Entrevista: astro do skate, Bob Burnquist fala de negócios, inovação e saúde

11/6/25
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Publicado por 
Redação Start

O mais brasileiro dos atletas americanos apresentou plataforma que une ciência, inteligência artificial e sabedoria ancestral para promover bem-estar

Crédito: Rede FeedMe/FeedMe Studios
Crédito: Rede FeedMe/FeedMe Studios

Das pistas de skate aos jogos eletrônicos, por onde ele passa, seu nome é sinônimo de adrenalina e superação. Bob Burnquist ganhou o mundo sobre as quatro rodas do seu skate tornando-se o maior medalhista da história dos X Games – maior campeonato de esportes de ação do mundo – mas já estrelou documentário, série de TV e colocou o nome do Brasil no mapa-múndi dos esportes radicais.

Hoje, aos 48 anos, Bob segue inquieto e em constante movimento entre a prática esportiva e projetos pessoais. Nascido no Rio de Janeiro e criado em São Paulo, o atleta é filho de mãe brasileira e pai americano com ascendência sueca. Desde 1995, Bob vive nos Estados Unidos – mais precisamente na Califórnia, onde construiu a Dreamland, um complexo que comporta a sua mega rampa, além de outras pistas que ele usa para treinar e se manter em constante evolução.

Em 2006, saltou do Grand Canyon, no Arizona, em um trecho conhecido como Hell Hole Bend (Declive do Buraco do Inferno), que fica na reserva indígena dos Navajos. Antes dele, duas pessoas já haviam morrido ao tentar a façanha. O medalhista também integrou a franquia de jogos "Tony Hawk's Pro Skater" e está presente em diversos títulos da série.

No ano passado, o skatista teve a sua trajetória contada na série documental “Bob Burnquist: A Lenda do Skate", que foi lançada pelo canal HBO e pela plataforma Max. Além de atleta, ele também é empresário com atuação no ramo dos esportes, da sustentabilidade e da tecnologia. Por meio do Instituto Skate Cuida, Bob utiliza o esporte como ferramenta de transformação social.

Por tudo isso, Burnquist foi um dos escolhidos para subir ao palco da Arena Magalu, o lugar mais emblemático da 8ª edição da Gramado Summit, na Serra Gaúcha. A palestra “Skate, Quedas e Disrupção: A Arte de Criar o Impossível” levou aos participantes um pouco da história de sua carreira e apresentou a nova fase da Farmaleaf – plataforma que usa inteligência artificial, ciência descentralizada e dados pessoais para promover o bem-estar de forma regenerativa.

Confira a entrevista exclusiva de Bob Burnquist para a Gramado Summit:

1. O skate hoje tem um lugar consolidado no Brasil e no mundo. Como foi sua entrada nesse universo e o que te motivou a escolher o skate como caminho?

No começo, eu jogava bola, beisebol, handebol – por conta da minha origem brasileira e americana, cresci entre essas influências. Mas sempre fui asmático, não aguentava correr por muito tempo. Teve um momento em que ganhamos uma competição e eu não joguei nem um minuto. Aquilo me marcou. No skate, era diferente: tudo que eu fazia, eu que fazia. Se eu caía, a culpa era minha; se acertava, o mérito era meu. A individualidade, a criatividade e a expressão que o skate permitia me conquistaram – e ainda me motivam até hoje. É um processo constante de criação e evolução.

2. O salto no Grand Canyon em 2006 marcou sua carreira. O que te inspirou a realizar esse projeto? Qual foi o significado desse momento na sua trajetória?

Sempre gostei de criar algo novo, pensar fora da caixa. Já praticava paraquedismo, base jump, andava na mega rampa… Então fui juntando essas habilidades até conseguir realizar essa ideia. Foi uma proposta minha, apresentada a um programa do Discovery Channel, que aceitou e financiou. Montamos a rampa no Grand Canyon. Foi um dos dias mais incríveis da minha vida. A ideia era inspirar, fazer as pessoas “levantarem do sofá”. E até hoje o projeto é lembrado. Foi a união de várias paixões em um só momento.

3. Após tantos anos de carreira, com manobras extremas e desafios constantes, como você lida com as lesões físicas e com a recuperação mental? Isso influenciou os projetos que você desenvolve hoje?

Com certeza. Desde o começo, o skate me ensinou sobre cura. Eu brinco que não sou atleta, sou profissional da cura. Aprendi que quem se recupera mais rápido, volta mais cedo e anda melhor. Sempre busquei acelerar esse processo: alimentação, fisioterapia, fortalecimento, foco mental. Usava apps de anatomia e hipnose guiada com afirmações para cura e performance. E isso influenciou diretamente a criação da Farmaleaf – uma plataforma que une ciência, inteligência artificial e sabedoria ancestral para promover bem-estar plant-based, com consciência do processo de cura. Minha experiência pessoal me levou até esse ponto.

