Rio Grande do Sul se destaca por ser o terceiro maior produtor de calçados do mundo
A região exporta principalmente para as Américas e para a Europa

Com a chegada dos imigrantes no sul do país, a mão de obra artesanal passou a ser uma das principais fontes de renda para muitas famílias no Rio Grande do Sul. A região se destaca pela produção de inúmeros segmentos, como artigos em couro, produtos em madeira e indústria alimentícia. Partindo desse ponto, as produções em couro acabaram por potencializar o setor calçadista na região.
Segundo o artigo ‘Entre o local e o nacional: história e memória dos pioneiros da exportação Calçadista do Vale do Sinos (RS)’, publicado em 2013, o setor tem grande relevância não só para a região, mas para a economia de todo o país. Apesar de ser forte no Rio Grande do Sul desde o final do século XIX, o mercado só ganhou força de exportação em 1960 para Europa e Estados Unidos.
Conforme dados da Connet Americas, primeira rede social empresarial das Américas que promove o comércio e o investimento internacional, o Rio Grande do Sul é destaque na produção e exportação de calçados, sendo o terceiro maior produtor do mundo. O Brasil produziu cerca de 818,1 milhões de pares em 2011 com exportações principalmente para países nas Américas e Europa, como Estados Unidos, Argentina, Reino Unido, Itália, França e Paraguai.
Em 1968, ocorreu a primeira exportação de grande porte de sandálias Franciscano, da marca Strassburguer, enviada para os Estados Unidos, enquanto a produção nacional já produzia cerca de 80 milhões de pares por ano. Conforme o Sindicato dos Sapateiros de Parobé, o mercado de calçados passou por transformações ao longo dos anos, melhorando ainda mais o padrão de qualidade dos produtos oferecidos.
A prova de que o mercado calçadista no Estado vem de muitos anos, é que em meados dos anos 60, o Grupo Camuto, empresa que compõe o império calçadista nos EUA, exportava calçados da cidade de Novo Hamburgo. A empresa produzia e exportava calçados para inúmeras marcas famosas no mundo, incluindo o modelo de sapatilhas “Reva” da grife Tory Burch, criada pela estilista e empresária Tory Robinson, segundo o livro ‘Dominando a Passarela' de Teri Agins.

Podemos citar inúmeros exemplos de grandes marcas de sapatos brasileiras que nasceram no sul do país, como é o caso da Carrano, que pertence a Henrich & Cia. LTDA. Com início na pequena cidade de Dois Irmãos, a Henrich foi criada em 1954, quando três sócios decidiram abrir uma pequena fábrica de calçados no município.
A empresa se destacou pela qualidade dos produtos, estando presente atualmente no mercado nacional e internacional. Hoje, o negócio possui mais de 17.000 m² de área produtiva, com quase 1500 funcionários que produzem cerca de 10 mil pares por dia. A marca possui 13 linhas de produção presentes na Bahia e no Rio Grande do Sul.

Um dos objetivos da Carrano era ser desejada entre as consumidoras mais exigentes do mundo, marca que carrega o espírito inovador da Henrich, com foco no mercado premium multimarca. Com 500 pontos de venda espalhados pelo país, a marca é referência em design de luxo e qualidade. Segundo o gerente comercial da empresa, João Henrich, o faturamento anual da empresa é de cerca de 280 milhões. A Henrich fez parte da história e do desenvolvimento econômico de vários municípios da região.
“A empresa conta com funcionários que nasceram e cresceram inseridos nessa cultura, construindo assim uma expertise natural para a fabricação de calçados. Alguns colaboradores chegam a completar 20, 30 anos de empresa, agregando um know how único aos processos, de quem conhece as etapas como a palma da mão. Valorizar essa competência e agregá-la a cada produto fabricado é uma de nossas principais missões”, finaliza João.
A Calçados Beira Rio S.A, tem vantagens importantes, se comparado com os demais polos calçadistas do país. Com oito marcas (Beira Rio Conforto, Moleca, Vizzano, Molekinha, Molekinho, Modare Ultraconforto, Actvitta e BR Sport), a empresa abrange todos os públicos, o que determina a relevância e a presença comercial. Em 2022, a indústria já chegou a produzir 828,1 milhões de pares, segundo relatório setorial emitido pela Abicalçados, e pretende chegar a 100 milhões de pares produzidos até o final do ano. As produções da Calçados Beira Rio S.A correspondem a 12% do total de produção.
O negócio nasceu na pequena cidade de Igrejinha, no dia 20 de junho de 1975, com apenas 18 funcionários, produzindo cerca de 150 pares por dia. A determinação é o que marca o sucesso dos negócios. No início dos anos 80, a empresa se inseriu na indústria da moda investindo em atendimento ao cliente e oferecendo produtos de alta qualidade para as melhores vitrines do Brasil e do mundo. Todas as 11 fábricas, localizadas no Rio Grande do Sul, contam com 400 ateliês de prestação de serviços e 564 fornecedores, sendo 32 internacionais.
A empresa ainda atua no desenvolvimento das comunidades onde as fábricas estão localizadas, contando com cerca de 9.923 colaboradores diretos, com 64% dos cargos ocupados por mulheres, e aproximadamente 25 mil trabalhadores indiretos. Os produtos da Calçados Beira Rio S.A são comercializados em 97 países espalhados pelo mundo.

