Tecnologia impulsiona a cafeicultura no Brasil
O país ocupa o primeiro lugar no ranking de maior produtor no mundo

O Brasil é destaque internacional na produção de café, sendo o maior produtor e exportador para o mundo inteiro e à frente de países localizados em parte da América do Sul, América Central, África e Ásia, segundo a Organização Internacional do Café. Essa história já dura cerca de 150 anos e teve início no século XVIII, quando as primeiras mudas foram plantadas no Pará, em 1727.
Francisco de Melo Palheta, um militar luso-brasileiro, estava no Brasil a serviço da coroa portuguesa e foi a figura responsável por trazer e plantar as primeiras sementes de café no norte do país. O solo e o clima da região favoreceram a produção a se expandir, dando início a cafeicultura no país. Em outro conteúdo publicado pela ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café), os estados com maior representatividade na produção de café são: Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Rondônia e Bahia.
O avanço tecnológico de ferramentas e técnicas de produção, com a indústria do café acompanharam a expansão da tecnologia em diferentes setores. Esse avanço afeta diretamente nas maneiras de produção e comercialização do produto, que foram se modernizando e tornando os processos mais ágeis, eficientes e qualificados. Outro ponto importante é a influência que a indústria tem sobre os consumidores.
A ABIC divulgou um estudo que apresenta o índice de consumo do café entre novembro de 2019 e outubro de 2020. Os dados mostram que o país consumiu 21.004.430 sacas/ano. O produto se destaca também na segunda posição como a segunda bebida mais consumida no Brasil, ficando atrás somente da água. O sucesso do café brasileiro é tão grande que existem até músicas dedicadas ao produto, como The Coffee Song, do grande músico e artista Frank Sinatra.
Seguindo essa ideia de sucesso, empresas e startups têm buscado inovar no setor, oferecendo produtos e serviços de qualidade para os apaixonados pelo produto. Este é o caso da CertifiCafé, startup que trabalha com a certificação de pequenos produtores de café. O negócio teve início após Mauro Júnior, CEO e fundador da startup, perceber a quantidade de produtores de café que não possuíam certificação, devido ao alto custo e burocracia para regularizar os serviços de produção.
Após a inscrição no programa Avança Café, da Universidade Federal de Viçosa em parceria com a EMBRAPA, Mauro viu a importância de investir no segmento, que servia para curar as dores do cafeicultor. Ele observou essa necessidade de certificação a partir de uma experiência pessoal, trabalhando na roça com os pais, pequenos trabalhadores rurais em uma lavoura de café, na cidade de Manhuaçu, Minas Gerais.
Segundo Mauro, a certificação garante a qualidade dos processos produtivos do grão aliada também à sustentabilidade do produto. O empresário comenta ainda que há um desequilíbrio entre o Brasil ser o maior produtor e exportador de café do mundo, e ter menos de um por cento das fazendas com certificação. No último dia 6 de dezembro de 2022, a União Europeia concordou com uma nova lei que impede que as empresas da UE comprem café e outros produtos que sejam ligados ao desmatamento em todo o mundo, o que reforça ainda mais a importância da certificação.
A CertifiCafé é organizada por meio de três etapas de fiscalização e uma plataforma que oferece praticidade para o produtor organizar os lançamentos e informações da propriedade. A primeira etapa é o diagnóstico e a análise de solo que gera um plano de ação para o produtor. A segunda etapa é um aplicativo que organiza as informações e documentações do jeito que a certificação exige. A terceira e última etapa é a geração de relatórios de maneira automática, exatamente do jeito que o produtor precisa para apresentar na auditoria.

"Enquanto um produtor de maneira convencional leva um ano para conseguir certificar, com o aplicativo da CertifiCafé em no máximo seis meses ele já estará apto. Com o aplicativo, ele economiza 60% do investimento que faria se fosse feito por conta. O aplicativo consegue também atender com os consultores de certificação e as cooperativas de maneira que eles consigam aumentar a base de produtores certificados”, fala Mauro.
Para Mauro, a tecnologia é uma grande aliada da indústria cafeeira, proporcionando o aumento da lucratividade de todos que fazem parte da cadeia produtiva do café e da qualidade do produto. A tecnologia garante uma produção mais ágil com menos recursos para o produtor e transparência para o consumidor final, desde a plantação até a xícara de café comprada na cafeteria ou feita em casa.
Outra startup que investe no setor cafeeiro é a franquia The Coffee, que surgiu em 2018 após uma viagem dos fundadores Alexandre Fertonani, Carlos Fertonani e Luis Fertonani, para o Japão. Com inspiração nas cafeterias japonesas, eles iniciaram as primeiras atividades em Curitiba, no modelo To Go, seguindo a ideia de praticidade para tomar um bom café.
Com um design minimalista e moderno, a equipe buscou inserir tecnologia nas formas de comprar café, criando um modelo inovador para o país, juntando café de qualidade e a inserção de tecnologia. Após oito meses de inauguração da primeira loja da The Coffee, a equipe abriu uma nova loja também em Curitiba, dando início ao modelo de franquias.

