Mercado precisa de líderes que tolerem a zona de desconforto, diz Juliano Braga, CEO do CNEX
Em entrevista exclusiva, o líder da empresa com foco em educação executiva destaca as principais habilidades da liderança do futuro e a importância da profissionalização dos C-Levels em um contexto tecnológico e de inovação

Lideranças que saibam navegar nas incertezas e mudanças de um mercado em constante transformação são essenciais para o sucesso das organizações. É o que afirma o CEO Juliano Braga, do CNEX, empresa com foco em educação para líderes e executivos.
“Sabemos que as coisas estão mudando cada vez mais rápido, e temos desafios de mercado e de pessoas ainda mais complexos. Por conta disso, precisamos de líderes fortes na essência para conduzir os negócios com essa ‘nova’ realidade", reforça.
Em entrevista exclusiva, Juliano falou sobre o que caracteriza uma liderança do futuro, a importância da profissionalização de C-Levels (o nível mais alto de executivos na hierarquia de uma empresa) e planos para o futuro com o CNEX. Confira a seguir:
Como você avalia a profissionalização dos C-Levels hoje? Qual a importância desse movimento?
A profissionalização dos C-Levels envolve uma análise minuciosa sobre as vantagens, os desafios e os impactos em relação aos objetivos específicos de cada organização. Em resumo, essa busca por agregar uma liderança mais profissional e qualificada é importante para impulsionar o crescimento e o sucesso das empresas, mas precisamos desenvolver um equilíbrio entre a experiência externa e a cultura interna do negócio. Essa questão envolve diversos fatores, e podemos citar cinco que contribuem para o debate.
Certo, e quais são eles?
Em primeiro lugar, entram a especialização e a experiência. Trazer líderes com conhecimento profundo e experiência nas áreas específicas pode levar a uma tomada de decisão mais informada e eficaz, já que executivos com expertise em finanças, marketing, operações e tecnologia, por exemplo, podem contribuir significativamente para o crescimento da organização. O foco e a estratégia também são pontos relevantes. A presença de líderes especializados em diferentes áreas permite que a alta administração se concentre em estratégias mais direcionadas e alinhadas aos objetivos da companhia. Isso leva a uma alocação de recursos mais eficiente e a uma melhor execução das iniciativas estratégicas. Outra questão é a governança corporativa. A profissionalização dos C-Levels pode incentivar uma maior transparência na gestão corporativa, especialmente no caso de empresas que têm capital aberto. Ou seja, executivos qualificados podem otimizar tanto a prestação de contas quanto a comunicação de fatos relevantes aos acionistas e às demais partes interessadas.
E o que mais devemos considerar?
Também devemos mencionar a adaptação. Líderes com experiência diversificada inspiram perspectivas frescas, atualizadas e inovadoras para as empresas. Essa característica tem muita importância em um ambiente de trabalho em constante evolução, em constante mudança, no qual a capacidade de adaptação é fundamental. Também existe a dualidade da cultura e da integração na contratação de líderes externos. As empresas precisam garantir que esses líderes entendam e estejam alinhados com a cultura organizacional já existente, a fim de promover uma transição mais tranquila e evitar qualquer conflito. Por fim, investir em líderes mais especializados pode ser caro, tanto em termos de remuneração quanto de recursos de contratação. Então, é imprescindível avaliar o retorno sobre o investimento, de acordo com o momento da companhia, e entender se a organização está preparada para dar esse passo – que está conectado, também, ao fator da cultura organizacional.
Quais são as principais necessidades dos C-Levels que pretendem se atualizar?
Para garantir que as pessoas liderem com lentes contemporâneas, todos os níveis de liderança da organização devem estar alinhados. Acredito que as lideranças precisam agir diariamente em torno de cinco pilares, que são: inteligência relacional, postura de aprendiz, mindset digital, visão sistêmica, alta performance e desempenho (leia mais no quadro abaixo).
Como você enxerga a importância da formação de líderes e executivos neste momento?