Segundo Maribel Silva, diretora comercial e marketing da empresa, chegou a vez do Brasil ser o país do presente e do futuro para o mercado. A Beira Rio inaugurou recentemente um showroom em Dubai, Emirados Árabes, e pretende inaugurar também em Lisboa, Portugal.
“Em 2023, estrearemos em dois novos segmentos de produtos/categorias. A entrada do eyewear (óculos de sol) no mix da marca Vizzano e, na marca Actvitta, a linha de body motion (vestuário). Não são calçados, mas são itens que dialogam com a nossa capilaridade, estabelecida no varejo de moda e, ao mesmo tempo, abrirão novas portas, formatos e horizontes comerciais à Calçados Beira Rio S.A”, conta Maribel.
Ela afirma ainda que, no campo industrial, a empresa já transformou mais de 24 mil toneladas de resíduos, reduzindo a emissão de 37 mil toneladas de gás efeito estufa e economizando 181 milhões de litros de água. As tecnologias do design entregam conforto, leveza, flexibilidade, antimicrobiana, respirabilidade, saúde dos pés e sustentabilidade, visto que diversas peças são produzidas com matéria-prima reciclada.
A Calçados Beira Rio S.A projeta um faturamento de 5,5 bilhões de reais para 2023, desenvolvendo um mix tecnológico aplicado tanto na estrutura como no portfólio da empresa. A prática sustentável em empresas também é destacada com relevância para o sucesso dos negócios, além da transformação digital para facilitar os processos dentro do universo corporativo e para clientes.
De gigantes da indústria para a fabricação artesanal e exclusiva
Quando o assunto é qualidade, a Vera Roloff se destaca no mercado calçadista na Serra Gaúcha. A empresa, genuinamente gramadense, surgiu do sonho de dois irmãos, Vera e Adriano Roloff. A dupla herdou o talento do avô, Alfredo Sorgetz, que também trabalhava com a produção de calçados em seu atelier, com atendimento personalizado.
A dupla uniu o bom gosto e o talento para produzir peças de alto padrão, em couro tradicional e couro de origem exótica. As produções da Vera Rollof são para mulheres com personalidade forte e conectadas com o mundo da moda. A empresa aposta em materiais nobres com detalhes que trazem a ideia do alto luxo.
De acordo com Vera, a meta da empresa é fazer com que as clientes do negócio se sintam incríveis, levando uma experiência positiva e fazendo parte da história da Vera Roloff. “Trabalhamos com criação, desenvolvimento e produção de calçados. A satisfação das nossas clientes é medida a partir do retorno das mesmas, que amam nossos produtos. Nos preocupamos muito com o pós-venda, para que elas se sintam únicas e exclusivas pela marca”, conclui Vera.

O que o mercado pode esperar nos próximos meses?
Segundo uma matéria publicada pela GZH, as exportações no setor calçadista do Rio Grande do Sul cresceram 76% este ano, atingindo o maior valor em onze anos, e que os efeitos da guerra da Ucrânia geram incertezas no setor, apesar do crescimento. Dentro do Brasil, o cenário também promete uma certa instabilidade devido a inflação e a alta de juros, porém, é importante manter a produtividade e se preparar para um futuro de mercado positivo.