Jogo do tigrinho: diversão ou vício

24/9/24
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Publicado por 
Redação Start

Segundo especialista, quanto mais imediata é a recompensa, maior é o risco de o jogador continuar apostando, mesmo que isso resulte em perdas financeiras e emocionais

Foto: Captura de tela
Foto: Captura de tela

O Fortune Tiger, ou Jogo do Tigrinho, tem ganhado cada vez mais popularidade, mas para alguns, o que começa como diversão pode rapidamente se transformar em vício. Nos últimos meses, jogos de apostas como esse têm sido tema comum em noticiários e reportagens mostrando sobre os possíveis prejuízos à saúde mental e financeira das pessoas, sendo até mesmo pauta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a importância de iniciativas para desestimular o vícios.

Para entender a complexidade desse tema, a equipe da redação Start conversou com a psicóloga Juliana Bessa Trindade, para falar sobre os riscos psicológicos e físicos causados pelo vício no jogo, e com Larissa da Conceição Rocha, que compartilhou sua experiência na luta contra o vício em jogos de azar eletrônicos como o Fortune Tiger.

Segundo Juliana Bessa Trindade, o vício em jogos digitais se caracteriza quando o comportamento começa a interferir em aspectos importantes da vida do jogador, como finanças, relacionamentos e saúde emocional. Segundo ela, o jogo patológico é um transtorno do controle de impulsos que, ao longo do tempo, afeta a vida social, profissional e familiar do indivíduo. Ela destaca que o vício em jogos vai além de um simples exagero, sendo um comportamento persistente e prejudicial.

Os sinais de dependência podem ser sutis no início, mas com o tempo se tornam evidentes. Juliana aponta que a obsessão pelo jogo, a necessidade de apostar valores maiores e a dificuldade em parar, mesmo percebendo os danos causados, são alguns dos principais indicativos.

Foto: Arquivo pessoal - Juliana Bessa
"Muitos jogadores sentem irritabilidade ao tentar diminuir o tempo de jogo ou recorrem ao jogo como uma maneira de escapar de problemas emocionais, como ansiedade e depressão", comenta Juliana.

A psicóloga também fala sobre como a mecânica dos jogos digitais pode incentivar comportamentos viciantes. Ela explica que coisas como recompensas rápidas e frequentes, junto a elementos visuais e sonoros cativantes, mantêm o jogador imerso, tornando o jogo altamente envolvente e difícil de largar. Ela afirma que, quanto mais imediata é a recompensa, maior é o risco de o jogador continuar apostando, mesmo que isso resulte em perdas financeiras e emocionais. 

Larissa da Conceição Rocha viveu na pele os efeitos desse vício.

"Eu percebi que o jogo estava se tornando um problema quando me vi com uma dívida com agiota e sem dinheiro para nada. Mesmo sem recursos, a vontade de jogar era incontrolável", relata.

Para Larissa, o ponto de virada foi quando reconheceu que o jogo estava consumindo sua vida de forma perigosa. Sua recuperação começou com medidas drásticas.

"Busquei ajuda psicológica, cancelei meu Pix e me afastei das redes sociais.

Esses passos foram essenciais para me distanciar do vício", conta ela, destacando que o apoio de sua família foi crucial nesse processo.

"Minha família me deu o suporte necessário para superar essa fase, e sem eles, teria sido muito mais difícil”, destaca Larissa.

Hoje, ela aconselha outras pessoas que estão passando por uma situação semelhante.

"Meu conselho é parar de jogar o quanto antes, se afastar de tudo que possa estimular a vontade de voltar a apostar e, o mais importante, buscar ajuda psicológica. O vício em jogos precisa ser tratado de dentro para fora", ressalta.

Para a psicóloga Juliana Bessa Trindade, o tratamento para o vício em jogos deve ser abrangente. Ela menciona a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) como uma das abordagens mais eficazes, já que ajuda os pacientes a identificar e modificar pensamentos e percepções distorcidas sobre os jogos de azar.

"A TCC, combinada com psicoterapia individual ou em grupo, além de atividades físicas, pode ajudar o paciente a reconstruir sua vida e recuperar o equilíbrio emocional", afirma Juliana. Ela conclui que cada caso é único, e o tratamento precisa ser personalizado para atender às necessidades de cada paciente.

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