Entre relaxamento e oportunidade de mercado: ASMR é sensação nas redes sociais

Quem está presente constantemente nas redes sociais já deve ter se deparado com vídeos de pessoas sussurrando para as câmeras, fazendo barulhos silenciosos ou mexendo em materiais maleáveis. Essa atividade tem nome e vem conquistando a atenção de milhares de pessoas pelo mundo todo. O ASMR, como é chamado, vem de Autonomous Sensory Meridian Response (Reposta Sensorial Meridiana Autônoma), que se refere a estímulos visuais, auditivos e cognitivos, podendo causar reações agradáveis aos espectadores.

Conteúdos de ASMR foram ganhando cada vez mais adeptos nos últimos anos e, consequentemente, abriram espaço para que se tornasse um mercado a ser explorado tanto por marcas, como para novos criadores de conteúdo e influenciadores do nicho. Uma matéria publicada pela BBC mostra que, entre 2016 e 2018, as buscas no YouTube por ASMR dobraram, chamando a atenção de marcas como Dove Chocolate, KFC e a cervejaria suíça Norrland Guld Ljus.

Muitas pessoas se sentem confortáveis e gostam de assistir conteúdos calmantes, mas não sabem que se trata de ASMR, como Monique Colin, mais conhecida como Monique Always, que acompanhava e produzia conteúdos como esses sem saber da existência do termo. Depois de um tempo, uma seguidora a questionou se ela conhecia o ASMR, o que a fez pesquisar e achar os canais estrangeiros. “Foi como encontrar o paraíso do arrepio e sono”, diz ela. 

A partir disso, Monique passou a investir em gravar vídeos de ASMR com uma amiga e, dois meses depois, passou a compartilhar no seu canal no YouTube. “No início me chamaram de louca, mas depois amaram demais e se renderam”, conta. Ela explica que o consumo de ASMR, para muitas pessoas, pode ser positivo, reduzindo o consumo de medicamentos para ansiedade, remédios para dormir e até mesmo melhorando a concentração na hora dos estudos ou trabalhos. Ela conta que alguns seguidores já afirmaram ter tido indicação de psicólogos ou psiquiatras como complemento para tratamentos.

Ela conta ainda que não imaginava que o ASMR poderia tomar proporções tão grandes como atualmente e que, por um lado, se entristece com pessoas que produzem conteúdo desse nicho, sem conhecer a essência da técnica. O ASMR não se resume a fazer barulhos e, sim, dar um estímulo que corresponde a uma sensação enviada ao cérebro, gerando uma sensação profunda de paz e relaxamento. Monique diz que conteúdos malfeitos e apelativos acabam por manchar a verdadeira essência do que é o ASMR, descredibilizando o objetivo real de criadores de conteúdo sérios, que é levar serenidade e tranquilidade ao coração e à mente das pessoas.

“Já aconteceu várias vezes de alguém perguntar com o que eu trabalho, aí quando respondo que é com ASMR, falam: "Nossa, eu odeio isso. Não sei como tem gente que gosta desses barulhos nojentos". E aí? Como convencer a pessoa de que ela não assistiu a um ASMR raiz? Verdadeiro? Imersivo? Rsrs. Complicado. Tirando isso, fico muito feliz com esse reconhecimento hoje em dia, com certeza. Só temos a ganhar”, comenta Monique.

Sobre o mercado de ASMR, Monique compartilha que recebe propostas de grandes marcas que buscam se inserir e conquistar novos consumidores do segmento. Entre as marcas citadas por ela, estão Mondial, Burger King, Emma Colchões, Urbanic, entre outras. O processo de criação de conteúdo é feito de acordo com o briefing de como cada cliente busca a execução da publicidade, além de testar o produto antes de fechar de fato o contrato com a marca.

Monique observa que o sucesso dos conteúdos de ASMR são fruto da busca pela tranquilidade. Em um mundo cada vez mais agitado e barulhento, muitas pessoas têm procurado formas de relaxar e acalmar a mente, e acabam encontrando no ASMR o remédio e a cura para problemas como insônia, depressão e ansiedade.

“Muitas vezes, aquele vídeo de ASMR conversando calminho é tudo que a pessoa tem no final do dia pra se sentir acolhida. Isso acaba gerando uma verdadeira conexão entre o artista de ASMR e o telespectador. Então ele sempre vai estar ali quando tiver um vídeo novo, vai assistir várias vezes um vídeo que tenha gostado muito, e por aí vai. Por isso as views são imensas. Não é apenas um vídeo qualquer. É uma necessidade. O meu estilo de ASMR é lento, calmo e suave. Gosto muito de visualizações criativas/meditações guiadas, atenção pessoal, orações, cantar baixinho e dedilhar violão, reflexões, roleplays imersivos, sons naturais, etc”, diz ela.

