hoje chega a ser um pré-requisito no processo de recrutamento e seleção, a jornada de quatro dias de trabalho também pode ganhar força por aqui. Ele ressalta ainda que a jornada de trabalho já foi de seis dias e 16 horas por dia. Segundo ele, essa reflexão sobre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional já foi pauta e conquistou avanços.

“A Vockan sempre buscou priorizar as pessoas por meio de valores humanizados. A gestão de pessoas sempre foi pilar essencial da empresa, guiando as decisões de negócio. Assim, entendemos que implantar a semana de quatro dias seria uma solução inovadora que traria benefícios já a curto prazo, ampliando a qualidade de vida dos colaboradores e gerando maior produtividade. Fizemos um piloto em uma área específica para testarmos a metodologia e aferirmos com base em KPIs os avanços e oportunidades de melhoria”, comenta Alan.
Um ano após o início dos testes, Alan compartilha que foi possível enxergar além, observando um processo muito aderente em todos os aspectos, sendo necessárias adaptações para cada departamento ou setor. Além do aumento da satisfação geral das pessoas e da produtividade, ele afirma que também houve drástica queda no turnover.
“Hoje, as pessoas percebem o valor do modelo de quatro dias de trabalho e não querem sair da companhia. Também construímos um rico banco de talentos, de bons profissionais que querem ter uma oportunidade conosco. A Vockan, periodicamente, realiza o acompanhamento dos indicadores de produtividade, e podemos ver um aumento de 23% desde o início do piloto por meio dos índices técnicos de desempenho analisados”, aponta.
Renata Rivetti, fundadora do movimento Reconnect Happiness at Work e 4 Day Week Brazil, organização que atua na expansão do tema realizando pesquisas ao redor do mundo, afirma que segundo um relatório da Deloitte, cerca de 41% dos colaboradores estão se sentindo esgotados. Ela pontua ainda que as pessoas passam cerca de 288% mais tempo em reuniões do que antes da pandemia. Porém, ao olharmos os dados de produtividade, há pouco crescimento nas últimas décadas, refletindo em resultados que demonstram que a população trabalha muito, mas nem sempre apresenta bons resultados.
Nesse contexto, Renata afirma que a ideia da semana de quatro dias é justamente redesenhar o trabalho reduzindo os ofensores da produtividade, como excesso de distrações, reuniões improdutivas ou desnecessárias, falha na comunicação, processos manuais e burocráticos, mal uso da tecnologia, entre outros. Segundo ela, do ponto de vista global, os projetos pilotos da semana de quatro dias demonstram que os participantes afirmam encontrar equilíbrio.
“No maior piloto global, que ocorreu no Reino Unido com quase 3 mil pessoas, 54% dos participantes disseram conciliar melhor vida pessoal e profissional, 71% reduziram sintomas de burnout e 39% disseram ter reduzido seu estresse. A ideia surgiu como um projeto de aumento de produtividade, que começou em 2018 na Nova Zelândia. O piloto teve ótimos resultados, tanto para os colaboradores, quanto para as empresas e, com isso, surge a 4 Day Week Global, organização que atua na expansão do tema realizando pesquisas ao redor do mundo. No Brasil, nós da Reconnect Happiness at Work, somos os parceiros exclusivos do projeto e estamos atuando na fase de planejamento do piloto”, comenta Renata.
Ambos os especialistas no assunto, afirmam que, por muito tempo, as pessoas romantizaram ser workaholic, como se o trabalho excessivo fosse sinônimo de produtividade e expansão de negócios, e que muito desse pensamento pode estar relacionada à uma questão cultural, que vem sendo repassada por gerações. Mas, ao longo dos anos, a população vem passando por evolução que contribuem com essa mudança de pensamento.
“Com suporte de tecnologia tanto para viabilizar processos quanto para aferir dados, podemos redesenhar jornadas em busca de maior equilíbrio entre o trabalho – que é sim importante e fundamental – em nossas vidas pessoais – igualmente valorosas e merecedoras de nossos esforços”, pontua Renata.
Alan complementa que as gerações passadas buscavam o sucesso no crescimento profissional, dinheiro, status e poder. Eles acreditavam que, para isso, teriam que suportar abusos, sobrecarga, relações tóxicas. Mas, com a chegada das novas gerações no mercado de trabalho, com reflexos do período pós-pandemia, a população passou a questionar a forma como vemos o trabalho, em busca de uma rotina produtiva, sustentável e humanizada.