Érico Borgo é sucesso do Omelete à CCXP – e lançou projeto na Gramado Summit
O crítico de cinema, escritor e produtor foi atração do Palco Geek, onde participou do painel “Uma Odisseia Criativa – Em Busca de Tolkien” e deu até spoiler de filme em produção.
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Rodeado pelas revistas em quadrinhos que o pai colecionava, Érico Borgo cresceu imerso no universo geek – ambiente em que se tornaria referência anos mais tarde. Nascido em São Paulo, foi na pequena cidade de Arujá, a 40 km da capital paulista, que ele devorou centenas de HQs com histórias de personagens que iam de Turma da Mônica a Watchmen. Aos 13 anos, voltou a São Paulo para cursar o colegial e, posteriormente, a faculdade.
Designer gráfico por formação, Érico Borgo ficou conhecido no país todo por sua atuação junto ao Omelete, portal criado no ano 2000 que foi pioneiro ao abordar temas da cultura pop, como cinema, games e HQs. Durante 19 anos, ele foi diretor de conteúdo do Grupo Omelete.
Borgo também é cocriador da Comic Con Experience (CCXP) no Brasil – o maior evento de cultura pop da América Latina, que foi realizado pela primeira vez no país em dezembro de 2014. Durante uma transmissão ao vivo, proferiu a frase icônica “sou fã e quero service”. Ele se referia ao chamado “fan service” (termo que, na cultura pop, significa conteúdo feito especialmente para agradar os fãs em filmes e séries, como aparições de personagens queridos, cenas esperadas etc). A expressão ecoou no universo geek e se tornou um meme atemporal.
Em 2020, Borgo deu adeus ao Omelete e decidiu alçar novos voos apostando em projetos inéditos. Em 2021, voltou ao Youtube – desta vez com patrocínio da rede de cinemas Cinemark para lançar o canal da Huuro, com programas como o "Borgoverso". Nessa experiência também falava de filmes – mas em vídeos com maior duração, em um formato um pouco diferente do Omelete.
O primeiro livro veio em 2022, com o lançamento da biografia "Nerd – Minha jornada dos sonhos de infância ao maior evento da galáxia e além”. Hoje com 49 anos, o empresário busca uma vida mais sossegada, tanto que mudou-se para um sítio, bem longe da maior metrópole da América Latina. Atualmente, ele trabalha na realização de mais um sonho: roteirizar e produzir um filme.
Para contar um pouco dessa história e falar de novidades, Borgo subiu ao Palco Geek da Gramado Summit. Ele apresentou o painel “Uma Odisseia Criativa – Em Busca de Tolkien” e aproveitou para anunciar uma parceria com a Limiar Games no desenvolvimento de um jogo brasileiro.
Chamado "BlackThorne Keep", o jogo é um RPG de ação com grande profundidade narrativa ambientado em um mundo medieval fictício baseado na América do Sul. “Essa fantasia medieval sul-americana apresenta uma trama de traição, poder, legado e cobiça que promove uma reflexão sobre questões contemporâneas e a formação do Brasil”, comenta Borgo, que depois de um bom tempo atuando como consultor criativo da Limiar, aceitou o convite para ser sócio nessa produção.
Além de falar sobre o projeto, ele também deu um “spoiler” com exibição exclusiva de seis minutos do longa-metragem documental no qual vem trabalhando. A produção, que retrata a vida e obra do escritor britânico J. R. R. Tolkien, mundialmente famoso pela criação da saga O Senhor dos Anéis, tem cenas gravadas na Inglaterra.
Confira a entrevista exclusiva de Erico Borgo para a Gramado Summit:
De onde nasceu o seu interesse pelo universo nerd?
O meu pai sempre gostou de ler quadrinhos, então, ele levava pra casa. Tinha um amigo dele, colecionador, que emprestava caixas e caixas. E aí eu pegava carona nessas caixas e lia tudo que ele trazia pra casa, meio indiscriminadamente, assim, sabe, de Turma da Mônica a Conan, passando por Watchmen, tudo dos anos 80. Aí eu comecei a gostar muito e comecei a fazer minha própria coleção.
Nessa época eu ficava meio solto, também por morar numa cidade pequena que tinha uma locadora grande. Minha mãe trabalhava fora. Meu pai e minha mãe estavam separados. Então eu fiquei meio solto, o que significava que eu saía do colégio e passava a tarde inteira na locadora juntando dinheiro do lanche pra comprar gibi e assistir a filmes. E foi isso que deu minha bagagem que me acompanha até hoje.
O Omelete foi um grande marco da sua carreira. Como ele nasceu?
Eu trabalhava numa agência digital e a gente fazia muito site o dia inteiro. A gente via um monte de gente completamente despreparada fazendo sites e vendendo esses sites por muito dinheiro, naquela época da bolha da internet. E aí um dia, o dono da agência perguntou: “alguém aqui sabe alguma coisa pra gente criar nosso próprio site?”. Eu me lembro que fui o único que levantou a mão. Falei “cara, eu entendo de quadrinhos e de cinema”. E ele, “pô, parece bom. Será que existe um site de quadrinhos e cinema?” A gente começou a pesquisar. Não tinha nada que prestasse. Isso muito antes da Wikipedia, muito antes das redes sociais. E aí, a gente começou a criar esse site em 1999, e entrou no ar em 29 de maio de 2000.
