Como é possível reestruturar empresas em situação de stress financeiro
Por Pedro Albite
A recuperação de empresas em situação de estresse financeiro é um desafio complexo que exige uma abordagem estratégica. O primeiro passo é realizar um diagnóstico completo da situação financeira e operacional do negócio. Isso inclui uma análise detalhada dos balanços, demonstrativos de resultados, fluxo de caixa e endividamento, além de uma avaliação das operações, onde serão identificados problemas em todas as frentes de trabalho. Compreender o posicionamento da companhia no mercado, a concorrência e as tendências do setor, é igualmente essencial para uma análise precisa e para a formulação de estratégias de reestruturar a empresa e realizar uma recuperação eficaz.
Um ponto fundamental para a recuperação é entender o que levou a empresa à crise financeira. A primeira boa prática de um turnaround é fazer um diagnóstico correto, ou seja, compreender exatamente qual foi a "doença" financeira. Comparando o negócio a um paciente, ela pode estar "com diabetes" devido à má gestão, ou "com câncer" devido a uma crise de mercado inevitável. Saber exatamente qual é a doença e o porquê de sua ocorrência permite traçar alternativas eficazes para reverter a situação.
Um processo de turnaround efetivo deve se basear em três pilares: gestão, captação e reestruturação. Para que o turnaround funcione, é preciso ativar esses três pilares simultaneamente. Em termos de gestão, é necessário entender o que levou ao problema e avaliar se há necessidade de mudar o modelo de negócio, o mercado, os canais de venda, a precificação ou a eficiência na produção. Também pode ser necessário reduzir a estrutura fixa ou otimizar a estrutura de capital para melhor uso da capacidade instalada e buscar o break-even financeiro.
Ao compreender a companhia em estresse financeiro, são necessários movimentos estratégicos. Quando abordamos sobre o caixa e capital de giro, não é apenas sobre o dinheiro que entra, mas também sobre o que deixa de sair. A reestruturação de passivo é indispensável nesse contexto. Por exemplo, se uma empresa fatura 10 milhões de reais por mês e tem parcelas mensais de 1,5 milhão junto aos bancos, uma negociação para reestruturar esse passivo com uma carência de seis meses poderia liberar nove milhões em capital de giro. Esse capital é vital para equalizar o negócio durante a virada de chave e encontrar um modelo sustentável.
Já as fases do processo de turnaround podem ser divididas em três: sobrevivência, sustentabilidade e expansão. Na fase de sobrevivência, o objetivo é manter a empresa operando, mesmo que ela continue a gerar prejuízos temporários. Movimentos financeiros são feitos para garantir o fluxo de caixa necessário para detectar e resolver os problemas de raiz. Uma vez alcançada a sustentabilidade, a companhia encontra um modelo de negócio que se sustenta financeiramente. Só então é possível discutir a expansão.
Durante a reestruturação de passivos, pode haver estresse entre os credores financeiros, mas é fundamental que a empresa continue operando. Por isso, alternativas de créditos não convencionais, como fundos, investidores institucionais ou investidores, devem ser consideradas. Ainda, esse processo também deve envolver a estruturação de um time alinhado com metas e processos, bem como uma comunicação clara com todos os stakeholders.
Nesse sentido, o sucesso de um turnaround depende de seguir um caminho estruturado: sobreviver, estruturar, comunicar, executar, alcançar a sustentabilidade e, finalmente, discutir a expansão. Uma reestruturação eficaz e um planejamento estratégico bem implementado podem superar os desafios e colocar o negócio de volta no caminho do crescimento e da lucratividade, garantindo sua sustentabilidade e expansão futura. Seguindo esse rito, a empresa tem muito mais chance de sucesso.
* Pedro Albite é CEO e fundador da O2 Inc., fintech que oferece serviço de CFO as a Service e que é especializada em processos de turnaround para empresas de todos os portes.