Em constante crescimento, a startup já expandiu com lojas em todo país, que permitem que o cliente viva a experiência da marca. A empresa já possui presença em 47 municípios e em países como Espanha, Colômbia, França, Portugal e Peru. Para os clientes, o modelo minimalista chama a atenção e torna o ambiente da cafeteria mais confortável e leve para visita.
Depois da ideia inovadora da cafeteria, a startup passou a desenvolver produtos próprios que levam o nome da marca, como uma linha exclusiva de ecobags, pacotes de café de alta qualidade, tumblers, guarda-chuvas e sachês de cafés coados. A empresa se especializou no assunto para oferecer os melhores grãos para os clientes.
Além dos cafés especiais, a cafeteria também oferece lanches naturais, sem aditivos, corantes e conservantes, ampliando ainda mais a carta de produtos disponíveis na loja. O aplicativo e a plataforma de autoatendimento também passam por constante atualização para otimizar os serviços.
Segundo a relações públicas da The Coffee, Beatriz Galindo, a experiência do cliente é o principal foco da startup.
As ferramentas utilizadas pela empresa visão simplificar a rotina dos consumidores, de forma que crie uma experiência personalizada para o gosto de cada cliente, como por exemplo a escolha de pouco, médio ou muito açúcar ou leite no café. Para Beatriz, a tecnologia gera automação e diminui custos para a empresa, permitindo eliminar intermediários, auxiliar na padronização de processos e aumentar a produtividade.
“As pessoas não consomem tecnologia, mas a tecnologia traz muita eficiência para a produção dos produtos e serviços que as pessoas consomem. Isso vale inclusive para a indústria cafeeira. A tecnologia pode nos aproximar do produtor, nos fazer conhecer o caminho que nosso café percorre, ela auxilia os roasters no processo de desenvolvimento da curva de torra e em muitos outros aspectos do processo”, fala Beatriz.
Beatriz comenta ainda sobre a proporção de consumo de café no Brasil e compara à qualidade dos grãos comercializados no Brasil e os que são exportados. Há alguns anos, o café consumido no Brasil era considerado de baixa qualidade por muitos, mas à medida que as pessoas conhecem mais sobre o produto, os investimentos na qualidade aumentam.
Sobre a franquia estabelecida na cidade de Gramado, Rio Grande do Sul, Beatriz fala que por ser uma cidade com alta movimentação turística e eventos relevantes para o país, é uma ótima chance para desenvolver ainda mais os negócios.
“A presença da The Coffee na cidade é vista não apenas por moradores locais e turistas brasileiros, mas também turistas de todo o mundo, que passam a conhecer a marca, nossos produtos e seus diferenciais”, finaliza Beatriz.
Assim como Mauro, da CertifiCafé, outros empreendedores também passaram por influência familiar no meio rural, como é o caso de Gabriel Barruffini, fundador e CEO da Veroo, que é filho e neto de produtores de café, em São Paulo. Em 2020, a região foi responsável pela produção de 370 mil toneladas do produto, o que representa 39,7% a mais em comparação ao ano anterior.
O Boletim da Agricultura Familiar, publicado Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com dados do Censo Agro de 2017, aponta que 77% dos estabelecimentos agropecuários são considerados como agricultura familiar no Brasil. O artigo mostra ainda que o setor emprega mais de 10 milhões de pessoas, o que representa 67% dos trabalhadores rurais.
Gabriel conta que a sua história com a Veroo nasceu a partir dessa vontade de empreender no setor em que ele estava inserido desde o nascimento. A fundação da startup surgiu para democratizar o acesso a cafés de qualidade em parceria com pequenos e médios produtores que não conseguem chegar ao grande mercado. A startup tem o propósito de conectar o cliente com um produto de qualidade produzido por pequenas lavouras de café, remunerando cerca de 25% a mais que os grandes mercados.

Nascida em Ribeirão Preto, São Paulo, a empresa oferece um canal de assinaturas onde o cliente recebe mensalmente um café exclusivo. A curadoria da empresa viaja pelo Brasil em busca de conexão com produtores rurais, criam uma edição exclusiva de cada produtor e enviam aos assinantes. Para Gabriel, esse processo é uma forma de movimentar a economia dessas fazendas, que não conseguem se inserir com grande êxito no mercado.
Além do envio, os assinantes recebem um material gráfico que conta a história de cada produtor, o processo de plantio e produção, para que a experiência do cliente se torne ainda mais exclusiva e prazerosa. A Veroo trabalha com o conceito de colocar o cliente no centro dos negócios, para que a empresa esteja em constante desenvolvimento a partir dos feedbacks dos assinantes e melhorando a plataforma de acesso à startup.
“A importância da tecnologia para a indústria cafeeira é fundamental para o desenvolvimento cada vez mais sustentável para essa cadeia. Olhar para a tecnologia em todas as etapas da produção do café desde o plantio até o consumidor final. O cliente é mais exigente atualmente”, finaliza Gabriel.