O site ficou operando dentro da agência por uns seis meses. Depois, a própria agência se desinteressou um pouco e tal. Acho que não fazia muito mais sentido ele continuar ali. Mas eu já estava completamente apaixonado. Então o Marcelo Forlani e eu seguimos levando o site.
Quando o Omelete começou a rentabilizar?
Em 2008 a gente começou a conseguir fazer as agências entenderem que a internet era um bom lugar para se investir. Foram oito anos de batalha para isso. Era um negócio completamente diferente, a gente era pioneiro mesmo. Até 2008, eu tinha três empregos. Era um pra me bancar, um pra bancar o Omelete e o próprio Omelete.
Entre 2008 e 2010, eu comecei a ganhar uma merreca ali que eu consegui me livrar de alguns clientes de design que eu tinha para me dedicar um pouco mais ao Omelete. Em 2010 foi quando eu consegui efetivamente deixar todos os meus clientes e me focar no Omelete. Foram dez anos.
Como foi para você deixar esse projeto tão grandioso para seguir em frente?
Em 2014, a gente fez o nosso primeiro evento. E a coisa mudou completamente de figura. Com as redes sociais e tal, essa coisa toda, eu me tornei uma figura pública e o evento amplificou muito isso. Uma hora eu estava na Alemanha, uma hora eu estava em Los Angeles fazendo reunião. E a gente se tornou parte do tecido do entretenimento mesmo, sabe? A gente estava ali entranhado na coisa de verdade. Nos últimos anos, era um nível de trabalho muito insano. E eu comecei a sentir que eu estava entregando minha vida ao negócio que talvez não fosse exatamente o que eu queria fazer.
Eu sempre gostei de escrever, eu sempre gostei do lado mais criativo. E de repente eu virei produtor. E o produtor pode ser criativo até uma parte. O resto é planilha, budget, organização, cuidar de pessoas e chefiar a equipe. Essa coisa toda. E eu comecei a me sentir meio esgotado com relação a isso. Eu queria uma coisa, outros sócios queriam outra coisa. Até a hora que eu falei: “Beleza. Hoje eu me sinto uma voz dissonante aqui dentro. Vou buscar outra coisa pra fazer”. E foi isso que eu fiz. Em fevereiro de 2020 eu anunciei a minha saída. Foi um negócio que eu nunca imaginei fazer, mas que eu sabia que eu precisava. Tanto que eu nem queria fazer conteúdo.
Você é web designer, escritor, produtor, cocriador da CCXP, já virou até meme. Qual foi o maior desafio da sua carreira?
O maior desafio até 2020 tinha sido a CCXP. Aprender a dirigir um palco, dirigir um espetáculo, sabe? Esse foi o maior desafio da minha carreira. Mas o maior desafio foi no dia 3 de dezembro de 2015, que foi o pior dia da minha vida, quando eu tive um burnout e ataque de pânico no pé dos bastidores, aquela coisa toda horrorosa, porque eu não estava preparado. Depois eu coloquei como objetivo. Falei: “cara, ok, se eu continuar fazendo isso, eu tenho que me tornar um produtor de verdade”. Tipo, eu não estava preparado pro tamanho da coisa, sabe? A CCXP cresceu muito e muito rápido. Do primeiro ano para o segundo ano foi um salto bizarro. A gente estava preparado para o primeiro ano, mas não para o segundo.
Que conselho você daria para quem está pensando em se reinventar profissionalmente ou dar uma guinada na carreira?
Pra mim é tudo uma questão de preparação. Eu sou um cara muito metódico. Eu entendo o meu objetivo. Eu sei onde eu quero chegar. Eu consigo identificar o que me faz bem e o que me faz mal. Eu acho que isso é muito importante. Tem muita gente que fala assim “cara, eu sei o que me faz mal”, mas não faz nada a respeito. No momento que eu identifico algo que me faz mal eu começo a planejar como é que eu vou tirar aquilo da minha vida. Como é que eu vou conseguir sair dessa situação de alguma forma.
Só que você não pode ter pressa nessa hora. Você se identificou? Ótimo. Esse é o primeiro passo. O segundo passo é começar um processo diário de preparação para aquele momento de rompimento ou de virada. Eu não sou o cara que faz essas coisas “na louca”. Eu sei que tem gente que vira a mesa e tal, mas a minha pegada é um pouco diferente. Quando você vai falar, “pô, esse cara tá virando a mesa”, a mesa já tá virada e você nem viu.
Tem algum projeto novo no horizonte? Quais são seus planos para o futuro?
Eu quero fazer um filme. Quero escrever ficção. Quero escrever um roteiro, quero explorar a minha criatividade, coisa que até hoje nunca consegui fazer. Hoje consegui chegar num lugar em que tenho condições para me manter durante um tempo pra fazer isso. Tem o documentário sobre a criatividade do J.R.R. Tolkien, que a gente já está há dois anos trabalhando nele. Já fizemos duas viagens. No total, já são 45 dias na Inglaterra captando. Vai sair um livro junto. Então, o livro e o filme vão sair simultaneamente no ano que vem. A ideia é lançar no cinema. Inclusive, já tenho algumas conversas prévias sobre isso. Já tenho até um contrato, um compromisso verbal aí para lançar no cinema, mas a ideia é que depois ele vá imediatamente para o streaming.