4. Como foi participar do projeto “Superhumans” com Stan Lee? Que impacto essa experiência teve e como você vê os limites do corpo e da mente?

Foi uma honra. O olhar científico sobre o que eu fazia – velocidade, impacto, distância – trouxe um entendimento novo do corpo. E mostrou como, mesmo sendo frágeis, temos uma força interna absurda quando usamos a mente com dedicação e consciência. Essa percepção também se conecta com tudo que faço hoje: entender melhor o corpo e explorar seu potencial de cura, performance e superação, mental e física.

5. Entre tantas conquistas e títulos – incluindo recordes e medalhas nos X Games – qual foi o momento mais desafiador da sua carreira?

Foram vários, mas um marcante foi quando sofri uma queda brutal na mega rampa e fiquei de cadeira de rodas dias antes da competição. Tive que reunir tudo o que aprendi sobre cura, foco e resiliência. Trabalhei com meu parceiro dias seguidos, senti dor, me superei… No fim, competi e ganhei. Esses momentos mostram que a mente é tão importante quanto o corpo. Foi uma das experiências mais difíceis e recompensadoras da minha trajetória.

6. Você ainda pratica esportes radicais como paraquedismo e voo de helicóptero? Há algo novo que você ainda gostaria de experimentar?

Sim, sigo praticando. Tenho voado menos que antes, mas pretendo retomar com mais frequência. Tenho paraquedas comigo e estou com vontade de retomar a acrobacia aérea, com aviões de looping e manobras. Também tenho surfado em piscinas de onda – commenos risco. E sigo andando de skate na mega rampa, criando e filmando novas manobras. A cabeça continua ativa e o corpo, em movimento. A aviação, inclusive, é um foco de aprofundamento para mim agora.

7. O Instituto Skate Cuida é um projeto de grande impacto social. Pode nos contar sobre as ações mais recentes e como o skate tem sido usado para transformar vidas?

O Instituto Skate Cuida nasceu como Instituto Bob Burnquist, mas ganhou vida própria. Atuamos com aulas regulares de skate em Niterói, projetos de tecnologia com a Plataforma Impact, e ações de educação cultural sobre o skate. Trabalhamos também com Web3 – realizamos um campeonato com votação descentralizada na blockchain. Estamos conectados com parceiros como o Instituto Nova Era, a TokenNation (antigo NFT Brasil) e levamos workshops, oficinas e arte para eventos e comunidades. A missão é clara: o skate transforma. E precisamos preservar sua cultura, seu espírito e sua raiz enquanto ele se expande.

8. O skate vem se tornando cada vez mais inclusivo, com destaque para novas gerações como Rayssa Leal e Letícia Bufoni. Como você enxerga essa transformação e o papel das mulheres no esporte?

É lindo ver o crescimento do skate feminino. Rayssa, Letícia, Pamela Rosa, Karen Jonz e tantas outras – elas estão puxando o skate pra frente. Mas, mais do que isso, estão apresentando o skate para novos públicos. E isso amplia o impacto cultural do skate. Rayssa é uma skatista gigante, não só uma atleta mulher. É inspiração. Como já foram o Chorão, o Lennon e outras figuras culturais. O skate é muito mais que medalha: é um estilo de vida. E elas representam isso muito bem.

9. A sua vida já rendeu documentário, série e até personagem de videogame. Há projetos novos em produção que você possa compartilhar conosco?

Sim, tem bastante coisa em movimento – e não só na mídia tradicional, mas em novas plataformas que unem impacto, saúde, arte e tecnologia. Na Gramado Summit, apresentei a nova fase da Farmaleaf. É a união entre saúde personalizada, sabedoria ancestral e ciência moderna. Também seguimos expandindo a TokenNation, antigo NFT Brasil, com um ecossistema focado em tokenização, blockchain e cultura. A edição 2025 ocorreu 4 e 5 de junho, na Bienal de São Paulo, e estamos preparando a expansão para os EUA. O Instituto Skate Cuida continua ativo, promovendo ações sociais, oficinas tecnológicas e experiências de impacto em comunidades vulneráveis – sempre com o skate como ferramenta de transformação. Essa atuação é fortalecida pelo apoio do Banco do Brasil, patrocinador principal do Instituto e também parceiro direto no meu trabalho. Com eles, conseguimos ampliar o alcance das ações, conectar esporte, educação e tecnologia, e mostrar que o skate pode ser ponte real para o futuro. Já a Burnkit é a minha marca de skate em crescimento, que está trazendo uma nova linha de shapes profissionais para o Brasil. E a Verdment, que atua com concreto sustentável, está comigo em iniciativas de infraestrutura e pistas de skate. Sigo em movimento – agora, criando projetos que inspirem, curem e conectem.

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