Neste momento de mercado, tão impactado pelas novas tecnologias, ferramentas e possibilidades, precisamos de mais líderes que tolerem a zona de desconforto e lidem bem com cenários de mudanças e incertezas. Sabemos que as coisas estão mudando cada vez mais rápido, e temos desafios de mercado e de pessoas ainda mais complexos. Por conta disso, precisamos de líderes fortes na essência para conduzir os negócios com essa “nova” realidade. Se não tivermos nas posições estratégicas executivos e executivas líderes com essas novas competências, além das que já são bem conhecidas pelo mercado, a jornada das organizações e das pessoas tende a ser mais complicada. No CNEX, oferecemos soluções de aprendizagem e jornadas de desenvolvimento de atitudes de liderança alinhadas a esse contexto. O nosso propósito é justamente desenvolver os executivos para que transformem a si mesmos, as pessoas, as organizações e a sociedade, como agentes de mudança neste mundo cada vez mais volátil, incerto e dependente dessas transformações. Nesse contexto, o CNEX abraçou a importância dessas competências essenciais. Temos como missão forjar líderes sustentáveis, preparando-os para enfrentar os desafios do futuro. A escolha da palavra "forjar" é intencional, pois implica em moldar, lapidar e fortalecer as habilidades e competências necessárias para liderar em um mundo em constante transformação.
De que maneira as empresas podem estimular o crescimento de seus líderes, principalmente C-Levels?
Trabalhamos o conceito de pilares para forjar lideranças sustentáveis. Ou seja: as empresas devem considerar pilares de conhecimento que integram características e habilidades para as lideranças contemporâneas evoluírem seus negócios, e não tratar habilidades de forma modular e isolada. Portanto, as estratégias adotadas pelas empresas também devem ser orquestradas de forma integral e transversal, buscando o alinhamento de conceitos, práticas e estratégias entre todas as camadas de liderança. Entre as ações que podem ser interessantes, estão programas de desenvolvimento de lideranças que englobam ferramentas e práticas (é preciso ampliar repertório conceitual e teórico por meio de palestras, jornadas online e outros tipos de conteúdo passivos para as lideranças), cultura de aprendizado como vetor de inovação (incentivar a criação de espaços para os aprendizados serem disseminados, discutidos e relacionados com a realidade das empresas) e estratégias ambidestras (traçar cenários por meio de lentes de futuros e planos de inovação que cubram curto, médio e longo prazo).
Linkando um pouco devida pessoal com profissional: o esporte é parte fundamental da sua rotina. Quais aspectos de ser um atleta influenciam na sua jornada profissional?
Adoro esportes. Surfo desde os 10 anos. Também pratico jiu-jitsu. Joguei futebol nas categorias de base do Grêmio em Porto Alegre dos nove aos 15. Atualmente, pratico triathlon nas horas vagas. Recentemente, fiz a prova do Ironman em Florianópolis. Com certeza uma das melhores experiências da minha vida e também um grande desafio. No meu entendimento, existem dois tipos de dor: a dor da disciplina, do esforço, e a dor do arrependimento. A primeira trata do quanto estamos dispostos a não desistir. De entregar sempre o máximo que podemos. A segunda, sem dúvida, é a mais dolorosa, Desistir de um sonho, de um projeto sem ter chegado ao fim, sem ter tentado. Neste sentido, acho que o esporte foi muito importante na minha formação: disciplina, saúde física e mental, concentração, trabalho em equipe e foco em resultados. Foi fundamental para que eu me tornasse uma pessoa obstinada, e contribuiu, com certeza, para o meu processo de desenvolvimento e amadurecimento como líder.
