Burnout: como identificar os primeiros sinais
Entenda como identificar os sinais precoces de Burnout e encontre maneiras de equilibrar suas responsabilidades diárias de forma saudável
Identificar os primeiros sinais de Burnout pode ser fundamental para evitar consequências mais sérias trazidas pela Síndrome do Burnout, ou seja, Síndrome do Esgotamento, especialmente para aqueles que não têm a opção de abandonar suas atividades profissionais. A síndrome é um distúrbio comum em profissionais que atuam em atividades exaustivas, tanto fisicamente, como mentalmente, causadas principalmente pela pressão ou grandes responsabilidades.
Nos últimos anos, o diagnóstico de casos de Burnout teve um aumento significativo, especialmente após a pandemia. Uma matéria divulgada pela Universidade Federal Fluminense, com dados da International Stress Management Association (ISMA-BR), associação voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento de estresse no mundo, mostra que o Brasil ocupou a segunda posição nos casos de Burnout no ranking mundial em 2021. Além disso, a organização aponta que cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com essa condição.
Em entrevista, a especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão há 10 anos e CEO da Newa, Carine Roos, destaca a importância de criar ambientes de trabalho inclusivos e saudáveis, enquanto Antonella Vanoni, fundadora e diretora criativa da AvvaLab, compartilha sua experiência pessoal com burnout, trazendo uma perspectiva prática sobre como lidar com esse desafio. Juntas, elas oferecem insights preciosos para identificar e enfrentar o burnout, mesmo quando é impossível se afastar das responsabilidades diárias.
Carine compartilha que os primeiros sinais de burnout incluem cansaço excessivo e fadiga constante, mesmo após uma boa noite de sono. Fisicamente, pode haver dores de cabeça frequentes e tensões musculares, especialmente no pescoço e nos ombros. Em termos emocionais, Carine destaca que as pessoas podem sentir esgotamento emocional, desânimo, desesperança e falta de perspectiva ou pessimismo em relação ao futuro. Segundo ela, a sensação constante de estar sob pressão e as preocupações incessantes são comuns, e quem sofre de burnout frequentemente relata uma desconexão de si mesmo e dos outros, o que pode levar ao isolamento social e à evasão de interações, tanto no trabalho quanto na vida pessoal.
Em questões comportamentais, ela aponta que pode haver uma redução na produtividade, causada pela falta de concentração, dificuldade em tomar decisões e concluir tarefas. Além disso, a procrastinação também é um sintoma comum, que se manifesta como dificuldade em iniciar atividades, adiamento de tarefas, negligência das responsabilidades e falta de comprometimento com obrigações profissionais e pessoais.
“É importante destacar que o burnout é uma doença ocupacional que pode ser causada por diversos fatores do ambiente de trabalho, como um ambiente extremamente tóxico, metas inatingíveis e outras questões que influenciam o burnout. Portanto, ele não deve ser visto como uma doença individualizada, mas sim como um problema sistêmico que resulta da própria organização. As principais causas do burnout em ambientes de trabalho exigentes incluem cargas de trabalho excessivas e metas inatingíveis, ou seja, volumes de trabalho que excedem a capacidade do indivíduo. Jornadas de trabalho exaustivas, com horas extras frequentes, e ambientes com pouca autonomia também são fatores contribuidores. Por exemplo, um ambiente de microgerenciamento, onde há ambiguidade de papéis e falta de clareza sobre metas e responsabilidades, além da pressão constante para entregas acima das expectativas de performance, pode levar ao burnout”, comenta Carine.
Outro fator que leva às causas da Síndrome do Burnout, são ambientes de trabalho onde acontecem situações de assédio moral, conflitos interpessoais e confrontos com colegas, ausência de suporte e desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional são particularmente problemáticos. Segundo ela, esses sintomas são indicativos de um ambiente com zero segurança psicológica, onde há um excesso de microgerenciamento e onde os funcionários não se sentem valorizados ou reconhecidos.
Para evitar que fatores como esse possam acontecer dentro dos ambientes corporativos, é necessário investir em uma liderança que inspire equilíbrio saudável entre a vida pessoal e profissional, que tira férias e não trabalha constantemente horas a mais do que deveria, e que estabelece metas realistas aos seus colaboradores. Além disso, Carine destaca que os líderes que estão disponíveis para oferecer suporte ao seu time e a quem os funcionários podem recorrer para pedir ajuda são fundamentais.
Essa abordagem partindo dos líderes da empresa promovendo um ambiente mais acolhedor e saudável reduz significativamente o risco de burnout, pois os funcionários sentem que suas contribuições são importantes e que há um suporte adequado para suas necessidades.
