Regulamentação da AI: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação?
Por Edmee Moreira, CEO e cofundador do IFTL
A inteligência artificial (IA) está transformando o mundo dos negócios. De startups a grandes corporações, está cada vez mais claro que, quem quiser se manter competitivo, precisa tornar a sua empresa "AI-First". Com esse cenário, a regulamentação se tornou um tema de extrema importância, surgindo a necessidade de discutirmos como aproveitar a IA para obter ganhos financeiros com soluções inovadores, sem perder de vista os limites éticos.
Muitos são os dados que defendem a facilidade que a IA proporciona, como a pesquisa realizada pela McKinsey apontando que empresas que adotam IA podem aumentar sua produtividade em até 40%, ou as estimativas que, até 2027, o mercado de IA alcançará US$407 bilhões.
Com toda essa oportunidade de crescimento e evolução, existem as preocupações jurídicas e corporativas sobre até onde ir e quais são as seguranças garantidas com essas novidades.
IA no mundo jurídico
Legalmente, o Parlamento Europeu aprovou um regulamento que traz regras gerais sobre o uso de IA na União Europeia, destacando os benefícios, como otimização de operações em saúde, educação, agricultura e segurança alimentar, ao mesmo tempo que impõe restrições a sistemas que possam manipular comportamentos ou promover discriminação.
Em contrapartida, nos Estados Unidos a cultura é mais voltada para a inovação e liberdade econômica e não existe uma legislação federal sobre IA. Nesse caso, as regulamentações são setoriais e tem a resistência por parte do setor tecnológico, já que essas empresas consideram a intervenção um impedimento à inovação. O desafio é entender como garantir segurança a IA sem sufocar o avanço técnico.
No Brasil
Aqui, a discussão sobre a regulamentação da IA ainda está em fase de criação, com a tramitação de um projeto de lei nas câmaras legislativas que estabelece diretrizes para o uso da tecnologia. Na parte de negócios do Brasil, os empreendedores estão se preparando para essa mudança, e a votação do projeto é esperada nas próximas semanas. O Brasil tem um grande potencial para se beneficiar dessa tecnologia, especialmente em setores como saúde, educação e tecnologia.
O movimento principal no país vem de startups e empresas que entendem o impacto da IA nos resultados e não querem ser deixadas para trás. A mobilização vem para implementar a IA em modelos de negócios, buscando não só aproveitar as vantagens competitivas, mas também contribuir para um debate mais amplo sobre a utilidade dessa tecnologia. Um marco legal claro pode não apenas facilitar a adoção de tecnologias novas, mas também ajudá-las a competir em nível global.
Porém, a responsabilidade pela estruturação de uma regulamentação que garanta o uso ético da tecnologia não cai somente sobre a área política: as empresas, especialistas e a sociedade como um todo, precisam entender e discutir os limites. Muitos têm defendido que, para o Brasil avançar nessa nova era, é necessário um diálogo aberto entre governos, empresas e sociedade civil. Somente através de uma colaboração efetiva será possível criar um ambiente que não apenas promova a inovação, mas também respeite os direitos fundamentais e a diversidade da população brasileira.
É nosso papel como empreendedores orientar as ações legais para que se enquadrem na realidade do mercado, sem perder de vista o espaço necessário para inovação. Para criar novas regras, as partes envolvidas precisam ser ouvidas e o resultado deve ser colaborativo. Portanto, incluir nas discussões especialistas com experiência é fundamental para proporcionar o crescimento sustentável da IA, garantindo os benefícios da tecnologia, sem sacrificar a ética e transparência. A regulamentação deve ser um pilar que apoia a inovação, equilibrando a proteção e o avanço tecnológico, proporcionando que o Brasil seja um líder em inteligência artificial nos próximos anos.
Como estamos implementando AI no IFTL de forma segura e dentro dos limites éticos
Iniciamos 2024 com o objetivo de nos tornarmos uma empresa AI-First, além de ajudarmos outros negócios com o mesmo desafio. Para isso, já tiramos do papel uma série de projetos de Inteligência Artificial.
Entre eles está um agente especializado em SDR que é responsável por qualificar leads, agendar reuniões e enviar lembretes pré-agendamento para diminuir a taxa de no-show do time de Vendas. Para o treinamento desse bot, foi necessária a aplicação de guardrails, que nada mais são do que direcionamentos que indicam o que é ou não permitido como resposta ao cliente a fim de evitar situações de risco ou inapropriadas. Além disso, também optamos por plataformas de integração no-code, o que garante maior personalização, controle total e privacidade de dados.
Para implementar a IA
Quem deseja abraçar essa tecnologia no negócio, algumas dicas podem facilitar a implementação da IA:
Ter objetivos claros: antes de implementar a IA, a empresa precisa entender suas metas. Se o objetivo é melhorar a eficiência operacional, aumentar a satisfação do cliente ou inovar produtos, ter um foco claro é o que vai ajudar no processo.
Avaliar os dados disponíveis: a IA depende fortemente de dados. É preciso garantir que estão coletando, armazenando e gerenciando dados de maneira efetiva.
Começar pequeno: o primeiro projeto não precisa ser massivo. Inicie com pequenos projetos-piloto para testar a tecnologia e entender melhor como ela pode ser integrada. Esses testes ajudarão a diminuir os riscos e ajustar as estratégias antes de uma ação maior.
Envolver a equipe: a IA tem o potencial de mudar a maneira como as equipes trabalham. É importante envolver os colaboradores, garantindo que eles entendam a tecnologia e seu propósito. Isso vai criar um ambiente onde a IA é vista como uma aliada, não como uma ameaça.
Investir em capacitação: capacitar a equipe para lidar com IA é um passo necessário. Oferecer treinamento sobre como utilizar a IA e compreender os resultados, como funciona a engenharia e qual a lógica das ferramentas vai ajudar a alcançar o máximo dos benefícios que a tecnologia pode entregar.
O que vem pela frente?
O futuro da regulamentação da IA é um tema que exige um compromisso coletivo. É preciso entender que essa tecnologia traz benefícios significativos, principalmente quanto à inovação e tecnologia e, ainda sim, observar os compromissos e comportamentos legais para que a evolução do tema seja saudável e confiável.
Com a sociedade cada vez mais desenvolvida tecnologicamente, não apostar e melhorar opções que favorecem a economia de tempo e aumento de competitividade é retroceder na esteira de crescimento, mas incluir os limites que precisam existir e quais consequências enfrentadas é o que vai proporcionar o máximo proveito da IA, social e corporativamente.
Em última análise, a regulamentação será uma ferramenta essencial para preservar os valores humanos em uma era de crescente automação, garantindo que os avanços na inteligência artificial sejam realizados com responsabilidade, transparência e respeito jurídico e pessoal.
*Edmee Moreira é formado em Engenharia de Computação e atua como empreendedor serial. Direciona sua carreira para a criação de novos negócios e desenvolveu sua primeira startup em 2015, foi acelerado pela Plug and Play, uma das melhores aceleradoras do Vale do Silício. Em 2018 ajudou na fundação da LinkApi, onde atuou como Chief Business Officer, liderando os times de sales e customer success até a aquisição realizada pela Semantix em uma transação que ultrapassou R$ 100 milhões. Cofundador do Instituto de Formação em Tecnologia e Liderança (IFTL), primeira e maior edtech brasileira voltada para o desenvolvimento de líderes em Estratégia, Tecnologia e Inteligência Artificial. Atualmente está como CEO da empresa e também é palestrante, advisor e investidor anjo em startups.