SUGESTÕES DEQUADROS/DESTAQUES PARA A REPORTAGEM:
Lideranças gaúchas inspiradoras, conforme Juliano Braga:
Lideranças que são referências no Estado
• Jorge e André Gerdau (grupo Gerdau)
• Daniel Randon (Randon)
• José Galló (Renner)
• Maria de Lourdes Anselmi (Malharia Anselmi)
Novas lideranças
• Simone Gasperin (Atitus Educação)
• Greta Paz (Eyxo)
• Henry Costa (Renner)
• Pedro Valério (Instituto Caldeira)
• Arthur Dambroz (Dotb)
Seis fatores para a profissionalização dos C-Levels:
- Especialização e experiência
- Foco e estratégia
- Governança corporativa
- Adaptação
- Cultura e integração
- Retorno sobre o investimento
Saiba as 5características da liderança do futuro
- Mindset digital
- Visão sistêmica
- Postura de aprendiz
- Inteligência emocional e relacional
- Alta performance e realização
Necessidades fundamentais para um C-level que pretende se atualizar:
Inteligência Relacional
Melhorar as habilidades socioemocionais, de comunicação e influência das lideranças acelera a criação de um ambiente de segurança psicológica, fomentando uma cultura de inovação centrada nas pessoas e a utilização de tecnologias como ferramentas de suporte para todos, o que aumenta as possibilidades de gestão, conexões e negócios.
Postura de Aprendiz
Uma organização sustentável é aquela que tem maior capacidade de aprender consigo mesma e se reinventar de forma constante. Manter os líderes abertos a novas ideias, perspectivas e experiências permite uma maior adaptação às mudanças e tomadas de decisões mais eficientes e eficazes.
Mindset Digital
O modelo mental digital extrapola as tendências tecnológicas somente, pois para acompanhar os movimentos de um mundo hiperconectado, não linear e imprevisível, é fundamental mudar a forma de pensar, agir e operar no dia a dia.
Visão Sistêmica
Desenvolver a visão sistêmica é importante para a liderança porque permite às pessoas compreenderem a organização como um todo, sua cultura e a inter-relação de suas diferentes partes e seus impactos externos nas pessoas e nos mercados.
Alta Performance e Desempenho
Agir e buscar um alto desempenho no dia a dia são ações chave para uma liderança fazer a gestão de seus times e trabalhar buscando melhores resultados, para gerar valor para a organização e para todo o ecossistema impactado por produtos e serviços da empresa.
Quem é Juliano Braga
Juliano Braga é formado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e em Administração de Empresas pela Escola Superior de Administração, Direito e Economia. O executivo possui MBA em Alta Liderança Executiva com foco em gestão de instituições de ensino superior pela Business School São Paulo e MBA em Gestão Comercial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). De forma complementar, tem curso de Marketing e Sales pelo Lincoln College em Londres. Profissionalmente, tem experiência em vendas, marketing, gestão e expansão de negócios. Já atuou na área financeira em setores como de serviços, varejo, tecnologia e educação. Trabalhou, ainda, em empresas como Dell, Coca-Cola, Laureate e também empreendeu: foi sócio-administrador de um grupo de seis franquias da Subway no Rio Grande do Sul. Está no segmento de Educação desde 2009, mesmo no período quando estava empreendendo – nesse período, fez trabalhos de consultoria na área. Sua trajetória pode ser dividida em dois momentos. O primeiro segmento é mais tradicional, na Laureate - sete anos e meio, onde teve a oportunidade de rodar o Brasil e conhecer realidades de mercados distintos, sempre liderando equipes de relacionamento, marketing, planejamento de vendas e comercial. O segundo, é desde 2020 em Startups - uma Edtech, +A Educação, e outra Fintech, o PRAVALER.
Referência há 37 anos no Rio Grande do Sul em educação executiva para líderes, o CNEX já qualificou mais de 8 mil executivos de ponta em todos os setores. Até então atuando apenas no formato B2B, em programasabertos ou sob demanda, a instituição foi adquirida pela Atitus Educação em novembro de 2022 e abriu as portas ao mercado B2C neste ano. Os planos da empresa para2023 são ampliar o portfólio e os negócios para outros estados, como Paraná e Santa Catarina.
Situada dentro do Instituto Caldeira, principal hub de inovação de Porto Alegre, a empresa já formou nomes como Daniel Randon, CEO da Randon, e James Bellini, CEO da Marcopolo. A expectativa é de que mais de mil líderes participem de algum Programa do CNEX até dezembro de 2023.