Trabalho ou Diversão: profissionais do mercado de jogos digitais compartilham como buscar o equilíbrio entre a produtividade e lazer no segmento

25/10/23
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Publicado por 
Redação Start

Especialistas afirmam que, além da paixão, trabalhar com games requer uma combinação de amor pela área, oportunidade e treinamento acadêmico

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Produzidos para entreter e divertir seus usuários, os jogos digitais se tornam algo sério quando se trata de mercado de trabalho. Para os profissionais da área, o assunto é ainda mais complexo, envolvendo uma série de processos e criatividade, que apesar de, há algum tempo, ser visto como um passatempo de jovens, vem ganhando cada vez mais espaço à medida que a transformação digital acontece. Falando sobre o mercado e como os profissionais da área podem aliar a rotina corporativa com a diversão por meio dos jogos digitais, especialistas que atuam no setor destacam pontos para equilibrar ambos os lados. 

Cynthya Rodrigues, head comercial LATAM da GMD, Agência Gamer da América Latina, explica que, de fato, nas gerações mais antigas, a escolha da carreira era muitas vezes determinada por fatores externos. Por exemplo, a opinião da família influenciava bastante na escolha, levando muitas pessoas a seguirem carreiras tradicionais, como Direito, Medicina ou Engenharia, mesmo que não fossem sua verdadeira paixão. Segundo ela, escolher seguir uma vocação, como ser artista, era frequentemente considerado marginalizado e, até mesmo, arriscado financeiramente. Hoje em dia, o mercado de trabalho em Jogos é visto de maneira diferente. 

Ela ressalta ainda que muitos profissionais dessa indústria são impulsionados por sua paixão por jogos, mas isso não significa que a paixão seja o único requisito. Cynthya afirma que, além da paixão, trabalhar com games requer uma combinação de amor pela área, oportunidade, e também um sólido treinamento acadêmico. Segundo ela, além de gostar de jogos, é necessário ter excelentes habilidades em comunicação, publicidade, vendas e outras áreas relacionadas. Ela explica ainda que a popularização dos games e a crescente presença da publicidade nesse meio contribuíram para uma compreensão mais ampla do que significa trabalhar com jogos. 

Outro fator que contribui com esse cenário são as premiações de jogos, o aumento do interesse das famílias por essa forma de entretenimento e a entrada de marcas não relacionadas à indústria de jogos, que também ajudaram a desmistificar a ideia de que trabalhar com jogos é apenas um passatempo. Cynthya afirma ainda que, atualmente, as pessoas reconhecem cada vez mais que se trata de uma carreira como qualquer outra, que exige habilidades variadas, além do amor pela área.

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“Quanto à minha avaliação atual do mercado de jogos, eu o vejo como uma indústria em constante crescimento e transformação. Apesar da percepção de que trabalhar com jogos é apenas diversão, a realidade é que a maior parte do meu dia envolve trabalho de escritório, com clientes interessantes e desafiadores. O mercado de jogos está se tornando cada vez mais comum e profissional, afastando-se da marginalização que existia no passado”, comenta.

Aline Silveira, gerente de design de aprendizagem, afirma que o mercado de games ainda é novo e está em ascensão, mas ainda é bastante estigmatizado por ser visto como “brincadeira”. Apesar disso, ela aponta que o segmento possui um alto potencial para ser explorado, muito para se projetar fora do seu nicho e do público que já tem afinidade com o tema. Além disso, a especialista avalia que espaços como a Gramado Summit, conferências que aliam inovação ao cenário de games, são relevantes para ampliar a visibilidade e atrair novos investidores. Outro fator que contribui com esse mercado é a atração por pessoas curiosas, que estão dispostas a aprender e desbravar para alavancar o desenvolvimento que a área pode realizar.

Cynthya compartilha que uma pesquisa realizada pela Homo Ludens Research and Consulting e pelo Brazil Games Export Program "Indústria brasileira de games 2022" mostra que ainda existe uma disparidade significativa entre homens e mulheres que trabalham nesse setor, especialmente em cargos de liderança. Segundo ela, essa disparidade é semelhante ao que se observa em muitas outras indústrias. No entanto, a pesquisa apresenta informações relevantes sobre a composição da força de trabalho na indústria de jogos, embora não forneça insights diretos sobre a satisfação dos profissionais em seu trabalho. 