“O burnout se caracteriza por um sentimento de cansaço e exaustão física e mental que não desaparece com o descanso. Outros sinais incluem insônia crônica e dores persistentes, como dores de cabeça e tensão muscular, que não melhoram mesmo após períodos de descanso. A primeira ação é comunicar-se com o supervisor, discutindo a situação e os sintomas que está sentindo. Como o burnout é uma doença ocupacional, o departamento de Recursos Humanos (RH) também deve ser informado e a liderança também precisa estar próxima para reconhecer e identificar os sinais de burnout. No entanto, é essencial que a pessoa busque suporte profissional, seja de um psicólogo ou psiquiatra, além de manter um estilo de vida saudável”, aponta Carine.
Para prevenir o burnout, é importante adotar práticas de autocuidado, como:
- Garantir um sono de qualidade, buscando dormir pelo menos oito horas por noite;
- Realizar atividades físicas regularmente, como caminhadas e musculação;
- Manter uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais e proteínas, evitando o excesso de cafeína e açúcar;
- Buscar atividades que trabalhem a mente, como yoga e meditação;
- Participar de atividades sociais que promovam suporte emocional;
- Desconectar-se digitalmente, evitando e-mails, redes sociais e dispositivos eletrônicos fora do horário de expediente.
- Essas práticas ajudam a equilibrar a vida profissional e pessoal, promovendo bem-estar físico e mental e prevenindo o desenvolvimento do burnout.
Uma jornada pelo esgotamento
Ao encarar uma jornada de trabalho exaustiva e um trabalho que não estava alinhado às suas perspectivas, Antonella Vanoni, fundadora e diretora criativa da AvvaLab, conta sua experiência com a síndrome, que evoluiu gradativamente devido à uma rotina sobrecarregada. Ela compartilha que estava em um emprego considerado agressivo, que beirava o assédio e, na intenção de trocar a situação, acabou trocando de emprego para uma outra empresa complexa. Antonella conta que os primeiros sinais foram os clássicos de ansiedade, como dor no peito, sensação de angústia constante e, em alguns momentos, tremores.
“Acho que o bicho pegou mesmo quando comecei a ter sintomas de labirintite - quando pega assim no físico, que simula alguma outra condição mais conhecida, o alerta fica mais evidente. Acho que tem uma coisa muito básica que eu sentia, e que muita gente vive, mas negligenciava era a falta de motivação pra viver. Parece meio pesado ou drástico, mas é verdade. Minha ansiedade no domingo à noite era algo avassalador, pensando que eu teria que começar o trabalho no dia seguinte. A falta de vontade de levantar da cama, um cansaço/fadiga maiores do que o comum. A gente tende a achar que é pontual, né? Que "tudo bem, tô num período difícil, cansar faz parte". Até faz, desde que não seja parte da tua rotina”, conta Antonella.
Segundo Antonella, os maiores desafios eram os impostos por ela mesma, como perder o estigma sobre o tratamento e uso de medicação, de achar que estava sendo fraca, que não era capaz o suficiente de dar a volta por cima, de não conseguir achar uma solução, ou de ser culpada pela situação. Ela compartilha que se ver em uma situação de vulnerabilidade dessas é desesperador, considerando o tanto de responsabilidades e boletos para pagar. Apesar disso, ela ressalta que é importante compartilhar alguns privilégios e suporte que teve, diante de tantas pessoas que não conseguem ter, como o atendimento com psicóloga e psiquiatra, exercícios físicos regulares, parceiro, família e amigos que me tiravam da situação com passeios e viagens.
“To aqui com os olhos marejados enquanto escrevo isso, ainda mais respondendo essas perguntas um dia depois do lançamento do meu ateliê criativo e estratégico, a AvvaLab. Acho que não teria conseguido se não fosse por eles, sabia? Eu comecei a trabalhar muito nova como vendedora de roupas, aos 15 anos, pra não pesar financeiramente minha família que estava passando por um momento delicado de grana. Dinheiro sempre foi uma prioridade porque era ele que resolvia os problemas. O burnout e a possibilidade de um pedido de demissão foi um baque nesse sentido, porque eu precisaria "depender" ou "pesar" novamente nesse aspecto. Ter tido o acolhimento fez tudo poder se realizar. E de exemplos, desde meu parceiro se propondo a segurar as pontas, minha mãe e pai se colocando à disposição, até mesmo meus amigos me indicando para trabalhos, fazendo mentoria comigo e me guiando para novos passos que hoje são reais e estão sendo muito melhores e positivos e otimistas e prósperos do que eu imaginava. O meu conselho é: peça ajuda. Não tenha medo de levantar a mão e assumir que não está conseguindo sozinho. É daí que vem a força que a gente precisa e não tem. Dos familiares, parceiro/a, amigos, colegas de trabalho”, conclui Antonella.