Acessibilidade digital vai além de inclusão: avanços podem impactar positivamente o desenvolvimento dos negócios

11/12/22
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Publicado por 
Redação Start

Especialista no assunto, Amanda Lyra traz dicas para empresas evoluírem

Para eliminar as barreiras digitais entre usuários com necessidades específicas, o tema acessibilidade digital tem sido discutido com grande frequência, em um cenário onde cerca de 45 milhões de pessoas apresentam pelo menos uma deficiência no Brasil. Segundo dados do Governo, o número representa 23,9% da população brasileira, o que demonstra a importância de discussões nesse quesito.

A implementação da acessibilidade no ambiente digital é uma luta diária para pessoas que necessitam e para aqueles que anseiam por mudanças nas políticas públicas e privadas. A luta garante a inclusão independente das capacidades físico-motoras e perceptivas, culturais e sociais. 

A consultora de Acessibilidade e Marketing Acessível e especialista no assunto, Amanda Lyra, destaca os principais questionamentos acerca da acessibilidade. Amanda fala também sobre a importância e os benefícios da implantação da acessibilidade nos seus negócios. Confira:

  1. Qual é a importância da acessibilidade digital para a sociedade e para o desenvolvimento dos negócios?

Assim como no mundo físico, a acessibilidade impacta diretamente a sociedade e os negócios no mundo digital, porque ela garante acesso fácil para que todas as pessoas possam navegar, interagir, perceber e compreender as páginas de um site, o conteúdo de um blog, e-mail, mensagem e até mesmo as publicações em uma rede social.

Quando não oferecemos acessibilidade, acabamos automaticamente excluindo uma parcela expressiva de pessoas: pessoas com deficiências, com mais de 40 anos, com baixa maturidade digital, com internet sem tanta qualidade, com dispositivos móveis ou computadores que não são de última geração e pessoas neuro diversas (quem tem dislexia, TDAH e autismo, por exemplo). E negar o acesso fácil para quem quer comprar um produto ou serviço não é nada interessante para os negócios.

  1. Quais são os benefícios de uma empresa ao adquirir ferramentas digitais que oferecem acessibilidade aos usuários dos serviços?

Com os avanços constantes da tecnologia, temos cada vez mais recursos para oferecer várias maneiras do usuário consumir determinado conteúdo, independentemente de quando, como e onde esse conteúdo chega até ele. Novas ferramentas surgem a cada dia e é possível usar essas ferramentas para complementar a melhora deste acesso. Porém é preciso contratar especialistas e contar com a validação humana para entender quais ferramentas ajudam de fato os usuários ou são apenas máscaras que trazem o discurso da acessibilidade para vender soluções “milagrosas”.

Se prometerem um plugin que deixa seu site 95% acessível apenas com a instalação, desconfie na hora. Estas ferramentas não resolvem problemas estruturais de um site e ainda podem prejudicar consideravelmente a navegação de pessoas que já utilizam tecnologias assistivas, como leitores de tela ou linha braille.

  1. Em um cenário onde somente 2% das empresas brasileiras se preocupam com a acessibilidade digital, quais são os principais desafios para os usuários que necessitam dessa facilitação de acesso?

Só conseguimos ir atrás de uma solução quando conhecemos o problema. E, infelizmente, ainda temos um cenário em que conteúdos e interfaces são construídos por e para quem enxerga, escuta, não tem nenhuma restrição de mobilidade ou sobrecarga cognitiva. Isso faz com que toda a estrutura online apresente inúmeras barreiras que impedem que: usuários que utilizam leitores de tela saibam como é a descrição de determinado produto, usuários com deficiência auditiva compreendam o conteúdo de um vídeo, usuários que navegam pelo teclado consigam navegar em segurança e finalizar uma compra, por exemplo. E a maioria destas barreiras poderiam ser evitadas se esses usuários fossem considerados desde o início do projeto.

  1. Quais medidas as empresas podem começar a tomar para tornar os acessos mais simples para os usuários com necessidades especiais?

Os usuários não têm necessidades especiais. A necessidade é ter acesso, assim como todos os outros. Existem diretrizes nacionais e internacionais que estipulam os padrões mínimos de acessibilidade para web. Podemos usar WCAG (Web Content Accessibility Guidelines, traduzido para o português como Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo na Web) como base para produzir interfaces e conteúdos minimamente acessíveis e turbinar tudo isso conhecendo as demandas de pessoas que tenham uma deficiência ou necessitam de algum recurso específico.

A dica de ouro é: Nada sobre nós, sem nós! Contrate profissionais que são PCD (pessoa com deficiência) para avaliar e validar.