Diante disso, Aline esclarece que, em um ambiente de trabalho voltado para os jogos digitais, é possível observar na prática essa diferença entre gêneros.

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“O que observo dentre as pessoas que conheço atuando na área é uma diferença grande entre as remunerações de acordo com porte da empresa ou projeto, assim como uma reprodução da diferenciação de gênero observada em outros setores. Aqui cabe ressaltar que o mercado de games para mulheres ainda é restrito e com poucas iniciativas focadas em equidade quando comparado com outras realidades”, comenta Aline.

Para equilibrar a vida pessoal e profissional para que o trabalho nesse mercado não se torne maçante e acabe desestimulando o profissional que atua nesse segmento, Aline acredita que as pessoas devem buscar seus pontos de equilíbrio e a sua fórmula de trabalho. Segundo ela, um fato é que não é porque tem videogame, balanço, snacks e chopp no ambiente de trabalho que estão justificadas jornadas contínuas e extenuantes.

“A oscilação, intercalar as atividades e ter momentos para dar ao corpo e a mente outras fontes de energia, descontração e descanso, assim como boas horas de sono, são cruciais para se manter criativo e saudável, independente da área de atuação”, indica Aline.

Cynthya afirma que, desde quando começou a atuar no mercado de jogos digitais, passou a ter menos tempo para jogar por puro lazer. Ela explica que essa realidade pode se tornar frustrante, mas para ela, se tornou uma questão de equilíbrio e natural. 

“Estou sempre atenta a possíveis parcerias com marcas, a identificação de sites interessantes e a contextos que façam sentido para integrar com meu trabalho. Minha abordagem envolve encontrar oportunidades de publicidade que se encaixem de forma natural nos jogos. Ao mesmo tempo, isso não me sobrecarrega, pois sinto uma satisfação imensa em ser apaixonada por jogos e ter a oportunidade de liderar reuniões de negócios relacionadas a eles. Conseguir combinar meu trabalho com meus interesses pessoais é algo que valorizo muito. Considero isso uma conquista e, na verdade, não me importo com o fato de meu tempo de jogo ter diminuído. Pelo contrário, aprecio a oportunidade de trabalhar no que amo. Portanto, embora minha mente esteja sempre focada em oportunidades, isso não me impede de apreciar minha paixão pelos jogos”, aponta Cynthya.

Ela compartilha ainda que atuar no mercado de jogos é como realizar um sonho de infância, embora seja importante destacar que a trajetória nem sempre foi uma linha reta. Além da paixão pelos jogos, Cynthya explica que cada colega de profissão trilhou seus próprios caminhos acadêmicos, buscou aprimoramentos constantes e desenvolveu habilidades de networking. Para chegar a posições de destaque na indústria de jogos, ela ressalta que foi necessário adquirir conhecimento do mercado corporativo, habilidades de negócios e a capacidade de agregar valor financeiro e estratégico.

“A paixão pelos jogos é essencial, mas é a combinação de habilidades profissionais que verdadeiramente impulsiona o sucesso. Pessoalmente, me sinto incrivelmente feliz e privilegiada por contribuir e fazer a diferença nesse cenário, juntamente com meus colegas de profissão”, pontua.

Já Aline afirma que, no geral, para as mulheres, atuar no mercado de games é uma luta e uma conquista diária, enfrentando preconceitos e discriminações. As mulheres precisam trabalhar o dobro para mostrar que são capazes quando muitas vezes entregam muito mais.

“Há poucas iniciativas focadas em equidade, e o mercado é predominantemente masculino. Enquanto a pesquisa Games Brasil mostra que as mulheres representam 49% das jogadoras no Brasil, apesar disso uma pesquisa do CAGED indica que elas ocupam apenas 12,3% das posições na área de TI, ou seja, ainda há muito espaço a ocupar”, conclui. 

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