Para a youtuber Camila, mais conhecida como Gaúcha ASMR, a jornada em meio ao universo ASMR começou em 2017, quando descobriu que existia uma nomenclatura e uma técnica para aquelas sensações que sentia ao acompanhar vídeos como esse. Ao longo do tempo, após conhecer e acompanhar conteúdos de ASMR, Camila passou a pensar de uma forma diferente: "Por que não tentar proporcionar essas sensações extraordinárias para mais pessoas?”, conta.

A criadora de conteúdo explica que o ASMR está em alta como nunca esteve antes e que marcas têm usado esse estilo em anúncios publicitários como forma de alcançar diversos públicos. Como exemplo, podemos citar comerciais que mostram a mordida certa em um hambúrguer crocante, ou abrir um refrigerante, podendo gerar sons e sensações satisfatórias ao público. Grandes marcas adeptas ao ASMR têm buscado evidenciar seus produtos de forma satisfatória ao cliente, seja alimento ou um manuseio que causa relaxamento.

“Algumas marcas que viram o potencial do ASMR já me procuraram. O processo de maneira geral é mostrar o produto ou serviço da forma mais relaxante e divertida possível, tanto nas redes sociais em vídeo curtos quanto em vídeos longos do YouTube. O que gera sucesso é a aceitação do público, certo? E a aceitação do público vem da necessidade do mesmo. No meu ponto de vista, uma das questões que tem gerado essa necessidade pelos conteúdos relaxantes é o aumento dos casos de transtornos do sono e de ansiedade generalizada, e os hábitos da vida moderna no geral, que influenciam para uma rotina mais acelerada, estressante e mentalmente desgastante”, diz Camila.

Além disso, Camila conta que seus seguidores relatam melhorar mudanças significativas por meio dos vídeos de ASMR, ajudando em distúrbios comuns da vida moderna, como ansiedade, insônia e depressão. “Acho que meus vídeos são, para muita gente, como um refúgio seguro, onde encontram aconchego, carinho e cuidado, e tudo é feito com muito amor. O que se pode observar com isso é que o ASMR tem sido uma grande ferramenta para ajudar a relaxar, dormir e amenizar a ansiedade de forma complementar”, finaliza. 

Assim como Monique e Camila, Mariane Carolina Rossi, mais conhecida como Sweet Carol, passou bastante tempo tendo sensações relaxantes com ações de terceiros, como ouvir alguém falando baixinho, pentear os cabelos ou ouvir sons de cosméticos. Mesmo sem saber, Sweet Carol passava assistindo vídeos comuns que causavam sono, principalmente de influenciadoras mostrando suas compras.

Mas, foi em 2016, durante a gravação de um vídeo de maquiagem, que uma seguidora sugeriu que Carolina passasse a criar vídeos de ASMR, dando o start para iniciar pesquisas sobre o assunto e começar a gravar os seus vídeos. 

Ao longo da sua jornada como influenciadora, Carolina conta que já fez publicidade para grandes marcas, como iFood, Brilhante, McDonald 's, Comfort, Popeyes, Frango Frito Bom, e outras inúmeras marcas. Mas, apesar da ascensão desse mercado, a influenciadora conta que o crescimento é gradativo e que não são todas as marcas que se interessam em realizar publicidade por meio do ASMR. Mesmo assim, ela explica que consegue dar uma atenção especial a cada produto, prendendo a atenção de quem assiste.

“O McDonald's foi a última gigante, foi um comercial para a rede, comendo hambúrguer, foi demais. Quando ia em alguma rede do Mc eu me via no telão comendo e fazendo os sons, achava incrível. Também já narrei um comercial para o Boticário, para a linha cuide-se bem boa noite. Para Vivara também já fiz um vídeo exclusivo mostrando as caixinhas das jóias e as joias de forma satisfatória. Esses foram os mais marcantes para mim”, comenta Carolina.

Ela conta ainda que dá o máximo de si em seus vídeos, tentando visualizar e produzir conteúdos se inspirando nos vídeos que ela mesma gosta de assistir. “Penso que uma pessoa entrou ali para se sentir bem e se acalmar, então eu dou toda atenção pessoal para se sentir única e especial. Poderia denominar de um carinho virtual”, diz. Dessa forma, os relatos dos seus seguidores são extremamente positivos, incluindo um e-mail de uma mãe contando a experiência do seu filho autista que conseguiu se acalmar e imitar os seus gestos em frente a televisão.

As três influenciadoras têm algo em comum, que tiveram resultados positivos tanto com fins de saúde, como com fins comerciais. O que começou como o reflexo das próprias sensações, se estendeu às criações que hoje impactam a vida de milhares de pessoas.