  1. Conte um pouco sobre a sua história/luta em relação à acessibilidade.

Sou pessoa com deficiência desde que nasci. Tenho uma patologia chamada Atrofia Muscular Espinhal do tipo 3, que é uma condição genética e degenerativa que me faz ter uma fraqueza muscular progressiva. Há sete anos, me acidentei e adiantei minha ida para a cadeira de rodas. Na época, atuava apenas como artista musical, cantando em bares, teatros e eventos.

Com a falta de acessibilidade nos palcos - porque quando se pensa em acessibilidade em espaços culturais, geralmente é apenas para o público e nunca para um artista com deficiência, é como se não tivéssemos o direito de estar ali – criei junto com Jordana Soletti o Projeto Solyra. Com este projeto, levávamos música para mais de 1,5 mil alunos com deficiências toda semana. Precisávamos levar os músicos até as escolas especializadas em Curitiba, porque de todas as ações voltadas à pessoa com deficiência, apenas 4% são em relação à arte e cultura. Foi ali, sendo exemplo de representatividade e conhecendo outras realidades, que entendi que meu propósito é: mobilizar estruturas para que pessoas com deficiências possam se inserir e ocupar todos os espaços. Físicos e digitais, corporativos e culturais.

Em 2019, decidi fazer uma transição de carreira e começar uma faculdade de Publicidade e Propaganda, por acreditar que o mercado e suas grandes marcas têm o poder de modificar essas realidades excludentes. Em 2020 ,entrei como analista de SEO na i-Cherry e desenvolvi juntamente a diretoria o time de Acessibilidade – uma consultoria para tornar negócios acessíveis na web.

  1. Por que uma empresa deve investir em acessibilidade digital? Na tua visão, por que as empresas demoram para aderir? É um investimento caro?

Investir em acessibilidade é a escolha mais rentável para os negócios. Existem inúmeros benefícios para empresas que se preocupam com acessibilidade, como:

  • Melhora da experiência do usuário em geral
  • Melhora da performance orgânica
  • Ampliação de novos públicos
  • Melhora no posicionamento de marca
  • Conformidade legal

Pense que todo o conteúdo que sua marca produz está localizado no 20º andar de um prédio, você escolheria um prédio de 20 andares que não tem elevador? Acredito que não, pois seria mais difícil das pessoas chegarem até você, seja porque não conseguem ou porque não querem ter este esforço. Eu costumo trabalhar com o conceito que compara a acessibilidade na web com elevadores digitais.

 Quando falamos de valores, é uma questão de avaliarmos as situações. O que sai mais em conta: construir um prédio considerando o elevador desde o projeto inicial ou tentar encaixar um elevador em uma estrutura que não foi pensada para recebê-lo?

  1. Como criar conteúdos acessíveis?

Considere que existem pessoas diferentes de você e utilize as diretrizes da WCAG como base. Valide com pessoas com deficiências, pessoas com mais 60 anos e pessoas neuro diversas, se está fácil de ler, de compreender, de navegar. Atente-se ao contraste de cores, tamanhos de texto, formatação, equivalentes textuais para imagens, legendas para vídeos, entre outras boas práticas que podemos citar.

A maior aliada é a mudança de comportamento. Conheça novos públicos e não seja reativo em relação a novas formas de criar conteúdo com qualidade, acessível, bonito e atrativo para todas as pessoas.

  1. Como o mercado caminha em relação a isso?

Está acontecendo um movimento global em prol da acessibilidade digital, e as marcas estão entendendo que, para evitar retrabalho, é preciso contratar especialistas com conhecimento de causa. O mercado está mudando e as empresas mais inovadoras não estão deixando passar, como por exemplo o Google, que apresentou a equipe e iniciativas de acessibilidade digital no Brasil, ou a própria i-Cherry que é a primeira agência do grupo WPP no Brasil a ter um time voltado exclusivamente para a consultoria de acessibilidade digital, com foco em performance online tanto para sites, aplicativos, redes sociais e comunicação virtual para tornar negócios acessíveis na web.

E quando falamos do cenário nacional da acessibilidade na web também há muitas mudanças, como a criação de canais de denúncias, inquéritos e notificações do Ministério Público. Estamos passando por mudanças importantes que vão impactar os negócios online.

A ABNT lançou atualizações nas normas técnicas para aplicativos móveis que também envolvem  54 requisitos e recomendações baseadas na WCAG. Principalmente após a pandemia, compreendeu-se a necessidade de revisar as normas de atendimento ao cliente e foi lançado o Decreto nº 11.034, que regulamenta a Lei do SAC  (nº 8.078/90).

Além disso, está rodando em caráter conclusivo o Projeto de lei 4238/21, que prevê punições para empresas que não cumprirem a obrigatoriedade de ter um site acessível, entre elas advertência, multa diária, considerando-se o faturamento total da empresa e até suspensão do site por prazo determinado.

Então, quanto antes as empresas se atentarem à importância da acessibilidade digital, mais dinheiro e dor de cabeça vão economizar.

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